22 de junho de 2020

     Uma fábula muito bem gizada, do Dinis José.
     Há muito, muito tempo, vivia num bosque uma raposa chamada Rouge-Éria La Prada d’Albuquerque que, como o seu nome indica, era de uma família muito importante e rica. Rouge-Éria não tinha amigos, passava o tempo ora no conforto da sua bem decorada toca, ora a assaltar o galinheiro da quinta do Tio Manel. Assim era difícil arranjar amigos…
     – Um dia aquela raposa vai ver... – dizia o Tio Manel indignado, de cada vez que via o seu galinheiro ser atacado. 
     Ora a nossa raposinha, apesar de tudo, não era feliz. Passava pelo bosque e via os outros animais a fazer uma coisa a que chamavam “brincar”. Aliás, os esquilos eram especialistas nisso: passavam o tempo a saltitar de árvore em árvore, a apanhar nozes para o seu sustento, mas também se divertiam,e era isso que intrigava a nossa Rouge-Éria.
     – Como assim, eles riem e divertem-se? – pensava ela – Tenho muito dinheiro, posso comprar tudo o que me apetecer, incluindo felicidade.
     E foi ao quiosque do bosque e pediu:
     – Quero 1 litro de felicidade, tenho sede de ser feliz! Pago o que for preciso! – disse a raposinha, decidida, à coruja Sabiá, que era muito sábia e tentava sempre ajudar quem precisava.
     – Para ser feliz tens de arranjar amigos! – disse a coruja Sabiá – Pensa nisso, não passes tanto tempo sozinha e lembra-te de que o dinheiro não compra tudo. 
     A raposa saíu dali muito pensativa e, de tão distraída que ia, nem reparou na armadilha que o Tio Manel lhe tinha preparado e … Zás Catrapaz… aí estava ela atada por cordas dos pés à cabeça.
     – Socorro! Socorro! Ajudem-me! – gritava ela aflita – E agora quem me há de salvar, se não tenho amigos? É o meu fim, que triste história a minha…
     Lá do alto de uma nogueira, o Esquilo Happy-Jump ouvia as lamúrias da raposa e pensava:
     – Hum… o que faço eu agora? Deixo-a para ali presa, àquela arrogante, mal disposta e de nariz empinado… ou vou ajudá-la a soltar-se?
     E, num pulo rápido, o esquilo pôs-se ao pé da raposa e disse:
     – Olá, vossa excelência… Como tem passado?
  – Ora esquilo, ajuda-me, por favor! Eu prometo recompensar-te com uma grande quantidade de dinheiro! – garantiu a raposa.
     No meio de uma gargalhada, o esquilo disse:
   – Ah ah ah!! Dinheiro… para quê, tenho comida, tenho uma família e muitos amigos, não preciso do teu dinheiro! Mas vou ajudar-te na mesma e DE GRAÇA!
     Roendo as cordas que prendiam a raposa, rapidamente a libertou e avisou-a:
     – Acho que devias ser mais humilde, ligas demasiado aos bens materiais! Olha que a vida é muito mais do que isso! Sabes, amanhã vai haver um grande convívio entre os animais da floresta. Aparece… vais gostar… entre jogos, atividades e lanche partilhado, há montes de diversão para nós.
     Rouge-Éria estava de “queixo caído”.
     – A sério?! – pensava ela – Eu nunca fiz nada de bom por este esquilo e, de repente, ele salva-me a vida, não aceita a minha recompensa e ainda me convida para uma festa?
     Entretanto, o Esquilo Happy-Jump, ao aperceber-se da hesitação da raposa, insistiu:
     – Pensa bem! Quando é que poderás arranjar outra oportunidade destas? O companheirismo, o afeto e a felicidade são aspetos fundamentais para a vida de todos os seres, mas não haverá fortuna que os possa comprar.
     – O que me interessa isso?… tenho dinheiro… posso ir para onde me apetecer e comprar o que eu quiser…
     – É verdade … mas fazes isso tudo sozinha e infeliz! – recordou-lhe o esquilo – Não achas que talvez gostasses de te divertir e conviver com outros animais? Alegria não nos faltará … alegrias partilhadas são alegrias multiplicadas! Acredita … sei do que falo!
     A Rouge-Éria, embora tivesse ficado tocada com as palavras do Esquilo Happy-Jump, procurou mostrar algum desinteresse e retorquiu:
      – Sim … aceito o teu convite, mas ficas já a saber, eu não sei fazer isso a que vocês chamam “brincar” e muito menos “partilhar”!
     Então o esquilo respondeu:
   – Não te preocupe s! Eu ensino-te. Vais ver que não custa nada… nem um único cêntimo – e o esquilo deu uma gargalhada feliz.
     A raposa aprendeu uma grande lição, nem tudo o dinheiro compra!
     Além disso, fez o seu primeiro amigo!


