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16 de junho de 2015

A experiência dos limites na literatura

Radiografia de flores, Steven Meyers
Escritas em distintos séculos, movimentos artísticos diversos e diferentes cantos do mundo, Sofrimentos do Jovem Werther (Goethe, Alemanha, 1774),  Ligações Perigosas, (Choderlos de Laclos, França, 1782), Cartas Portuguesas, atribuídas a Mariana de Alcoforado (França, 1669), e Novas Cartas Portuguesas (Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, Portugal, 1973), são quatro obras que tudo teriam para ser distantes, caso algo não as aproximasse. 


Aproxima-as, então, a sua construção epistolar e a violência com que exploram o tema preferido da literatura: o amor. Se o amor é violento e rasga corações, cozendo-os com a agulha da dor, é também assunto em que pensar e  a partir do qual indagar a natureza humana.

Nas quatro obras é analisado este jogo sob a perspetiva dos dois jogadores (caso houvesse uma obra do século XXI, seriam mais os cenários do jogo): enquanto a obra de Goethe, fundadora do Romantismo, se debruça sobre um homem de coração desvendado por uma auto-análise minuciosa, e Laclos revela o sofrimento das vítimas do jogo, na sua dimensão mais perversa, as novas e velhas cartas portuguesas dão-nos a perspetiva da mulher, coisificada no jogo do amor e do sexo. 

Desta forma, as quatro obras respondem perfeitamente ao tema da experiência dos limites. 

 Beatriz Lourenço, 12º E, Clássicos da Literatura

3 de março de 2015

Respeitar é sinónimo de partilhar


Devemos respeitar e tratar os animais, tal como respeitamos e tratamos qualquer outro ser vivo. Este foi um dos princípios que a minha família me passou, pois, desde pequena, têm vindo a crescer comigo vários animais domésticos. 

De facto, sempre houve gatos e cães numa convivência alegre e harmoniosa no meu lar. Neste momento, tenho dois cães, o Cookie, um cão de guarda com grande porte, e a Lady, a quem a minha mãe se refere como a sua outra filha. Quanto a gatos, tenho vários: os independentes, Minnie, Zeus e Pitágoras, e os que partilham o meu teto, Silvestre e Marie.

Todos eles me têm ensinado como se deve ou não se deve tratar os animais: antes de mais deve atender-se às suas necessidades básicas, como a comida e o resguardo; levá-los ao veterinário e tratá-los quando estão doentes; devemos ainda amá-los e acarinhá-los. Por outro lado, devemos denunciar situações de maus tratos, que incluem o abandono, a violência e o desleixo.

Para finalizar, devo reforçar que os animais nos respeitam, nos amam e que merecem esse respeito e amor de volta, já que, lá no fundo, não somos nós que adotamos os animais, mas sim eles que nos adotam a nós! 


                                                                                                                                                                                                    Leonor Solla, 8.º E


3 de fevereiro de 2015

A ARTE COMO REVELAÇÃO

Procissão do Corpo de Deus (1913), pintura de Amadeo de Souza-Cardoso
A arte é um bem comum, um luxo acessível. Não é necessária, mas é essencial. Representa o expoente da humanidade, a realização que mais longe nos coloca dos outros seres vivos que conhecemos. De facto, mais emocionante do que uma criança prodígio com o talento de um adulto, é um adulto com a inocência da criança no olhar, embora aprisionado na sua razão. Um artista.

Ser artista é ascender da nossa condição por breves momentos. Nesta ascensão, ganhamos a capacidade de nos observarmos, como que de fora. É o que vemos na poesia de Fernando Pessoa, que consegue perder-se em si mesmo e deixar de ser quem é, sem nunca deixar de o ser. E mostrar-nos o caminho para a autodescoberta.

O artista é o portal para o mundo interior, é a criança que tem a capacidade de ver sempre as coisas pela primeira vez, mas com a lucidez de um velho sábio. É o que acontece com pintores como Amadeu de Sousa-Cardoso que, no seu quadro Procissão de Amarante, revela, no comum, o fantástico, como se de uma criança se tratasse.

