12 de novembro de 2023

À maneira de Pessoa

De início pensámos em quadras. Propus aos alunos do 12ºC escrever à maneira de Fernando Pessoa - o verso breve, o vocabulário corrente, a inspiração tradicional... 

Nem sempre escolheram quadras, ou sequer redondilhas, mas a musicalidade, a melancolia subtil, as inquietações do poeta, a idealização da infância  perdida - tudo isso eles captaram e tornaram em algo seu. Foi uma bela surpresa!

Pintura de Christine Sloman (Escócia), Altogether Elsewhere II

Nas múltiplas máscaras que criei,
No meu ser fragmentado me encontrei.
Em cada verso a alma se entregou,
Fernando Pessoa em mim se revelou.

Afonso Fonseca Catarino


No vasto mar da vida, onde navegamos sem fim,
Somos barcos à deriva, perdidos em nós mesmos assim.
Nas ondas do sonho, procuramos o sentido,
Mas o mistério da existência permanece escondido.

Ana Laura L. T. S Fonseca


Em seus escritos, a busca pelo ser verdadeiro,
As incertezas do eu num jogo pioneiro.
Em cada palavra, um labirinto se formou,
As incertezas da vida ele eternizou.

Alice Mateus Mendes


Na infância os sonhos eram meu tesouro,
Um mundo de magia, brilho e calor.
Na inocência encontrei cada sonho de ouro,
No coração da infância floresceu o amor.

Augusto Almeida Marques


Na infância, sorrisos a brilhar,
Mundos de sonho a explorar.
É a inocência que nos guia,
Tempo mágico de encantar.

Catarina Afonso M. Belo


No silêncio da noite escura e fria,
A alma vagueia em busca da verdade,
Como o poeta que na poesia
Descobre o mundo, em sua diversidade.

Daniela Raimundo Lourenço


Num sonho, a noite revela-se,
Mundos de magia e a mente a dançar.
Um mundo que é só meu,
E onde a imaginação pode voar.

Dinis Santos Dias


Doce música chega ao ouvido,
Nostalgia invade o peito,
P’la melodia sinto-me atraído,
A realidade volta e fico desfeito.

Francisco Manuel L. P. Couto


Nostalgia da infância que me invade:
Lembro sonhos de criança, pura saudade,
Tempo de inocência, felicidade.
Fernando Pessoa, alma, eternidade.

Inês Silva Morais


Na rua da incerteza, caminho sozinho,
Em mim, múltiplos "eus" buscam seu destino.
Fado incerto, alma inquieta, sem caminho,
Sou Pessoa, sou ninguém, sou meu próprio desatino.

José Rosa Valentim 




Vi uma lagarta que em borboleta se transformou,
Levou-me para um passado que por mim voou.
Sonhos de crianças, corridas passageiras,
Amores perdidos, mortes ligeiras.
À noite adormeço a pensar em ti
Em quanto te amei, no amor que perdi.

Luís Afonso G. Tomás






Nas sombras do passado, segredos a contar
Em cada lembrança, o tempo a ecoar
Memórias doces, como um conto encantado
No coração, o passado é sempre recordado

Lara Alexandra R. Roxo



Doce Infância

Na infância, a inocência nos guiava
E a magia do mundo ela revelava:
Amigos verdadeiros, laços que não quebravam,
E tantas memórias doces que nunca se apagaram.

Maria Beatriz F. Grosa


A cada dia que passa
Fico mais devastado.
Penso em maçadas.
Tudo me deixa acabrunhado.

Maria Rafael Marques


Nas palavras de Pessoa, o ser a questionar,
Múltiplas vozes, o eu a desdobrar,
Em versos profundos, a alma a sondar.
Fernando Pessoa, fazes-me pensar.

Marta Fonseca António


Tento viver no agora
Sem pensar no futuro,
Para quando chegar a hora,
Não estar farta de tudo.

Matilde Duarte Mateus 



A vida é escola, o saber é voar,
Aprender é o segredo, sem se cansar.
Nas estradas da vida, desafios encarar,
Superar obstáculos e soluções encontrar.


Rafael André R. Santos


Sob o luar de prata a brilhar,
Segredos da noite a desvendar,
No silêncio, alma a meditar,
Nas estrelas, histórias a contar.

Rafael Lourenço Catarino


19 de outubro de 2023

A FLOR

Do José Valentim, um texto poético, que de início nos faz lembrar a célebre parábola da rosa, no livro do Principezinho, para depois enveredar por uma indagação pessoal acerca dos limites da nossa dádiva aos outros. Ora leiam!

Pintura de Ton Dubbeldam, Jardim Aquático
 A minha mãe sempre me disse que não desse demasiada água à flor.
Eu não liguei, queria ver quanto cresceria, era só o que me importava.
Fiz questão de cuidar dela todos os dias. 

E reguei tanto, mas tanto,
que quando me apercebi a flor já nem comigo estava.

A dor de uma planta é igual à dor humana?
Se receber demasiado, morre, se receber pouco, morre também.


Isto faz de mim uma pessoa desumana?