Dinis José Tomás Moreira, 7ºA


20 de junho de 2020

Um texto da Catarina Henriques, acerca d' Os Maias, que já foi também publicado no blogue da Biblioteca.
Pintura de Renoir, Baile no Moulin de la Galette
A ação d’ Os Maias passa-se na segunda metade do século XIX e apresenta-nos a história de três gerações da família Maia. Carlos Eduardo da Maia, um belo homem, física e intelectualmente, é a personagem principal do romance.

Assim sendo, todos os espaços estão relacionados com esta personagem, desde Santa Olávia até Coimbra, a Lisboa, ao seu consultório e a outros locais que frequenta, passando por Sintra e terminando em Paris, onde passa a residir no final da narrativa.

A infância de Carlos decorre em Santa Olávia, um espaço conotado muito positivamente. É o símbolo da vida e o refúgio em momentos difíceis. Já Coimbra é o local dos estudos de Carlos, do seu contacto com as novas ideias filosóficas e científicas, e o símbolo da boémia estudantil e da amizade. Sintra, por sua vez, onde procura a amada, representa a beleza paradisíaca e os encontros amorosos, mais ou menos clandestinos, da alta burguesia da época.

A vida profissional e social de Carlos passa-se em Lisboa. A cidade representa então a idade adulta e o convívio, sendo o palco dos seus amores e da desgraça da sua família. O Ramalhete, a casa onde reside com o avô, representa as expetativas, os sonhos, os sucessos, mas também a catástrofe que precipita a decadência familiar. Por sua vez, o consultório é o símbolo do diletantismo de Carlos e da sua geração. Representa os seus projetos e o posterior falhanço profissional.

É na Toca, uma quinta discreta nos Olivais, que Carlos vive a sua curta história de amor com Maria Eduarda, sendo a sensualidade de ambos simbolizada por este espaço. É também aqui, ao nível da descrição do espaço, que se encontram várias evidências que pressagiam o destino trágico do casal.

Por fim, ao longo de toda a obra, o estrangeiro surge como símbolo de cultura, de requinte e da educação superior de Carlos, mas também como um recurso para fugir aos problemas e complicações. Assim, depois do incesto e da morte do avô, é em Paris que Carlos da Maia se refugia.

Concluindo, podemos afirmar que o espaço é uma categoria central neste romance.



Catarina Henriques, 11ºA

16 de junho de 2020

SONHAR

E voltamos com um poema da Bárbara, que nos lembra a feição ambivalente dos sonhos e nos incentiva a sonhar.


Pintura de Ángeles Santos
Sonhar é uma arte
É das mais bonitas que existe
É o nosso mundo mas à parte
É um lugar onde raramente se fica triste.

A maior parte dos nossos sonhos
São convincentes e reais
E alguns são tão bons
Que nos fazem querer mais.

Por querermos mais
Voltamos a adormecer
Sempre na esperança
De que o sonho volte a aparecer.

Acima referi que os sonhos
São um lugar onde a tristeza é rara
Mas depois vêm os pesadelos
E a nossa cabeça não para.

Os pesadelos vão sempre buscar
O pior que há em todos nós
Vão buscar todos os nossos medos
E s pensamentos de quando estamos sós.

Pensamentos que servem
Para nos entristecer
Ficamos num turbilhão de emoções
Até conseguirmos adormecer.

Pensamos que ao adormecer
Tudo vai melhorar
Mas à medida que dormimos
Vêm os pesadelos para nos atormentar.

Todos temos bons sonhos
E todos temos pesadelos
Devemos aproveitar os dois
Pois não sabemos se voltaremos a tê-los.

Sonhar é uma arte
E ter pesadelos faz parte
Por isso gosto de sonhar, 
Mesmo que nos sonhos, 
Os meus medos tenha de enfrentar.

