5 de junho de 2023

A PARTIR DE UMA IMAGEM

 

Pintura de Edward Hopper (1882-1967), Square Rock

 Após uma silenciosa caminhada, em pleno inverno, Júlia sentou-se na areia olhando a linha do horizonte. Sentia a brisa suave no corpo e na alma, e cada onda era um fluxo respiratório que renovava o seu ser como se estivesse a acarinhar a areia.

Com as rochas submersas pelo “seu” mar, estanhou o estreito trilho de conchas que se escapavam do mar. Apoiada no tronco adormecido a seu lado, elevou o olhar curioso até ao farol.

Com os olhos azuis um pouco cerrados avistou uma dúzia de pessoas, todas elas alegremente acompanhadas, à exceção do pescador que carregava em si o peso de uma longa história.

Olhava calmamente para cada uma delas, sentido a sua felicidade e adivinhando o motivo da mesma.

Quando observou o pescador cismado, as rochas outrora submersas já avistavam os barcos parados. Subitamente a maré ficou baixa. E, focada particularmente no pescador, reparou que também ele estava sentado, vivendo o seu mar. Era como se Júlia pudesse mergulhar em cada ondulação dele e, interiormente, questionou-se: “Estará ele no seu farol?

Ana Lourenço, 12ºD

Texto produzido no âmbito do Clube de Escrita Criativa

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