Damos tanto pelos outros, e ninguém nos para.
Destruímo-nos no processo de amar o próximo mais do que a nós mesmos.

Mas no fim, a dor não se compara.

 

                                                      José Valentim, 12º C

5 de outubro de 2023

DIA DO PROFESSOR

Edward Lamson Henry (EUA) - Escola rural, 1890
 
Albert Samuel Anker (Suíça) - O passeio escolar, 1872

Desde 1994, celebramos o Dia Mundial do Professor a 5 de outubro, comemorando o aniversário de uma recomendação da UNESCO, aprovada em 1966, a qual estabelece critérios quanto aos direitos e deveres dos professores e às condições de ensino e de aprendizagem. 

Diz-nos a página da Comissão Nacional da UNESCO que este é um dia para celebrar a forma como os professores estão a transformar a educação, mas também para refletir sobre o apoio de que  necessitam para poderem desempenhar plenamente o seu talento e a sua vocação. 

Seria também um dia para repensar os caminhos da escola e do futuro.

Esta entrada do  nosso blogue é ilustrada com duas pinturas do século XIX que representam a escola - tão diferente da dos nossos dias. E tão próxima, apesar de tudo.

Desejamos muita sorte e um feliz Dia do Professor a todos os professores do mundo!

30 de setembro de 2023

Associativismo estudantil

 Decorre por estes dias a campanha eleitoral para a Associação de Estudantes da nossa escola.Talvez não seja má ideia - embora tenhamos uma já longa tradição de associativismo estudantil no ECB - recordar como se constitui uma associação de estudantes. Aqui fica o vídeo.



22 de setembro de 2023

TODOS OS COMEÇOS SÃO DELICADOS

 Fomos hoje "repescar" a primeira publicação deste blogue: foi em novembro de 2012. Passaram onze anos! Essa publicação tinha como tema uma frase inspiradora: Todos os começos são delicados. E é bem verdade. Mas os recomeços podem sê-lo também, dado que buscam um equilíbrio, nem sempre fácil, entre o imperativo da novidade e a importância de não perder a ligação ao projeto-raíz.

Aqui fica então essa primeira publicação, in memoriam, num ano em que a escola se propõe revisitar a sua própria história. Com os votos, é claro, de um excelente ano letivo. Em que muito se aprenda e em que não falte o humor gaiato dos nossos alunos.

Foto de Jean Dieuzaide, A conta de somar, 1955
 

E porque não abrir com algumas sugestões de leitura, uma pequena série de títulos iniciáticos? Aqui vai o primeiro, sob a égide de Joseph Joubert:


"O maior defeito dos livros novos é impedir a leitura dos antigos."

 
Não que os livros novos desmereçam a nossa atenção, pelo contrário, mas quão inestimáveis são tantos dos que atrás deles se vão silenciando e ocultando. Aqui fica pois a sugestão de um conto escrito nos anos 60 do século passado - um conto cheio de alegria e de juvenil descoberta da vida.
 
CONSTANTINO, GUARDADOR DE VACAS E DE SONHOS

Tem doze anos, mas não deitou muito corpo para a idade. Ainda está a tempo. Um homem cresce até ao fim da vida, se não em altura, pelo menos em obras e ambições. E nisso promete.

Por voto do padrinho e assentimento dos pais, recebeu no registo o nome de Constantino. É um nome bonito, sim senhor. Na aldeia não há outro igual, e isso é bom, pensou a mãe; escusa uma pessoa de matar a cabeça como em certas casas em que os homens usam o mesmo nome e ninguém se entende. Na Chamboeira conheceu ela uma mulher, a Ti Pirralha, metida num inferno de portas adentro por causa de o marido, o filho e o neto se chamarem António.

Enquanto o rapaz foi pitorro, tudo correu bem. Um era o António Grande, o outro só António e o mais novo o António Pequeno, O rapaz porém, deitou muito corpo, e depressa, enquanto o avô continuou cartaxinho, cartaxinho e melindroso, pois começou a pôr-se de vidro fino quando a mulher lhe chamava Grande, vendo nisso uma artimanha dela para se vingar de certas desfeitas que lhe fazia quando bebia um copo a mais.

«Grandes são os burros», refilava então o velho, muito rezingão, com reumático nas cruzes, umas dores parvas como dentadas de lobo. Mas andou tudo raso naquele casal quando a Ti Pirralha o tratou por António Velho para chamar Novo ao neto, o que incendiou o marido, e de tal jeito que a mulher teve de se esconder três dias em casa duma vizinha.

«Velhos são os trapos!», gritava o António Pirralha chamando corja ao povo inteiro da sua aldeia – que não gostava muito dele, valha a verdade.

Foi isto mais ou menos o que a mãe do Constantino lembrou ao marido para defender o nome escolhido pelo compadre. Constantino era um nome bonito para rapaz.

