29 de setembro de 2021

A ÉPOCA TROVADORESCA

 Agora que as turmas do 10º ano começam o estudo deste fascinante período da nossa literatura, publicamos um texto escrito há algum tempo, por uma aluna, e depois aperfeiçoado por toda a turma, tendo resultado na exposição que aqui podem ler. 

Aos alunos fora proposto que escrevessem sobre aquilo que os poemas dos trovadores nos podem ensinar acerca da época em que foram elaborados. Aqui fica pois o texto, que talvez sirva de motivação aos alunos deste ano.

Iluminura medieval, representando o mês de outubro (Les très Riches Heures du Duc de Bérry)

O VALOR TESTEMUNHAL DA POESIA TROVADORESCA 

(Exposição sobre um tema)

A poesia trovadoresca, produzida na Península Ibérica durante a Idade Média, pode fornecer muitas informações sobre esta época.

Destacam-se, pelo seu valor testemunhal, as cantigas de amigo, que nos revelam aspetos da vida quotidiana das jovens camponesas de então: os divertimentos, como bailes e romarias; as tarefas domésticas, como ir à fonte buscar água ou lavar roupa; e, sobretudo, a sua vida amorosa, o namoro, com ou sem permissão da mãe, com um jovem da mesma classe, o amigo, com quem se relacionava de forma espontânea e sensual. Poemas como “Bailemos nós, ai amigas” ou “Porque tardaste na fontana fria” são exemplo disto.

Também as cantigas de escárnio e maldizer contêm numerosas informações sobre a época, quando criticam, por exemplo, os maus trovadores, sem originalidade, e a nobreza empobrecida e pelintra, como o infanção que não acendia o lume, pois não tinha que comer.

Em suma, a poesia trovadoresca permite-nos conhecer aspetos muito diversificados da cultura e do tempo em que foi produzida.
                      
10ºD, 2018/2019



16 de junho de 2021

Lágrima de preta

O poema de António Gedeão, por Adriano Correia de Oliveira.


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

               António Gedeão

4 de junho de 2021

EU VOU


Da Inês, do 7º B, um poema cheio de alegria e de ritmo.

Bordado a partir da pintura de Portinari: Menina do catavento 
 

Eu vou voar na liberdade!
Vou até ao infinito...
Achar a minha verdade!
Encontrar a felicidade!

Vou lançar-me com a vida,
ver a Lua num desenho...
Vou sair, passear!
Vou fugir, viajar!

Vou ter com o amigo,
aquele que me ajuda,
dá amor, dá carinho...
Aquilo de que eu preciso!

Vou sentir falta do passado...
Quando voltar à minha vida.
Mas vou para casa, para a família,
com a alma preenchida!


Inês Silvério, 7ºB


17 de maio de 2021

CARTA À LÍNGUA PORTUGUESA

 


Benedita, 5 maio de 2021

Minha querida língua portuguesa,

Escrevo-te esta carta para demonstrar tudo o que sinto por ti. És realmente muito especial para mim e jamais te esquecerei. Foste tu que me acompanhaste desde pequenina e tudo o que aprendi foi através das tuas meigas e suaves palavras.

És verdadeiramente importante para todas as pessoas que te falam, não só em Portugal, mas também em todos os países que te têm como língua oficial.

Ao longo do teu caminho deixaste marcos relevantes na nossa história, nomeadamente através de Camões, um grande poeta português que enriqueceu o mundo com a sua epopeia, Os Lusíadas.

Deste modo, defender-te-ei sempre, pois és o bem mais precioso de Portugal, um dos traços da identidade do nosso povo, e fazes parte dos costumes e da história do nosso país.

É com grande admiração que me despeço de ti.

Beijinhos

Jéssica Santos, 10.º D


12 de maio de 2021

A VIDA

A Érica, do 9º ano, escreveu um belo poema acerca desta realidade tão cheia de contradições - mas tão brilhante de esperança - que é a vida.

Fotografia de Isabel Munuera

Já perdoei erros imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me dececionei com pessoas
com quem nunca pensei dececionar-me,
mas também, com certeza, já dececionei alguém.

