23 de maio de 2023

ENCONTREI UM MENINO PERDIDO

 

Escultura de Eugenio Pellini, 1891

Olhou-me nos olhos fixamente, com lágrimas e olheiras bem aparentes, e eu perguntei-lhe: "O que te aconteceu, querido menino, como te posso ajudar?"

 

Com os braços cheios de cortes e os dedos sangrentos, o menino fitou-me de cima abaixo. Vendo que não iria falar muito, esperei pacientemente que arranjasse a coragem necessária: "Estou perdido", disse baixinho,  após alguns minutos, "nem na minha própria pele me sinto seguro". As lágrimas aumentaram e por isso decidi acalmá-lo. "Anda lá, querido menino, vou limpar-te as feridas".

 

Vê-lo assim doeu mais do que o que ele fizera a si próprio.

      

Com mais paciência e um copo de sumo de maçã, sentei-o novamente e quis saber mais: "O que te aconteceu, como te posso ajudar?". Desta vez mais calmo, o menino explicou-se: "Nunca me senti mais abandonado do que neste momento. Tenho a roupa rasgada e o rosto todo sujo. Mas não quero voltar para casa, não quero!", e gritou estridentemente, tentando fugir de mim.

 

Depois de o interrogar mais um pouco, descobri que tinha pais, tinha família, tinha casa, tinha comida. Pareceu-me que o problema dele era falta de atenção: "Ninguém ouve o que eu quero, só me dizem, todos os dias, o que não devo fazer". E ao murmurar esta frase adormeceu.

 

Parecia estar tão infeliz, mesmo a dormir, coitado, que lhe teria acontecido? Quando acordou, dei-lhe roupa nova, algo para comer, e limpei-lhe a cara.

 

No dia seguinte, ao ligar a televisão, deparei-me com a fotografia do rapaz. Os pais procuravam-no, desesperados. De imediato ligo para o número de telefone que aparecia em letras gordas e não tardou que aparecesse um casal visivelmente perturbado. Levaram o filho para casa e prometeram ser uns pais mais presentes e atentos.

 

Hoje, Peter tem 15 anos e quase todos os dias me visita, com uma flor para me dar.

      

Dina Datta, 12º D

Texto produzido no âmbito do Clube de Escrita Criativa

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