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23 de setembro de 2013

Não posso adiar o coração





Morreu hoje, em Lisboa, aos 88 anos, o poeta António Ramos Rosa, autor de quase cem volumes de poesia, desde O Grito Claro (1958), que marcou a sua estreia, até Em Torno do Imponderável, o seu último livro de poemas, publicado no ano passado.

Além da vasta obra poética, escreveu ensaios e traduziu autores estrangeiros, sobretudo de língua francesa. Era ainda um notável desenhador.


O poema que aqui divulgamos é bem conhecido e marcou, pelo seu apelo à liberdade e ao amor, num tempo em que ambos eram vistos com suspeição, gerações de leitores. 



Não posso adiar o amor

Não posso adiar o amor para outro século 
não posso 
ainda que o grito sufoque na garganta 
ainda que o ódio estale e crepite e arda 
sob as montanhas cinzentas 
e montanhas cinzentas 

Não posso adiar este braço 
que é uma arma de dois gumes amor e ódio 

Não posso adiar 
ainda que a noite pese séculos sobre as costas 
e a aurora indecisa demore 
não posso adiar para outro século a minha vida 
nem o meu amor 
nem o meu grito de libertação 

Não posso adiar o coração.

           Viagem Através de uma Nebulosa, 1960