Já abracei alguém para o proteger,
já ri quando não podia,
fiz amigos eternos,
e amigos que nunca mais vi.

Amei e fui amada,
mas também já fui rejeitada,
fui amada e não amei.

Já gritei e pulei de felicidade,
Já vivi o amor e fiz promessas eternas,
E dececionei-me muitas vezes!

Já chorei a ouvir música e a ver fotos,
já liguei só para ouvir a voz,
apaixonei-me por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei por perder).

Mas vivi!
E ainda vivo!
Vivo como se o amanhã não existisse!

Érica Adrião, 9ºA

6 de maio de 2021

O AMOR

A Mariana Costa, do 9º ano, partilha hoje connosco as suas reflexões sobre o amor, este sentimento do qual Camões disse que "nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê" .

 

Pintura de Bernardino Luini - detalhe (1480/82 - 1532)

Amor, palavra pequena, mas com um grande significado.

O amor é paz, o amor é tudo o que faz sermos capazes de dar, é tudo o que faz sermos capazes de sentir e de falar. O amor não é só uma simples palavra que pode ser dita a toda a gente, não é uma simples palavra que possamos usar em qualquer momento, para nos referirmos a qualquer coisa. O amor é sentimento, é olharmos para algo ou alguém e sentirmo-nos felizes, sentirmo-nos bem. É estarmos ao lado de alguém e podermos dizer que aquilo nos traz paz, que nos sentimos como se todos os problemas fossem embora e nos conseguíssemos libertar de algo que nos atormenta há tanto tempo…

Amar alguém é saber que essa pessoa vai estar sempre lá para tudo o que necessitemos, é saber que vamos estar seguros e protegidos, é saber que somos amados da mesma maneira que amamos. Dizer “amo-te” é um grande passo, um passo importante, que significa estarmos seguros e prontos para este sentimento, é um passo que significa termos coragem para admitir o que sentimos, para nos declararmos ao mundo e falarmos, libertarmos este tão grande segredo.

Para podermos dizer “amo-te”, precisamos de sentir o nosso coração sair do peito a cada vez que vemos a pessoa, precisamos de sentir que queremos ficar com aquela pessoa por muito tempo, pois, se isso não acontecer, se não for para ter todos esses sentimentos, se não conseguirmos ser sempre honestos, é porque não temos essa certeza tão grande sobre o amor que sentimos. Se isso acontecer, dizer “amo-te” a alguém que não seja tão importante e especial como poderia ser, acabará por nos deixar uma grande mágoa.

Mariana Costa,  9ºA 


5 de maio de 2021

Verdes são os campos

Celebrando o Dia da Língua Portuguesa, um poema de Camões por José Afonso e Uxía.


 

25 de abril de 2021

REVOLUÇÃO

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação


27 de abril de 1974
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas

23 de abril de 2021

Leituras em Rede

Rede de Bibliotecas do Conselho de Alcobaça, 2021, no Dia do Livro. Também a nossa escola participou nesta bela iniciativa.

22 de março de 2021

Lucky & Zorba

 Também a Eva Ferreira quis partilhar a sua apreciação crítica acerca do filme de animação "Lucky and Zorba". Ora leiam:

UM FILME CONSCIENCIALIZADOR

     Lucky and Zorba, com duração de uma hora e meia, é um filme de animação adorável, com uma mensagem ecológica muito boa, e baseado no livro História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, de Luis Sepúlveda. Foi realizado por Enzo D’Aló.

    A história passa-se na cidade de Hamburgo, onde uma gaivota prestes a morrer confia o seu ovo a um gato chamado Zorba, que promete três coisas: não comer o ovo, cuidar do ovo e ensinar a gaivota bebé a voar. O gato cumprirá a sua promessa com a ajuda dos amigos: Sabetudo, Secretário, Colonello e Barlabento.

     O filme é bastante variado em termos de espaços: a casa de Zorba, o museu e os esgotos, entre outros, desenvolvendo-se a ação durante o dia, mas, principalmente, à noite.