Por tudo isto, a arte é árdua de decifrar. E esta minha reflexão não passa de um tiro na imensa escuridão que é o nosso ser.

Ivo Ferreira, 12ºC

21 de janeiro de 2015

Ricardo Reis e Álvaro de Campos



Ricardo Reis e Álvaro de Campos são talvez os mais diferentes heterónimos pessoanos. Enquanto um vive numa introspectiva e estóica abdicação dos seus desejos, o outro ilude-se, experimenta e desilude-se.

Ao passo que o poeta helenista se enquadra harmoniosamente numa natureza mitológica, o revolucionário ferve em ateias odes futuristas à máquina e ao progresso. Se um é consolado, o outro é inconsolado e inconsolável com a efemeridade da vida e as limitações da racionalidade humana.

Enquanto Reis expressa, de forma requintada e elegante, os ideais de perfeição de espírito em que se refugia, Campos desabafa, de forma confessional, subversiva e estridente, a revolta face a  um mundo “que é para quem nasce para o conquistar/ E não para quem sonha que pode conquistá-lo”. 

Beatriz Lourenço, 12º E

19 de janeiro de 2015

Ainda a propósito do conceito de felicidade

Bonheur de vivre (1905), pintura de Matisse
A definição de felicidade e do modo como a alcançamos tem vindo a alterar-se ao longo das gerações. Atualmente, considera-se que, para se ser feliz, é necessário dinheiro, e só depois podemos encontrar felicidade. Eu defendo que a única maneira de nos sentirmos felizes é encontrarmos algures um sentimento de realização.

No meu entender, esse sentimento de realização é atingido de duas formas. A primeira remete-nos para o cumprimento de objetivos, e a segunda para o altruísmo em relação aos outros.

O cumprimento de objetivos está relacionado com o que definimos para a nossa vida como sendo prioritário. Se o processo para o conseguirmos foi extremamente difícil e o esforço que fizemos foi imenso, somos invadidos por uma felicidade extrema, sentimo-nos realizados. Temos o exemplo de Albert Einstein que, a uma determinada altura da sua vida, definiu como objetivo completar a teoria da Relatividade e, quando o conseguiu, disse: “Já posso partir em paz porque o meu trabalho na terra está completo”. Os humanos, frequentemente, definem objetivos mais banais, como ser médico ou ter 20 a matemática. Mas todos estes pequenos objetivos acabam por contribuir para a nossa felicidade. 

Existe outra forma de alcançar a felicidade que é colocar-se em risco para ajudar os outros. Os que o fazem sentem que a sua  vocação é ajudar o próximo, fazer o melhor que podem para tornar o mundo ligeiramente melhor, como o caso de Madre Teresa de Calcutá, que tinha consciência de que o que fazia era “uma gota no oceano”, mas sabia que era o seu altruísmo que lhe trazia alegria. 

Concluindo, existem várias formas de alcançar a felicidade e cada um de nós tem a sua definição de felicidade e uma ideia do que fazer para atingi-la, no entanto, acho que todas essas definições acabam por convergir para a afirmação de Pessoa: “ser feliz consiste/Apenas em ser feliz”.


Gonçalo Borges, 12.º A

11 de janeiro de 2015

Ser feliz consiste apenas em ser feliz


Viktor Popkov - Natureza morta em colcha de retalhos 
Fernando Pessoa escreve, a determinado momento, que “…ser feliz consiste/ Apenas em ser feliz”. Isto parece-me uma redundância que pretende expressar que a felicidade se alcança de uma forma não pensada, apenas sentida. Não estou de acordo com esta perspetiva. Parece-me, antes, que a felicidade se encontra no balanço frágil entre o pensar e o sentir.

Ser feliz sem pensar é bom, até saboroso. A felicidade apresenta-se de um modo simples, como algo que sentimos e nos inunda de alegria. Mas, assim como o sentir frio passa, também o sentir a felicidade pode passar, e depois, quando não a sentimos mais, nesse momento surge dentro de nós um vazio que pode ser muito destrutivo.