Bárbara António, 11ºD

12 de junho de 2020

A minha viagem à Turquia

Um testemunho do Diogo Mateus, aluno do 9º H 


Eram 11h20min, de domingo, dia 3 de fevereiro, e eu estava no avião, prestes a descolar rumo à Turquia, onde cheguei às 19h10min de lá, ou seja, às 16h10min de Portugal. A viagem realizou-se no âmbito do projeto «Erasmus + Eco-Friendly Robotics for a Future Green World». 

Às 22h, apanhei outro avião que me levou para Izmir, onde se situa Salihli, região da outra escola participante neste projeto. Nestas duas viagens, tive a oportunidade de ver filmes e de jogar jogos no ecrã do banco da minha frente. Depois de sair do aeroporto, fui de autocarro para o hotel, onde se alojaram todos os professores e alunos (à exceção dos turcos) que participaram no projeto. 

Como passei o primeiro dia em viagens, só no segundo dia é que começaram as atividades. Segunda, quarta e sexta-feira foram dias de visitas turísticas. Visitei várias ruínas romanas, a casa da Virgem Maria, a vila de Şirince (parecida com Óbidos) e as lagoas de sal. Adorei! Era tudo espantoso! A terça e a quinta-feira foram dias dedicados à robótica – aprendemos a programar o "M-bot". Não achei muito difícil, pois no clube de robótica da escola já tinha programado de forma parecida. Mas foi uma boa experiência porque todos os alunos foram divididos em grupos com diferentes nacionalidades, logo, tive de pôr em prática o meu inglês, para conseguir comunicar. 

Todos os dias, antes de ir jantar, desfrutei da piscina interior (estava a 40ºC!) e do SPA do hotel, ambos ótimos! Algumas vezes também me diverti no salão de jogos. Depois de jantar reunia-me a todos os outros para jogar às cartas e conviver, como aconteceu na terça-feira à noite, na "noite cultural", tendo havido uma amostra de coisas típicas dos vários países. 

Mas na quinta-feira à noite foi diferente, pois enquanto jogava às cartas, começou a nevar! Corri, juntamente com todos os outros, para a rua, só para ver a neve! Foi a primeira vez que vi e toquei em neve, excluindo a vez em que ainda era bebé. No dia seguinte, logo de manhã, fui rapidamente lá para fora e comecei a fazer bolas de neve para atirar. A neve era mesmo FRIA! 

No sábado de manhã fui para Istanbul, onde passei o meu último dia de viagem, em visita a monumentos como a Mesquita Azul e a Basílica de Santa Sofia. 

O domingo foi outro dia de viagens de avião, mas isso não mudou nem um pouco a minha opinião sobre a ida à Turquia, continuo a achar que foi uma única e inacreditável viagem! 

Diogo Mateus, 9ºH

24 de maio de 2020

Maria Velho da Costa

Era uma das "Três Marias", autoras de Novas Cartas Portuguesas, livro que, já no final da ditadura do Estado Novo, foi proibido pela censura e desencadeou forte polémica, em Portugal e no estrangeiro também.


Maria Velho da Costa morreu hoje, aos 81 anos. Além de escritora, foi professora de português e de inglês, secretária de Estado da Cultura no governo de Maria de Lourdes Pintasilgo, leitora de português em Londres, adida cultural em Cabo Verde. E presidiu à direção da Associação Portuguesa de Escritores.

Lembramo-la como a grande escritora e a mulher notável que foi, partilhando uma ligação para o Ensina RTP, onde se pode ver um curto filme sobre ela: Maria Velho da Costa - Ensina RTP

18 de maio de 2020

Átron Vitas

O Guilherme volta a surpreender-nos com as suas indagações poéticas e filosóficas, aqui acerca do ciclo vital - do Homem? do Universo?

Nascidos de uma colisão, 
Levaram tempo a evoluir. 
Desenvolveram-se conforme o seu ambiente, 
Multiplicaram-se e voltaram a morrer. 

Entre os seus sistemas complexos, 
Existe aquele que deu a sua imagem. 
Tantas dúvidas já foram levantas, 
Mas o transfigurado relegou o criador. 

A resposta nunca foi tao clara e tão obscura. 
Buracos que absorvem e matam, 
Como neoplasias malignas que devoram corpos. 
Talvez quando estes comerem tudo e o nada, 
O que outrora foi será outra vez. 

Estaremos talvez integrados em alguns deles, 
Ou então sozinhos, vagueando como poeira pelo vazio. 
E neste ciclo andaremos sempre aprisionados, 
Fechados num fundo negro onde a matéria é constantemente.... 

                       reciclada e reciclada. 