     O diálogo entre as diferentes personagens revela inteligência e clareza. A música escolhida para cada momento é bastante adequada, quer nos momentos de sucesso quer nos de perigo. As personagens têm todas, na verdade, um importante papel, incluindo os ratos, que representam a maldade, dando assim mais emoção ao filme, pela superação das adversidades impostas aos gatos e à gaivota. Para além disso, é louvável a maneira como os felinos não seguiram o estereótipo tradicional dos gatos, matreiros e malvados.

     Este filme de animação desenvolve temas como o problema da poluição, a bondade, a união, a solidariedade. Por trás da história, várias foram as lições de moral: desvalorização da raça para gostar de alguém, ou desvalorização das diferenças, ainda que seja um pouco clichê! Mas fica bem! Convém não esquecer que é uma animação!

      No geral, é um filme bastante bom para todas as idades, em que a simplicidade e a doçura da história cativa qualquer espectador!

Eva Ferreira, 7º D

11 de março de 2021

ASSIM NÃO DÁ...

Talvez a leitura do livro permita ao José Ferreira uma apreciação mais positiva desta história, pois a adaptação cinematográfica não lhe agradou particularmente. 

Aqui fica a apreciação crítica que ele escreveu.

ASSIM NÃO DÁ...

Eu nunca gostei de filmes que se baseassem em factos verídicos. Ainda para mais um filme que não tem um final feliz, como é o caso de O diário de Anne Frank.

O diário de Anne Frank é um drama lançado em 2009, com a duração de pouco menos de 2 horas. Mesmo que o realizador Jon Jones tenha feito um bom trabalho, a história em si é desgastante, pois passa-se maioritariamente no mesmo local (um anexo) e as personagens são quase sempre as mesmas, o que, como a própria Anne menciona, se torna aborrecido e cansativo, uma vez que se  sabe o que cada um vai dizer.

A história passa-se durante 2ª Guerra Mundial. Anne e a sua família viviam em Amesterdão, mas como a coisa estava a ficar feia para os judeus, tiveram de se esconder por cima do escritório do pai (o dito anexo). À medida que o tempo passa, juntam-se os Van Daan’s e o seu filho Peter, por quem Anne se apaixona, e também um dentista de nome Albert Dussel.

A personagem do pai de Anne Frank marcou-me muito, pois conseguiu, na maioria das vezes, manter-se calmo e não se enervar, e acredito que foi por isso que, de todos os habitantes do anexo, foi o único sobrevivente do campo de concentração. De facto, não sou muito fã deste género de filmes e custa-me muito saber que o que aconteceu a estas personagens aconteceu também a muitos outros judeus.

Na verdade, não creio que a história seja assim tão interessante, convenhamos, a ação fixa-se no período de dois anos em que eles ficaram, literalmente, à espera que a guerra acabasse. É o retrato de uma situação traumática, sem dúvida, mas cansativa. Se ainda mostrassem a ida para os campos de concentração e o que aconteceu lá, mas não… apenas quiseram entristecer-nos mais com aquele final, quando apresentam um a um onde e quando tinham sido mortos. O que, para mim, não fez sentido algum! Uma forma rápida de acabar a história!

Resta-me ler o livro!

                                                                                José Ferreira, 8ºA

4 de março de 2021

Lucky and Zorba - O que achei?

 Uma boa apreciação crítica, do Bruno Prudêncio, 7º ano D, acerca da versão cinematográfica do célebre romance de Luis Sepúlveda. 

  

O filme intitula-se Lucky and Zorba e foi baseado no livro História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar, de Luis Sepúlveda, escritor chileno recém-falecido, vítima de COVID-19. É um filme animado que nos ensina como a poluição prejudica e até mata os outros seres vivos.

A história é sobre Zorba, um gato grande, preto e gordo, e os seus outros amigos gatos (Sabetudo, Secretário, Collonello, Yoyo e Barlavento), que entram na aventura de cuidar e de ensinar uma gaivota recém-nascida a voar, depois de a mãe (Kengah) ficar presa em petróleo derramado por um barco. De facto, antes de morrer, a mãe gaivota faz Zorba prometer não comer o seu ovo, cuidar dele e, quando nascesse a gaivotinha, ensiná-la a voar. O filme também aborda a briga dos gatos com um grupo de ratos que queriam comer a gaivota.

