22 de março de 2021

Lucky & Zorba

 Também a Eva Ferreira quis partilhar a sua apreciação crítica acerca do filme de animação "Lucky and Zorba". Ora leiam:

UM FILME CONSCIENCIALIZADOR

     Lucky and Zorba, com duração de uma hora e meia, é um filme de animação adorável, com uma mensagem ecológica muito boa, e baseado no livro História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, de Luis Sepúlveda. Foi realizado por Enzo D’Aló.

    A história passa-se na cidade de Hamburgo, onde uma gaivota prestes a morrer confia o seu ovo a um gato chamado Zorba, que promete três coisas: não comer o ovo, cuidar do ovo e ensinar a gaivota bebé a voar. O gato cumprirá a sua promessa com a ajuda dos amigos: Sabetudo, Secretário, Colonello e Barlabento.

     O filme é bastante variado em termos de espaços: a casa de Zorba, o museu e os esgotos, entre outros, desenvolvendo-se a ação durante o dia, mas, principalmente, à noite.

     O diálogo entre as diferentes personagens revela inteligência e clareza. A música escolhida para cada momento é bastante adequada, quer nos momentos de sucesso quer nos de perigo. As personagens têm todas, na verdade, um importante papel, incluindo os ratos, que representam a maldade, dando assim mais emoção ao filme, pela superação das adversidades impostas aos gatos e à gaivota. Para além disso, é louvável a maneira como os felinos não seguiram o estereótipo tradicional dos gatos, matreiros e malvados.

     Este filme de animação desenvolve temas como o problema da poluição, a bondade, a união, a solidariedade. Por trás da história, várias foram as lições de moral: desvalorização da raça para gostar de alguém, ou desvalorização das diferenças, ainda que seja um pouco clichê! Mas fica bem! Convém não esquecer que é uma animação!

      No geral, é um filme bastante bom para todas as idades, em que a simplicidade e a doçura da história cativa qualquer espectador!

Eva Ferreira, 7º D

11 de março de 2021

ASSIM NÃO DÁ...

Talvez a leitura do livro permita ao José Ferreira uma apreciação mais positiva desta história, pois a adaptação cinematográfica não lhe agradou particularmente. 

Aqui fica a apreciação crítica que ele escreveu.

ASSIM NÃO DÁ...

Eu nunca gostei de filmes que se baseassem em factos verídicos. Ainda para mais um filme que não tem um final feliz, como é o caso de O diário de Anne Frank.

O diário de Anne Frank é um drama lançado em 2009, com a duração de pouco menos de 2 horas. Mesmo que o realizador Jon Jones tenha feito um bom trabalho, a história em si é desgastante, pois passa-se maioritariamente no mesmo local (um anexo) e as personagens são quase sempre as mesmas, o que, como a própria Anne menciona, se torna aborrecido e cansativo, uma vez que se  sabe o que cada um vai dizer.

A história passa-se durante 2ª Guerra Mundial. Anne e a sua família viviam em Amesterdão, mas como a coisa estava a ficar feia para os judeus, tiveram de se esconder por cima do escritório do pai (o dito anexo). À medida que o tempo passa, juntam-se os Van Daan’s e o seu filho Peter, por quem Anne se apaixona, e também um dentista de nome Albert Dussel.

A personagem do pai de Anne Frank marcou-me muito, pois conseguiu, na maioria das vezes, manter-se calmo e não se enervar, e acredito que foi por isso que, de todos os habitantes do anexo, foi o único sobrevivente do campo de concentração. De facto, não sou muito fã deste género de filmes e custa-me muito saber que o que aconteceu a estas personagens aconteceu também a muitos outros judeus.

Na verdade, não creio que a história seja assim tão interessante, convenhamos, a ação fixa-se no período de dois anos em que eles ficaram, literalmente, à espera que a guerra acabasse. É o retrato de uma situação traumática, sem dúvida, mas cansativa. Se ainda mostrassem a ida para os campos de concentração e o que aconteceu lá, mas não… apenas quiseram entristecer-nos mais com aquele final, quando apresentam um a um onde e quando tinham sido mortos. O que, para mim, não fez sentido algum! Uma forma rápida de acabar a história!

Resta-me ler o livro!

                                                                                José Ferreira, 8ºA

4 de março de 2021

Lucky and Zorba - O que achei?

 Uma boa apreciação crítica, do Bruno Prudêncio, 7º ano D, acerca da versão cinematográfica do célebre romance de Luis Sepúlveda. 