Por outro lado, viver a felicidade de uma forma demasiado refletida leva-nos a deixar de a sentir, torna-nos demasiado ponderadores, leva-nos a pesar cada aspeto dessa bem-aventurança, o que a faz diminuir e, por fim, desaparecer, tornando qualquer motivo de felicidade insuficiente aos olhos do nosso pensamento.

Ao contrário das anteriores perspetivas, penso que viver a felicidade, um dia de cada vez, cria um balanço entre o sentir e o pensar. Pensando menos e aceitando cada dia, meditamos na felicidade de uma forma agradável, conciliando o nosso conhecimento com aquilo que experimentamos. E pensar menos permite-nos sentir mais e viver o nosso bem-estar de uma forma mais intensa e real.

Em conclusão, o verdadeiro modo de alcançar a felicidade encontra-se na disponibilidade para vivermos um dia de cada vez e na disciplina para equilibrarmos pensamento e emoções.

                                                                      Francisco Loureiro, 12º A

10 de maio de 2014

Into the Wild, into the minds


Recentemente, na aula de Filosofia vimos e analisámos um filme inebriante e inspirador, Into The Wild. Realizado por Sean Penn, é a interpretação cinematográfica da aventura de Christopher McCandless que, com 22 anos, sente que vive uma falsidade encenada pela sua família, sendo o seu pai bígamo e a sua mãe conivente, e ambos um pouco superficiais, contrastando com Christopher, que  dispensava o materialismo, a futilidade, a hipocrisia e o modo de vida consumista. A sua identidade não está ainda definida e é no âmbito da procura de si mesmo, do âmago da felicidade e da autenticidade pessoal, que parte para uma aventura, rumo ao Alasca. 

Ao longo de dois anos de aventura, o protagonista assume-se como naturalista radical e adota o nome de "Alex Supertramp", Alex Vagabundo. A sua posição relativamente à felicidade é clarificada quando, moribundo por inanição, e no auge da sua consciência, Christopher se liberta dos dogmas e, ao imaginar-se nos braços da família, reavalia a vida e conclui que a felicidade só é verdadeira quando partilhada.

O filme propõe reflexão e evidencia vários problemas filosóficos. As relações afetivas, a identidade, o sentido da vida, a verdade, o egoísmo, o livre-arbítrio e a felicidade são alguns deles, e são matéria exigente do espírito e do pensamento livre de dogmas.

Este é um filme muito bem construído e especial, desde a narrativa em retrospetiva, passando pela banda sonora, criada por Eddie Vedder e interligada com a ação, enriquecendo-se com as excelentes fotografias da natureza e com o ótimo trabalho do elenco  – particularmente a “encarnação” de Christopher, por Hemile Hirsch – passando pela intensidade emocional das cenas e pela contextualização de citações clássicas que contribuem em muito para a reflexão e para o enriquecimento cultural. 

Concluindo, este foi o filme mais espetacular que já vi, pois observando a descoberta de Christopher, o conhecimento de si mesmo e do mundo, procuramo-nos também a nós próprios. E conhecer o nosso interior é aprendermos a exteriorizá-lo e, assim, a viver.

Beatriz Lourenço, 11º E

3 de abril de 2014

Solar XXI - um edifício energeticamente sustentável

Quando se olha de longe, parece um harmonioso edifício de azulejos azuis-escuros e janelas. À medida que nos aproximamos, os azulejos ganham mil cores e refletem a luz de uma forma diferente, e desconfiamos. Assim que estamos suficientemente perto e, por cima da entrada principal, podemos ler “Solar XXI”, não existem dúvidas: os supostos azulejos deste edifício do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) são afinal células fotovoltaicas.

