Mostrar mensagens com a etiqueta Agustina. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Agustina. Mostrar todas as mensagens

28 de outubro de 2015

OS DEFEITOS DA PERFEIÇÃO

fotografia de Angel Nenov
Hoje, onde quer que estejamos, somos bombardeados com o estereótipo de uma aparência idílica. Seja em casa, a ver televisão, seja a passear pela rua, há sempre algum anúncio ou cartaz a promover essa tal perfeição, convencendo-nos de que atingi-la é mais importante do que tudo o resto.

Pessoalmente, embora seja contra tentarmos moldar o nosso exterior à medida do consensual, acho que não há uma pessoa no mundo moderno que não seja afetada pelos patrões inatingíveis da sociedade. Somos “programados” desde crianças pela noção de perfeição, muitas vezes relacionada, na publicidade, com a felicidade, e fazemos de tudo para que os outros nos aceitem, de nenhuma maneira afetando a perspetiva que temos sobre nós próprios. Aliás, a noção de próprio foi completamente despedaçada, pois o que pensamos já não importa, se comprarmos a loção para a cara do anúncio daquela mulher lindíssima e os sapatos mais desconfortáveis do mundo, “perfeitos para qualquer ocasião”.

Se repararmos, a perfeição é ela própria um produto, que todas as empresas parecem conseguir vender a preços exorbitantes. Por isso é que temos de rejeitar estas ideias erradas e superficiais que nos afetam a todos, e nunca positivamente.

Para provar que a perfeição e a felicidade não estão relacionadas, basta olharmos à nossa volta. Há pessoas gordas felizes, mulheres que se sentem bem consigo próprias mesmo sem maquilhagem, homens sem corpos esculpidos à medida de deuses gregos que usam mais os músculos do que os modelos das revistas. Afinal, os músculos mais importantes são os que provocam um sorriso.

Resumindo, Agustina Bessa-Luís tinha razão, quando disse que a aparência tomou conta da vida das pessoas, não importando se elas têm uma existência vã, desde que ostentem os bens que a publicidade difunde e a sociedade de consumo valoriza. Mas está nas nossas mãos passarmos a preocupar-nos com as pessoas que somos e não com os disfarces que vestimos.

Gabriel Branco, 11.º A


24 de junho de 2013

Agustina Bessa-Luís

«... talvez uma das maiores escritoras em língua portuguesa» - dizem os estudiosos da nossa literatura, no Brasil.

Aqui fica justamente a ligação para um vídeo da Globo, sobre Agustina. De quem, infelizmente, pouco ouvimos falar em Portugal nos últimos tempos. Ouçamos então o que nos dizem os leitores do lado de lá do Atlântico.

E deixamos também o desafio: porque não ler um romance da escritora, nestas férias?




12 de abril de 2013

Contos Impopulares


As aulas já tinham terminado e eu estava curioso sobre o livro que tinha requisitado na Biblioteca. Daí, perguntei à minha mãe:

– Ó mãe, já ouviu falar da Agustina Bessa-Luís?
– Já, mas há muito tempo que não se ouve falar dela. Por aquilo que sei, é uma escritora muito famosa, mas nunca li nenhum livro dela. Acho que a Agustina ainda não morreu; mas porque perguntas? É mais algum livro que trazes para ler, além d’Os Maias?

E a conversa foi continuando. Mais tarde, fui pesquisar sobre a autora. Descobri que esta ilustre senhora de noventa anos deixara de ser falada na comunicação social, talvez devido à idade avançada e à doença. Descobri ainda que Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís é uma escritora portuense que, aos 26 anos, publicou a sua primeira obra de ficção; mas o sucesso só chegou em 1954, com a publicação do livro A Sibila

Descobri ainda que Agustina, além de romancista, faz parte da Academia de Ciências de Lisboa; da Académie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres de Paris; e da Academia Brasileira de Letras. Também foi diretora do jornal Primeiro de Janeiro e do Teatro Nacional D. Maria II. Várias das suas obras foram adaptadas ao cinema, pelo amigo e realizador Manoel de Oliveira. E, entre vários reconhecimentos e prémios que recebeu, destaca-se o Prémio Camões, o prémio literário mais importante da língua portuguesa.

O livro que li, Contos Impopulares, é uma coletânea de contos escritos entre 1951 e 1953. De entre catorze contos que constituem o livro, farei menção a quatro. Contos populares são contos passados de geração em geração numa linguagem oral, e conhecidos pelo senso-comum. Mas o título desta publicação, Contos Impopulares, remete-nos para contos bem diferentes desses. 

O primeiro, O Búzio, fala de um homem que estava doente; e, na sua melancolia, ouvia sons de piano através de uma vizinha. A sua casa assemelhava-se a um búzio porque ele era um ser encurralado e fechado em si mesmo. Como o próprio conto diz, «A própria casa era como um desses búzios de aroma salino e que contém dentro um ser encarquilhado, morto, brilhando viscosamente no seu antro de porcelana».

Já o segundo conto, Míscaros, fala de um jovem estudante que pretendia atravessar o rio num barco e que foi enganado pelo empregado da bilheteira, tendo de pagar dois bilhetes para fazer a travessia. Estando o jovem revoltado com a situação, esfarelou o bilhete e atirou-o à agua. Quando ia embarcar, foi acusado de querer viajar de borla, pelo que teve de comprar mais outro bilhete. Este pequeno conto mostra que muitas vezes os jovens agem de cabeça quente e fazem coisas de que se arrependem. 

Em O Cortejo, o provérbio “Quem muito espera, desespera” é observável através de um homem que espera impacientemente um cortejo que há-de passar em frente da uma janela de sua casa. De tanto esperar, o homem adormece encostado ao parapeito e, quando acorda, fica na dúvida se já teria passado o cortejo. Mas continua infindavelmente à espera que algo aconteça. 

No sétimo conto, O Torneio, há uma competição cujo objetivo é balear pombos. Quando um pombo era atingido, ouvia-se uma grande salva de palmas do público, na bancada. No entanto, um pombo conseguiu escapar. No silêncio que se seguiu, ouviu-se só o bater de palmas de José que, entre a troça dos outros, teve de se retirar, envergonhado. Este conto mostra-nos que quando nos opomos àquilo que a sociedade em geral aprova, corremos o risco de ser julgados e ridicularizados.

Gostei de ler os contos “impopulares” da Agustina Bessa-Luís, porque, através da ironia, fazem-nos pensar sobre a realidade. Termino com um excerto do conto Espaço para Sonhar:

«Uma boa história é a que nos comunica a consciência da nossa individualidade. Todos nós somos protagonistas duma história maravilhosa, mas só o artista pode desvendar a profundidade em que ela se desenrola, trazendo à superfície a suprema aventura da individualidade humana.»

CONTOS IMPOPULARES, de Agustina Bessa-Luís, Guimarães Editores, Lisboa, 2004, 5ª edição.

Tiago Silva, 11º B