  

O filme intitula-se Lucky and Zorba e foi baseado no livro História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar, de Luis Sepúlveda, escritor chileno recém-falecido, vítima de COVID-19. É um filme animado que nos ensina como a poluição prejudica e até mata os outros seres vivos.

A história é sobre Zorba, um gato grande, preto e gordo, e os seus outros amigos gatos (Sabetudo, Secretário, Collonello, Yoyo e Barlavento), que entram na aventura de cuidar e de ensinar uma gaivota recém-nascida a voar, depois de a mãe (Kengah) ficar presa em petróleo derramado por um barco. De facto, antes de morrer, a mãe gaivota faz Zorba prometer não comer o seu ovo, cuidar dele e, quando nascesse a gaivotinha, ensiná-la a voar. O filme também aborda a briga dos gatos com um grupo de ratos que queriam comer a gaivota.

  A ação passa-se em Hamburgo, sendo os lugares mais referidos no livro um museu, a casa do Zorba e a casa de um poeta que vive com a sua filha Nina e a sua lindíssima gata, Bubulina, por quem Zorba se apaixona.

  Com o tempo, o ovo que Zorba incubou eclode, e à cria é posto o nome de Lucky, que quer dizer Ditosa.

  Se compararmos o livro com o filme, as diferenças são inúmeras, nomeadamente a inclusão do pequeno gato Yoyo, que tão depressa é prestável como manifesta ciúmes, pois revela à cria que ela é um pássaro e não um gato, alterando a vida da pequena gaivota, enquanto no livro estas revelações são feitas pelos ratos. A verdade é que haverá outras diferenças que pretendo descobrir quando tiver lido o livro todo.

 Este filme de animação, de uma hora e pouco, é digno de ser visto, pois de uma forma mais ou menos subtil trata temas muito atuais:  a poluição marítima, a importância da amizade, da comunicação, do conhecimento e do respeito pelo conhecimento dos mais velhos, de experiência feito!

Em todo o caso, o que achei? Fabuloso, mas já agora leiam o livro também!

Bruno Prudêncio, 7D

2 de março de 2021

A ARTE DA PERDA

Pensando nos alunos que este ano estudaram o conto George, de Maria Judite de Carvalho, publico dois poemas que estabelecem relações temáticas com esse conto. 

No primeiro, Elisabeth Bishop, poeta norte-america (1911-1979), apresenta-nos uma reflexão aparentemente ligeira sobre a aprendizagem da perda e o caminho do luto.  

O outro, de Amalia Bautista, poeta espanhola nossa contemporânea, versa sobre laços, memórias, desprendimento...

São dois poemas admiráveis e invulgares. Convido-vos a todos a lê-los e a deixarem-se surpreender.

Elisabet Bishop


                     
 UMA ARTE

A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias da intenção
de se perderem que a sua perda não é uma calamidade.

Perder qualquer coisa todos os dias. Aceitar a agitação
de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava
viajar. Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.

Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou
a penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Perdi duas cidades encantadoras: E, mais vastos ainda,
reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.

- Mesmo o perder-te (a voz trocista, um gesto
que amo) não foi diferente disso. É evidente
que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade.

Elisabeth Bishop, in Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop, tradução de Maria de Lourdes Guimarães


Amalia Bautista

 FAÇAMOS UMA LIMPEZA GERAL

Façamos uma limpeza geral,
vamos deitar fora todas as coisas
que não nos servem para nada, essas
coisas que já não usamos, as que
não prestam senão para ganhar pó,
e em que tentamos nem reparar porque
nos trazem as lembranças mais amargas,
coisas que magoam, que ocupam espaço
e nunca quisemos perto de nós.
Façamos uma limpeza geral,
ou melhor ainda, uma mudança,
deixando para trás todas as coisas
sem lhes tocarmos, sem nos sujarmos,
deixemo-las onde sempre estiveram,
vamo-nos nós embora, meu amor,
e recomecemos a acumular.
Ou vamos deitar fogo a tudo isto,
vamos ficar em paz com essa imagem
das brasas do mundo perante os olhos
e com o coração desabitado.
Amalia Bautista, in Cuéntamelo otra vez, 1999 (tradução de Mudanças & Companhia)


30 de setembro de 2020

ALMA PERDIDA

Iniciamos a vitrina deste ano com um poema da Bárbara - um soneto cuidadosamente versificado e rimado, cuja  melancolia desgarrada me fez lembrar (não sei se acertadamente) Antero de Quental.   Parabéns, Bárbara!
Fotografia de Edmund Teske,1947

No silêncio abraço a escuridão
Onde apenas se ouve uma alma soluçar
Alma de quem ficou sem chão
Alma de quem não mais sabe sonhar.