                        Alves Redol, Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos, Editorial Caminho, Lisboa, 20ª edição

5 de junho de 2023

A PARTIR DE UMA IMAGEM

 

Pintura de Edward Hopper (1882-1967), Square Rock

 Após uma silenciosa caminhada, em pleno inverno, Júlia sentou-se na areia olhando a linha do horizonte. Sentia a brisa suave no corpo e na alma, e cada onda era um fluxo respiratório que renovava o seu ser como se estivesse a acarinhar a areia.

Com as rochas submersas pelo “seu” mar, estanhou o estreito trilho de conchas que se escapavam do mar. Apoiada no tronco adormecido a seu lado, elevou o olhar curioso até ao farol.

Com os olhos azuis um pouco cerrados avistou uma dúzia de pessoas, todas elas alegremente acompanhadas, à exceção do pescador que carregava em si o peso de uma longa história.

Olhava calmamente para cada uma delas, sentido a sua felicidade e adivinhando o motivo da mesma.

Quando observou o pescador cismado, as rochas outrora submersas já avistavam os barcos parados. Subitamente a maré ficou baixa. E, focada particularmente no pescador, reparou que também ele estava sentado, vivendo o seu mar. Era como se Júlia pudesse mergulhar em cada ondulação dele e, interiormente, questionou-se: “Estará ele no seu farol?

Ana Lourenço, 12ºD

Texto produzido no âmbito do Clube de Escrita Criativa

23 de maio de 2023

ENCONTREI UM MENINO PERDIDO

 

Escultura de Eugenio Pellini, 1891

Olhou-me nos olhos fixamente, com lágrimas e olheiras bem aparentes, e eu perguntei-lhe: "O que te aconteceu, querido menino, como te posso ajudar?"

 

Com os braços cheios de cortes e os dedos sangrentos, o menino fitou-me de cima abaixo. Vendo que não iria falar muito, esperei pacientemente que arranjasse a coragem necessária: "Estou perdido", disse baixinho,  após alguns minutos, "nem na minha própria pele me sinto seguro". As lágrimas aumentaram e por isso decidi acalmá-lo. "Anda lá, querido menino, vou limpar-te as feridas".

 

Vê-lo assim doeu mais do que o que ele fizera a si próprio.

      

Com mais paciência e um copo de sumo de maçã, sentei-o novamente e quis saber mais: "O que te aconteceu, como te posso ajudar?". Desta vez mais calmo, o menino explicou-se: "Nunca me senti mais abandonado do que neste momento. Tenho a roupa rasgada e o rosto todo sujo. Mas não quero voltar para casa, não quero!", e gritou estridentemente, tentando fugir de mim.

 

Depois de o interrogar mais um pouco, descobri que tinha pais, tinha família, tinha casa, tinha comida. Pareceu-me que o problema dele era falta de atenção: "Ninguém ouve o que eu quero, só me dizem, todos os dias, o que não devo fazer". E ao murmurar esta frase adormeceu.

 

Parecia estar tão infeliz, mesmo a dormir, coitado, que lhe teria acontecido? Quando acordou, dei-lhe roupa nova, algo para comer, e limpei-lhe a cara.

 

No dia seguinte, ao ligar a televisão, deparei-me com a fotografia do rapaz. Os pais procuravam-no, desesperados. De imediato ligo para o número de telefone que aparecia em letras gordas e não tardou que aparecesse um casal visivelmente perturbado. Levaram o filho para casa e prometeram ser uns pais mais presentes e atentos.

 

Hoje, Peter tem 15 anos e quase todos os dias me visita, com uma flor para me dar.

      

Dina Datta, 12º D

Texto produzido no âmbito do Clube de Escrita Criativa

7 de maio de 2023

Furiosa com o que me aconteceu!

 

Fotografia de Rui Palha

Estou furiosa com o que me aconteceu!

 

Estava eu a caminho do trabalho para desempenhar o meu talento: fazer relatórios e mais relatórios… quando, a meio do trajeto, “C’um caneco!”, pisei as fezes de um animal, talvez de cão. Querendo, não querendo, o cheiro fez-me companhia.

 

Ah, como estou furiosa com o raio do animal, que não conheço, mas que detesto!

 

Acontece que, chegada ao destino, recebo orientações do Carlos. Sorte grande, hoje não me vou refugiar no escritório e pôr em prática o meu talento: a Cláudia, a tal que atende os clientes, faltou, tenho de substituí-la, o que me não desagrada, pois quebra a rotina.

 

Começaram a chegar clientes, pouco tempo depois de abrir portas e, por mais que não quisesse, fui-me debatendo com eles e com aquele cheiro desagradável que não me deixava.

 

“Quero aquela trela azul para cão”; “Três gaiolas para pássaros pequenos, se faz favor”; “Onde estão os brinquedos para cães?”; “Uma cama confortável e quentinha para o meu gato”. Uma dúzia de clientes e nem uma pessoa, nem uma só, levou a oferta da loja: um pack de seis sacos de plástico para apanhar a porcaria produzida pelos seus animais de estimação.

 

Ai, a fúria que me invade quando me lembro do momento e me apercebo da irresponsabilidade social destes donos!

 

Ana Lourenço 12º D

Texto produzido no âmbito do Clube de Escrita Criativa.