                                         Guilherme Pires, 12º E

5 de maio de 2020

O AMOR

Neste Dia Internacional da Língua Portuguesa, publicamos um poema da Bárbara, aluna do 11º D que sente especial alegria em jogar com as palavras e em exprimir-se desta forma. 

Fotografia de Kristoffer Albrecht: Small Apples, 1984

O amor é como o vento,
Por vezes sentimo-lo
E até nos incomoda
Por vezes não o sentimos
E percebemos a falta que ele nos faz
E por vezes quando vem na altura certa
Dá-nos um sentimento de conforto incrível.

Ninguém é demasiado novo ou velho para amar
Pois o amor não é algo que se possa explicar.

Há quem saiba amar
Há quem prefira ser amado
Há quem não queira aceitar o amor
Há quem não o valorize
Há quem não saiba lidar com o sentimento
E há quem não saiba viver sem ele

Mas uma coisa todos têm em comum
Algum amor sentem
E não o conseguem negar mesmo que tentem.

Amar é um dos prazeres mais dolorosos
Que um ser humano pode experimentar
Amar é saber valorizar
Amar é saber cuidar
Amar é saber perdoar
Amar é saber não magoar.

Mas ninguém é perfeito
E por vezes magoamos quem amamos
E até a nós próprios sem querer.

Mas uma coisa
Todos precisamos de saber:
O mais importante amor
é o que temos por nós próprios.

Temos de ser fiéis a nós
E nunca nos sentirmos rebaixados por nenhum amor.
Pois quando o verdadeiro amor chegar
Vamos perceber que valeu a pena esperar.

Bárbara Maia, 11º D

1 de abril de 2020

Catarse

Da Francisca Catita, do 12ºE, um texto de introspeção, anterior à quarentena, mas que acompanha muito bem os estranhos dias que vivemos.
Paul Klee, Flora on sand, 1927


Eu apenas escavava aquela terra como se procurasse o meu sorriso, a minha alegria, a minha razão de viver. As minhas lágrimas regavam a terra já molhada e eu apenas continuava até desistir. Parei por completo, olhando para as minhas mãos castanhas de vários tons. Os rios dos meus olhos tinham secado e eu olhei para cima, para o seu mais azul do que os meus olhos. Abri ao de leve a boca e de lá saiu um pequeno som. Repeti-o cada vez mais alto e mais alto, o som tornou-se num grito, o grito num rugido, o rugido num desespero tão grande que se ouvia ao longe. Libertei-me de todos os males, de todas as memórias e ri. Ri muito. Tanto que o grito se tornou em algo que me fez bem, que me libertou. Parei um pouco e baixei a cabeça. De cara séria e olhos inchados, levantei-me. A terra permaneceu nas minhas mãos e, ao apertá-la, continuei o meu caminho.

Francisca Catita, 12.ºE

8 de fevereiro de 2020

JÁ FUI AO BRASIL

Chegada dos portugueses à Índia (galeria do museu)
Visitas de estudo, a melhor maneira de aprender sem me enfiar em casa a ler um livro, acho... 

No dia 14 de janeiro, quarta-feira, a minha turma, juntamente com o 9ºA, foi ao Porto, numa visita de estudo organizada pela disciplina de Português. Visitámos o “World of Discoveries”, um museu interativo dedicado aos Descobrimentos portugueses, que se situa no interior dos armazéns antigos da Real Família Velha, em Miragaia.

Visto de fora, o museu é bem peculiar. Distingue-se muito bem das casas que o rodeiam, tendo uma nau estampada na parede, mas as suas velas, paus e cordas são reais, o que lhe dá um efeito muito mais realista.

Logo que entrámos, fomos recebidos por uma guia que, depois de se apresentar, nos pôs a ver um pequeno vídeo, em que o Infante Dom Henrique – um infante português considerado a figura mais importante do início da era dos Descobrimentos - nos deu uma ideia do que iríamos ver no museu, e nos relatou os pontos mais altos da História do nosso País.

Depois de assistirmos ao vídeo, a guia encaminhou-nos para uma sala com o nome “Intentos e Inventos”, onde observámos a evolução dos meios de transporte que permitiram aos nossos antepassados  descobrir novas terras por via marítima. Ao todo, eram a barca, o barniel, a caravela, a nau e o galeão. Do outro lado da divisão, encontravam-se expostos os vários instrumentos de orientação náutica - o astrolábio, o quadrante, a balestilha e a bússola - dos quais a balestilha me chamou a atenção, já que funciona como se fosse uma arma, mas em vez de ser apontada a uma pessoa, é apontada ao sol.