Alma em profunda opressão
De quem a vida não quer agarrar
Alma que pede ajuda, porém em vão
Alma moribunda que anda a vaguear.

A vaguear continua
Tão vulnerável e seminua
A tentar libertar-se da dor.

A vaguear pela rua
Rua que nunca foi sua
À procura de paz interior…


                     Bárbara António, 12º D

23 de setembro de 2020

O PORTUGAL FUTURO

 Um belo poema de Ruy Belo, poeta quase nosso conterrâneo, para reiniciarmos o blogue, com os votos de um excelente ano letivo.



O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro

Ruy Belo, in 'Homem de Palavra[s]'

25 de junho de 2020

MULHER

Maternidade, pintura de Almada Negreiros

E fechamos a nossa vitrine virtual, por este ano letivo, com um alegre poema do Martim Carvalho

Haverá palavra mais bonita,
Haverá palavra com tal louvor.
Porque a mim a palavra mulher,
Traz-me boas recordações de amor.

A mulher é um ser humano
Incrível, por dentro e por fora.
Se não fossem as mulheres,
Não estavam a ler isto agora.

Como eu costumo dizer,
Mulher é o caos mais bonito do mundo!
Porque tem um feitio complicado,
Mas seu coração não tem fundo.

São das razões mais bonitas,
Para a felicidade de um macho.
Se bem que quando eles se portam mal,
A mulher diz: “Num instante o despacho!»

Não existe carinho melhor,
Que o de uma mão meiga e ternurenta.
Essa é a da mulher,
Que tanto nos beija quanto nos atenta!

Mas se não fossem as mulheres,
O nosso mundo seria um nó.
Porque mulher começa por filha,
Depois será mãe e mais tarde avó.

Que sentimento de franqueza clara,
Nas suas caras consigo observar.
Para fazermos mulheres felizes,
Temos de ter vontade de amar.

E se o amor não chegar,
Se a mulher não ficar satisfeita,
Escrevemos-lhe um poema lindo,
E a satisfação se inteira.

Porque mulher é mulher.
Não há ser assim tão puro,
Para nós trazem cor,
E acabam por esvaziar o escuro.

Porque mulher é mulher.
Quem o disse não se enganou.
Mas com certeza quem disse esta frase,
Teve uma mulher que amou.

Cedinho já estão a pé,
Lavam-se e ficam arranjadas.
Pelo caminho chamam as crianças,
E vão fazendo as torradas.

Mas que problemas que elas têm,
Quando os “putos” não se querem levantar.
E mesmo ficando com raiva,
São seus filhos, têm de se acalmar.

Ai! Ai! que vida a sua,
Agora deixou as torradas queimar,
E o mais novo a lavar os dentes,
Ainda se conseguiu molhar.

Que correria a delas,
Mais duas torradas a fazer.
E no final daquela meia hora,
A mulher acaba por não comer!

Arranca com o carro depressa,
E deixa um no infantário.
O outro ainda é mais pequeno,
Tem de o deixar no berçário.

Entra às oito para o trabalho,
Ainda lhe falta vestir a farda.
Aí coitada da mulher,
Anda numa correria desgraçada.

Sete e cinquenta e oito ela chega,
O patrão já está a olhar!
E quando olhou para a esquerda,
Até um cão lhe tinha a ladrar.

Teve de se vestir à pressa,
Pôs a touca e toca a andar,
Coitadinha da mulher,
Nem tempo tem para se pentear.

Chega a hora do almoço,
Quando pode descansar.
Mas o malvado do patrão
As empregadas está a chamar!

Cinco e meia, acaba o serviço,
É hora de ir buscar os meninos.
E vai dizendo ao porta-luvas:
Nós conseguimos, nós conseguimos!

Chega à hora para os ir buscar,
Vá lá, até se portaram bem.
Agora vamos juntos para casa,
Porque esta mulher é minha mãe!

Chegamos todos cansados,
E com vontade de comer.
Ó mãe, arranja aí um petisco,
Faz o que te apetecer.

E a tudo o que pedimos,
A mulher nunca diz não!
Quase me esqueci de um pormenor,
Ela ainda trata do cão.

Oito da noite chega o pai,
E vem quase a relinchar.
Ainda tem a desfaçatez de dizer:
Tenho fome, quero jantar.

E só depois de tudo deitado,
Ela consegue descansar.
Caríssimos, esta mulher bonita,
Não sou capaz de não a amar.

Martim Carvalho, 8º B
17/06/2020