Somos então recebidos no “Solar XXI” e levados até a uma sala com um aspeto diferente. O gentil arquiteto que nos recebeu explica as estratégias envolvidas na construção deste edifício de baixíssimo consumo de energia, incluindo os estranhos aspetos da tal sala. Aprendemos, nesta primeira interação, que reduzir o gasto da energia que é usada na regulação da temperatura de um edifício é essencial. A simples técnica de baixar o estore durante o verão, evitando, assim, recorrer a um ar-condicionado, é fundamental para reduzir o consumo de energia. Outro exemplo curioso, de entre muitos que nos foram apresentados, é o facto de se poder aproveitar a energia térmica que se gera junto aos painéis fotovoltaicos exteriores (os tais “azulejos” das paredes) para aquecer o interior que lhe está adjacente. No final desta conversa, ficámos a saber ainda que, uma vez que a atividade dentro do edifício decorre durante o dia, é importante existirem muitas janelas e aproveitar-se a luz diurna para iluminação do local. Assim, fora raras exceções, o gasto de energia em iluminação é quase desprezível.

Após esta conversa somos levados até outra sala e recebidos por um outro investigador do LNEG. Nesta segunda parte da visita discute-se o aproveitamento elétrico ao nível dos painéis fotovoltaicos do exterior do edifício, que vão servir para produzir energia elétrica através da radiação solar. Em primeiro lugar, foi-nos mostrado o aproveitamento do processo fotovoltaico consoante as estações do ano. Não fazia ideia de que era durante o inverno que mais energia fotovoltaica se produzia: o facto de o sol se encontrar mais próximo da Terra e, por isso, se captar uma radiação mais intensa, é determinante no rendimento do processo fotovoltaico. Mas surge a questão das nuvens: no inverno existem mais nuvens (e negras, que absorvem mais radiação), como se obtém nesse caso um maior rendimento? É que existem células fotovoltaicas cujo espetro de absorção é mais intenso para radiações que as nuvens não absorvem. Apercebemo-nos então de que existe todo um vasto trabalho de investigação cujo objetivo é a procura das condições a que se deve sujeitar uma célula para que o seu aproveitamento seja máximo.

Ao cabo destas duas conversas, aprenderam-se coisas muito interessantes do ponto de vista da poupança de energia e da sua produção renovável. Apercebemo-nos ainda de que uma maior consciência acerca da natureza dos edifícios e o aumento da utilização destas técnicas na sua construção seria uma grande vantagem para as nossas cidades, tanto do ponto de vista monetário (tendo em conta que se poupa em energia) como do ponto de vista ambiental (na medida em que a energia utilizada no edifício é de uma fonte renovável).
Em suma, acredito que esta visita ao Solar do século XXI do LNEG foi um momento importante para o nosso 12ºB, na medida em que se aprendeu sobre o funcionamento e a utilidade que os edifícios de baixo consumo de energia representam. “Em direção à energia zero”!

Pedro Constantino, 12º B

25 de março de 2014

Encontro de culturas


Biombos Namban, Japão, sec. XVI-XVII

Do encontro entre povos e culturas, muito há a ganhar; mais há, certamente a perder. - Joan D. Vinge

Quando povos diferentes são forçados a partilhar o mesmo espaço, é provável que surjam rivalidades. Assim sendo, poderemos ter, como afirma a escritora Joan D. Vinge, mais a perder do que a ganhar. Contudo, e na minha opinião, se houver respeito e uma boa organização social, os ganhos podem ser mais relevantes que as perdas.

Com efeito, quando ocorre o encontro de dois povos diferentes, é inevitável que comuniquem, que partilhem opiniões, ideias, costumes e experiências. Com o tempo, e dado que partilham o mesmo local, a probabilidade de casarem entre si não é absurda, pelo contrário. Desta forma unir-se-ão, formando um novo povo, diferente dos dois originais, um povo mais enriquecido e homogéneo. Esta será uma verdadeira vantagem, embora possa também resultar numa perda de identidade das sociedades iniciais, nas duas ou três gerações seguintes. 

Outro argumento a favor do encontro é a possibilidade de  se protegerem mutuamente de possíveis invasões de outros povos mais poderosos e agressivos. Ao partilharem as diferentes técnicas e recursos de combate, tornar-se-ão mais fortes, acabando por se complementar. Por outro lado, há quem diga que esta união nunca iria resultar, pois os povos  estariam permanentemente em guerras internas, acabando o povo menos desenvolvido por sr absorvido ou destruído. Isto seria sem dúvida um forte argumento contra a reunião e tentativa de cooperação dos povos.