A segunda sala chama-se sala dos “Mundos ao Mundo” e contém várias curiosidades acerca dos Descobrimentos portugueses: mitos e histórias, como o do Adamastor – aquele  gigante que, em forma de penhasco, ameaçava os marinheiros que tentassem passar o Cabo das Tormentas, mais tarde, chamado Cabo da Boa Esperança, quando, em 1488, Bartolomeu Dias o dobrou – e o Velho do Restelo –aquele velho que é citado n’Os Lusíadas, representando todas as pessoas que estavam contra os Descobrimentos; também arte, como as obras de Luís de Camões; biografias dos navegadores;  pessoas e objetos que contribuiram para os Descobrimentos, através da ciência; um ecrã que nos dava a oportunidade de andar dentro dum barco virtual, vendo cada uma das suas divisões e como se chamavam. Havia ainda  dois globos interativos que nos permitiam saber o que era conhecido da Terra numa determinada data.

De seguida, dirigimo-nos à “Cobertura da Nau”, e aqui vimos onde se guardavam os animais, as especiarias, e onde dormia a tripulação. Não havia camas que chegassem, então os tripulantes dormiam à vez, alguns em pé, com a mão presa a uma corda, ou, em último caso, no chão, chão aquele que estava todo sujo, devido à péssima  higiene. E por falar em higiene, também havia uma corda grossa à qual davam o nome de pincel, que servia, nem mais nem menos, para limpar o traseiro dos tripulantes. Um facto interessante é que havia dois pincéis: um para o comandante da nau, e outro para os restantes marinheiros.

Seguidamente, visitámos o “Estaleiro Naval”, que, na época dos Descobrimentos, aquele mesmo que estava exposto, tinha sido usado para construir  navios e suas peças. Aqui também aprendemos o que era um Padrão Português, utilizado pelos descobridores como uma espécie de bandeira. Onde quer que o erguessem, passava a ser território nosso.

Depois de termos aprendido mais sobre o estaleiro, estávamos prontos para a viagem. Fomos ao porto, entrámos num barco, quatro de cada vez, partindo à descoberta do desconhecido. Saímos de Lisboa, passando pelo Norte de África e, quase chegados a Ceuta, fomos bombardeados. Assustámo-nos, mas o medo não nos impediu de continuar viagem nem de conquistar Ceuta! Seguimos em frente, chegando ao Mar Tenebroso, onde várias tempestades nos tentaram destroçar, mas, com a nossa coragem e determinação, não deixámos que isso acontecesse Ainda faltava o mais difícil, passar o Adamastor, que até então não nos deixara dobrar o Cabo das Tormentas. Não foi fácil, mas chegou uma altura em que ele cedeu. Conseguimos! O caminho marítimo para a Índia estava prestes a ser encontrado! Passando pela África Negra e por florestas tropicais, chegámos à Índia, de onde trouxemos imensas especiarias. Continuámos viagem, até Timor e à China. Tudo tinha um cheiro diferente, literalmente. Passámos por Macau e pelo Japão, até que, por fim, avistámos o Brasil que, tendo sido colonizado por nós, ainda hoje tem a nossa linda língua, o português.

Acabada a viagem, saímos do barco, felicíssimos. Não é todos os dias que conquistamos o mundo, pois não? Pelo menos agora posso dizer que já fui ao Brasil. Dirigimo-nos então  à loja de lembranças, onde dissemos adeus à grande tarde que acabáramos de passar.

A meu ver, nesta visita não só aprendi mais sobre o passado do nosso pequeno grande país, como me diverti à grande, "entrando na pele" dos nossos antepassados, que partiram à descoberta sem saber se o mundo tinha continuação, sem sequer saber se voltariam  vivos. Esses sim, serão sempre chamados heróis, não só pelas terras que conquistaram, mas também pela coragem, audácia e fé que os levaram a embarcar naquela grande aventura, mudando completamente a nossa maneira de ver o mundo, o que provou que, mesmo sendo Portugal um país pequeno, pode realizar atos do tamanho do mundo! Isto sim, aprendi sem me enfiar em casa a ler um livro.

