Da Francisca Catita, do 12ºE, um texto de introspeção, anterior à quarentena, mas que acompanha muito bem os estranhos dias que vivemos.
Paul Klee, Flora on sand, 1927 |
Eu apenas escavava aquela terra como se procurasse o meu sorriso, a minha alegria, a minha razão de viver. As minhas lágrimas regavam a terra já molhada e eu apenas continuava até desistir. Parei por completo, olhando para as minhas mãos castanhas de vários tons. Os rios dos meus olhos tinham secado e eu olhei para cima, para o seu mais azul do que os meus olhos. Abri ao de leve a boca e de lá saiu um pequeno som. Repeti-o cada vez mais alto e mais alto, o som tornou-se num grito, o grito num rugido, o rugido num desespero tão grande que se ouvia ao longe. Libertei-me de todos os males, de todas as memórias e ri. Ri muito. Tanto que o grito se tornou em algo que me fez bem, que me libertou. Parei um pouco e baixei a cabeça. De cara séria e olhos inchados, levantei-me. A terra permaneceu nas minhas mãos e, ao apertá-la, continuei o meu caminho.
Francisca Catita, 12.ºE