Em suma, o encontro de culturas diferentes é quase sempre vantajoso, pois desse encontro resulta uma partilha que estimula o desenvolvimento e pode tornar os povos mais fortes e completos. Mas, para tal, é necessário que haja respeito mútuo.

João Lopes, 11º C

14 de março de 2014

A importância das palavras

Desde que o Homem aprendeu a comunicar, a evolução da humanidade acelerou de forma exponencial. Hoje, em tempos de crise e de guerra, a palavra é uma das armas mais fortes a serem usadas, uma vez que tanto pode conduzir à libertação, como à opressão.

A Torre de Babel, pintura de Pieter Brueghel
O mundo sempre estará em conflito, enquanto houver ambição (algo que é inerente à condição humana). No entanto, tal como o dito popular nos diz, “a conversar é que se resolvem os problemas”. Assim, em tempos de guerra e de crise, a palavra pode salvar muitas vidas e poupar muitas mortes. Se repararmos no caso da luta contra o racismo, Martin Luther King, através do seu discurso “I have a dream”, mobilizou quase todo um planeta, utilizando apenas a “força da palavra”. E, o que é facto, é que isso possibilitou a vida em liberdade de muito mais pessoas de raça negra.

Por outro lado, a palavra pode ser usada, não como arma, mas como testemunho ou ensinamento. Este uso da palavra influencia e acelera bastante a evolução da espécie humana. Deste modo, os conhecimentos de hoje podem passar para as gerações de amanhã e, quem sabe, estas façam grandes descobertas que mudem a própria essência do Homem e da vida. Sabe-se, por exemplo, que muito do conhecimento atual – os fundamentos da matemática, por exemplo – vem dos antigos, sejam egípcios, romanos ou fenícios, e que nos chegaram através de livros ou pergaminhos (e mesmo escritos em pedra) e aliás, são esta palavras que nos permitem compreender a nossa própria história.

Em suma, a palavra é um dos elementos mais importantes da nossa vida (e espécie). Permitiu-nos chegar onde estamos e ao que somos hoje, sendo também a nossa esperança para o futuro.

José Mateus, 12º B 

5 de fevereiro de 2014

Passarox, de Castro Guedes - a peça que os Gambuzinos andam a tecer

Quem não se lembra de Adolf Hitler, “o tirano”?… E quem se lembra de Adolf Hitler, “o eleito democraticamente”?  O homem que queria ser pintor tornou-se desenhador da morte, da mesma forma que o homem que queria ser cozinheiro se tornou manipulador de alimentos: as aves. Sem asas para alcançar o céu e sem interesses comuns aos anjos, o “Mestre” serviu-se das asas de cada tipo de ave, correspondente a cada tipo de homem: o homem abutre, o papagaio, o cérebro-de-galinha, o avestruz, (que não quer encarar os próprios problemas), o sábio mocho, o futurista falcão…

Passarox é a terra em que as aves se deixam ouvir. Vivem numa hierarquizada civilização que equivaleria a uma monarquia democrática: a águia, majestosa ave soberana, “símbolo de todos os impérios”; as aves predadoras, como o falcão e o milhafre; e a plebe. 


Também os homens acreditam viver democraticamente, esquecendo que a democracia é um império erguido pelos faraós do tempo, e que, tal como o império romano, se não for mantido… rui. Castro Guedes reparou que a democracia tem sido corroída pelos vícios sociais e pela corrupção e decidiu “acordar” o mundo. 


E se ridendo castigat mores, tal como Vieira se serviu dos peixes, Guedes serve-se dos seres alados para atingir a humanidade que, com o seu cérebro de galinha, está suscetível ao ataque de qualquer galo.


Beatriz Lourenço, 11º E

13 de março de 2013

Novas Cartas Portuguesas #2


Novas Cartas Portuguesas é uma obra escrita conjuntamente pelas escritoras Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. Publicada em 1972, inspira-se nas famosas Lettres Portugaises, uma obra clássica do século XVII, composta por cinco cartas em francês, supostamente escritas por uma freira portuguesa, Mariana Alcoforado, no Convento da Conceição, em Beja, após ter sido seduzida e abandonada pelo amante, o cavaleiro francês Noel Bouton (Chevalier de Chamilly).