Sofia Saturnino, 9ºB

30 de janeiro de 2020

Asas coloridas

Falávamos, a propósito da poesia de Pessoa, do poder curativo da escrita. E a Madalena, aluna do 12.º ano, que gosta de escrever, disse-me que era sobretudo a pintura que lhe oferecia essa possibilidade. Fiquei curiosa: havia a escrita; também a pintura; e é uma aluna (muito boa aluna) do Curso de Ciências. 

Pedi-lhe que nos mostrasse. Aqui ficam três quadros, pintados a acrílico, da Madalena Almeida, aluna do 12.º B, para mostrar que a beleza e a criatividade nos convocam por muitas formas. 





1 de janeiro de 2020

RECEITA DE ANO NOVO

pintura de Reza Hedayat, artista iraniano contemporâneo

(...)
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
Cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

16 de novembro de 2019

Rodeado de mortos

Um poema de indagação, suscitado a este nosso aluno pela sua leitura de Fernando Pessoa.
pintura de Safwan Dahoul, sem título


Sem alma, sem sentimentos,
Pobres seres que andam no espaço.
Sem qualquer tipo de intelecto,
Apenas corpos que se movem ao meu redor.

Vivos ou mortos, não sei,
Qualquer que seja o seu estado, ainda é um enigma.
Inconsciência profunda que habita cada um deles,
Abismo infinito com medo de conhecer o desconhecido.

Uns andam sobre vozes,
Outros enganados pelas mesmas.
Todos perdidos e fruto do mesmo ciclo,
Caminhando para um destino ignoto.

Talvez o problema seja eu,
Fruto de uma deficiência natural.
Amaldiçoado pelo universo,
Destinado a viver sem paz.

É triste nascer assim,
Parasita, rejeitado do mesmo.
Mas nesta condição terei de viver,
Preso a esta mente autodestrutiva.

Guilherme, 12º C

23 de outubro de 2019

Uma porta, será!?

Iniciamos a vitrina deste ano com um texto divertido e muito bem escrito. Leiam, que vale a pena!
Pintura de Joan Mitchell
Existem muitos tipos de portas: portas de correr, portas de giro, portas pivotantes, - sim, este nome é muito estranho, mas a internet diz que são portas elegantes e modernas, que giram em torno de um eixo vertical – portas de vidro, portas às riscas amarelas e às bolinhas azuis, … e a porta da minha escola. Uma porta que me faz fazer perguntas às quais não consigo responder, pois sempre que passo por ela tenho receio de não sair de lá viva. Mas nem sempre foi assim.

Antes, naquele preciso lugar, encontrava-se uma porta manual, coberta de alumínio, dividida naquelas três janelas de vidro, que faziam com que cada pedaço de luz – do primeiro ao último raio de sol do dia – entrasse pela escola dentro, iluminando-a todo o dia. Era aberta por uma auxiliar, que, pressionada pelos alunos que não queriam andar mais um bocadinho e entrar pela porta do outro lado, premia a maçaneta preta, abrindo-a. 

Naquela altura, era tudo tão simples. Apenas abriam a porta às oito da manhã e fechavam-na às sete da tarde, mas, de um dia para o outro, sem mais nem menos, uma porta automática ocupou o seu lugar. Uma porta que só abre quando qualquer aluno da escola passa o seu cartão pelo sensor ao seu lado. Nos primeiros dias, achei que era boa a ideia de mudarmos de porta, já que a outra estava a ficar velha, mas esse sentimento não durou muito tempo.

O problema começa quando a porta, já aberta por um aluno qualquer, permanece na mesma posição enquanto eu quero por ela passar. Nesse mesmo instante, cruzam-se os nossos olhares. – O que parece absurdo, já que ela é uma porta, e as portas não têm olhos, mas se estivessem no meu lugar, iriam perceber – Deixei o cartão na sala e quero atravessar a porta sem pedir a outra pessoa para a abrir por mim, e ela não facilita! Estou quase a conseguir e, não sei como raio acontece, mas, no momento exato em que estou entre a escola e a rua, ela fecha-se. Fico presa. Não me aleijo, pois, após bater em mim, aquela pequena assassina faz ricochete e volta para o seu devido lugar. O verdadeiro problema é a vergonha que apanho à frente de todos aqueles meus colegas que me veem naquele estado em que, quase tendo sido esmagada, continuo a andar para a frente, fingindo que nada aconteceu.