  A ação passa-se em Hamburgo, sendo os lugares mais referidos no livro um museu, a casa do Zorba e a casa de um poeta que vive com a sua filha Nina e a sua lindíssima gata, Bubulina, por quem Zorba se apaixona.

  Com o tempo, o ovo que Zorba incubou eclode, e à cria é posto o nome de Lucky, que quer dizer Ditosa.

  Se compararmos o livro com o filme, as diferenças são inúmeras, nomeadamente a inclusão do pequeno gato Yoyo, que tão depressa é prestável como manifesta ciúmes, pois revela à cria que ela é um pássaro e não um gato, alterando a vida da pequena gaivota, enquanto no livro estas revelações são feitas pelos ratos. A verdade é que haverá outras diferenças que pretendo descobrir quando tiver lido o livro todo.

 Este filme de animação, de uma hora e pouco, é digno de ser visto, pois de uma forma mais ou menos subtil trata temas muito atuais:  a poluição marítima, a importância da amizade, da comunicação, do conhecimento e do respeito pelo conhecimento dos mais velhos, de experiência feito!

Em todo o caso, o que achei? Fabuloso, mas já agora leiam o livro também!

Bruno Prudêncio, 7D

2 de março de 2021

A ARTE DA PERDA

Pensando nos alunos que este ano estudaram o conto George, de Maria Judite de Carvalho, publico dois poemas que estabelecem relações temáticas com esse conto. 

No primeiro, Elisabeth Bishop, poeta norte-america (1911-1979), apresenta-nos uma reflexão aparentemente ligeira sobre a aprendizagem da perda e o caminho do luto.  

O outro, de Amalia Bautista, poeta espanhola nossa contemporânea, versa sobre laços, memórias, desprendimento...

São dois poemas admiráveis e invulgares. Convido-vos a todos a lê-los e a deixarem-se surpreender.

Elisabet Bishop


                     
 UMA ARTE

A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias da intenção
de se perderem que a sua perda não é uma calamidade.

Perder qualquer coisa todos os dias. Aceitar a agitação
de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava
viajar. Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.

Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou
a penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Perdi duas cidades encantadoras: E, mais vastos ainda,
reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.

- Mesmo o perder-te (a voz trocista, um gesto
que amo) não foi diferente disso. É evidente
que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade.

Elisabeth Bishop, in Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop, tradução de Maria de Lourdes Guimarães


Amalia Bautista

 FAÇAMOS UMA LIMPEZA GERAL

Façamos uma limpeza geral,
vamos deitar fora todas as coisas
que não nos servem para nada, essas
coisas que já não usamos, as que
não prestam senão para ganhar pó,
e em que tentamos nem reparar porque
nos trazem as lembranças mais amargas,
coisas que magoam, que ocupam espaço
e nunca quisemos perto de nós.
Façamos uma limpeza geral,
ou melhor ainda, uma mudança,
deixando para trás todas as coisas
sem lhes tocarmos, sem nos sujarmos,
deixemo-las onde sempre estiveram,
vamo-nos nós embora, meu amor,
e recomecemos a acumular.
Ou vamos deitar fogo a tudo isto,
vamos ficar em paz com essa imagem
das brasas do mundo perante os olhos
e com o coração desabitado.
Amalia Bautista, in Cuéntamelo otra vez, 1999 (tradução de Mudanças & Companhia)


30 de setembro de 2020

ALMA PERDIDA

Iniciamos a vitrina deste ano com um poema da Bárbara - um soneto cuidadosamente versificado e rimado, cuja  melancolia desgarrada me fez lembrar (não sei se acertadamente) Antero de Quental.   Parabéns, Bárbara!
Fotografia de Edmund Teske,1947

No silêncio abraço a escuridão
Onde apenas se ouve uma alma soluçar
Alma de quem ficou sem chão
Alma de quem não mais sabe sonhar.

Alma em profunda opressão
De quem a vida não quer agarrar
Alma que pede ajuda, porém em vão
Alma moribunda que anda a vaguear.

A vaguear continua
Tão vulnerável e seminua
A tentar libertar-se da dor.

A vaguear pela rua
Rua que nunca foi sua
À procura de paz interior…


                     Bárbara António, 12º D