Como veem, aquela porta tem alguma coisa a esconder. Uma coisa sombria que está por detrás daqueles seus dois grandes vidros, envolvidos em alumínio que são estranhamente perfeitos, se calhar perfeitos de mais para ser verdade. Não sei o que é, mas tenho algumas teorias que poderão ser verdadeiras.

A primeira opção é que ela foi enviada pelo governo para que, quando me tocasse, com uma espécie de magnetismo, me tirasse o dinheiro que tenho no bolso, o que pode ser verdade, já que o governo faz de tudo para nos roubar, nem que sejam os mais pequenos trocos. Esta teoria também explicaria o facto de nunca me lembrar onde pus o meu dinheiro, ficando baralhada com tudo isso, pensando que sou uma esquecida, o que também é verdade, mas não neste caso. 

Também poderá ser obra da polícia. Uma espécie de detetor de metais que deteta drogas, o que facilitaria imenso o trabalho deles. Assim pensando, quando a porta nos aperta, sente se temos alguma coisa dentro da roupa, descobrindo assim se o aluno possui drogas ou não, e dar àqueles pequenos contrabandistas uma estadia grátis na cadeia, ou numa casa de correção. O que acabaria com todas as minhas questões acerca dos ditos casos impossíveis que os polícias desvendam com sucesso e que me fazem pensar que eles são uma espécie de bruxos, ou algo do género.

Poderia ser um extraterrestre e não uma porta. Um daqueles vindo de Andrómeda ou de outra galáxia com um nome ainda mais estranho que este, que a NASA ousa dizer que não existem, mas mesmo assim acredito que possam ser reais. Eles transformar-se-iam em portas, na esperança de nos apanhar de surpresa, levando-nos para o seu planeta, fazendo de nós reis deles. Ainda bem que nunca lá fiquei presa, ou não estaria aqui. Mas todos os dias imagino como seria ser sua rainha.

Viveria numa grande casa feita de madeira. Eles adorar-me-iam, tentando sempre agradar-me, portanto, guitarras, pianos e trompas não faltariam e olhariam para o mais simples hábito humano (como cortar as unhas) como um ato de proeza e excelência. Teria o meu próprio exército com poderes aos quais ninguém se poderia impor. Seria o ser mais poderoso de toda aquela galáxia, comandando tudo e todos. Saberia todos os segredos da tecnologia, como o teletransporte funciona, as viagens no tempo, ... guardando-os a sete chaves na minha cabeça. Comeria pudim a toda a hora. Pudim ao pequeno-almoço, pudim ao lanche, pudim ao jantar, pudim em todo o lado!

Por outro lado, os extraterrestres podem ter perdido um dos seus e andarem à procura dele na minha escola. Um daqueles verdes, com uns grandes olhos azuis esbugalhados, que se teria mascarado de humano para se confundir connosco e assim (tentar) viver uma vida normal aqui na Terra. E se eu o conhecesse? Poderia ser aquele rapaz que está sempre calado, a quem dirijo a palavra e ele não me passa cartão. Ou poderia ser aquela rapariga que me dá muitos abraços apertados que, na verdade, podem não ser abraços e sim métodos de estrangulamento.

Era capaz de passar mais algumas horas a enumerar coisas que aquela porta poderá ser, mas, pensando bem, pode ser simplesmente uma porta que, sendo diferente da antiga, me deixou com saudades desta, fazendo com que não gostasse dela, ao princípio, e suspeitar dos atos que ela faz como porta, atos com segundas intenções. Como veem, é difícil aceitar as mudanças, mas, com o passar do tempo, as novidades passam só a ser coisas atuais, que se vão introduzindo à medida que o tempo vai passando.

Sofia Saturnino, 9ºB 

24 de junho de 2019

Uma professora



Acorda de manhã cedo
E tenta estar bem-humorada,
Mas nem sempre consegue,
Tem muito trabalho, está cansada!

Muitas vezes no dia-a-dia
Ninguém as quer ouvir,
Mas mesmo assim elas estão
O dia inteiro a sorrir!

Vêm sempre, mas sempre
Muito bem arranjadas,
Quando trabalham é a sério,
Mas também mandam suas piadas!

Eu, sendo aluno,
Nem sempre me porto bem,
Estou sempre na brincadeira
Que paciência ela tem!

Algo mal remuneradas,
Elas trabalham de mais,
Ainda têm de ouvir os alunos
A dizer coisas tão banais. 

Martim Carvalho, 7º B