NCP constitui um marco crucial na evolução do pensamento feminista na literatura portuguesa, revelando, através de uma escrita ousada e por vezes agressiva, a existência de situações discriminatórias agudas em Portugal, relacionadas com a repressão ditatorial, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher, sobretudo no que se referia ao casamento, à maternidade e à sexualidade feminina. 

Quando o livro foi publicado, causou grande escândalo, por ter sido considerado “imoral” e “pornográfico”, uma vez que as autoras abordavam temas considerados tabu, como o desejo físico e o fingimento do prazer feminino enquanto forma de alimentar as ilusões masculinas. Para além de outras críticas à sociedade portuguesa de então. 

A primeira edição de NCP foi recolhida e destruída pela Pide, e as autoras, acusadas de atentado à moral pública, foram interrogadas na polícia política e enxovalhadas em público. Mas a sua obra ficou conhecida nos dois lados do Atlântico, bem como as autoras (desde logo apelidadas “as três Marias”) que se tornaram alvo da atenção da imprensa internacional, do New York Times ao Nouvel Observateur. Simone de Beauvoir, Stephen Spender, Marguerite Duras e Doris Lessing foram algumas das personalidades que deram o seu apoio às autoras e que protestaram com ênfase contra o seu julgamento. Mas só após o 25 de abril é que o processo foi suspenso. 

O livro é composto por vários fragmentos, o que expressa a própria conceção da mulher portuguesa, desgarrada na sua essência, mas transmite uma só mensagem: a mulher também tem voz.  E apesar de ter sido publicado em 1972, o livro denuncia situações que, ainda hoje, são uma realidade no nosso país: é o caso da violência doméstica. Receio que este tipo de violência se verifique na nossa sociedade ainda por muito tempo, devido à mentalidade machista que continua impregnada na nossa cultura. De facto, a mulher continua a ser vista por muitas pessoas como propriedade do homem.

Enquanto seres humanos e mulheres, devemos continuar a luta das “Três Marias”, no desmantelamento das mentalidades retrógradas e machistas que continuam a proliferar, não só em Portugal, como um pouco por todo o mundo. Está nas mãos das gerações vindouras evitar que os direitos que as mulheres ocidentais conquistaram tão duramente se deteriorem, e batalhar para que todas as mulheres, nos quatro cantos do mundo, possam ser vistas como seres humanos, dotadas de inteligência e de coragem, mas também de fragilidades, tal como os homens. 

Indira Leão, aluna de Clássicos da Literatura do 12º F

8 de março de 2013

Novas Cartas Portuguesas



Escritas por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, e publicadas em 1972, Novas Cartas Portuguesas são um esplêndido exemplo da luta pelos direitos das mulheres numa sociedade extremamente opressiva e conservadora, na qual o papel da mulher se limitava à lida doméstica e ao cuidado do marido e dos filhos. 

Maltratadas, enclausuradas, casadas à força, enganadas, exploradas e, apesar de tudo, extremamente pacientes” (Maria Graciete Besse), foram estas as mulheres que inspiraram as autoras a lutar pela mudança dos códigos morais e das mentalidades, a lutar contra o conformismo instalado em Portugal


Lutar, ser um pouco mais, ou mesmo sonhar, não era então permitido às mulheres, mas estas três uniram-se e desta união surgiu uma obra única que os movimentos feministas, sobretudo em França e nos Estados Unidos, acolheram com grande entusiasmo. Mas, no Portugal da ditadura, as "três Marias", como ficaram conhecidas, foram acusadas de “pornografia e ultraje à moral pública”, e viram a sua obra apreendida pela censura e retirada do mercado. O que não impediu a sua leitura e reconhecimento.

Este livro é um grito de liberdade, de frontalidade e de extrema coragem, pois nele são abordados temas tabu, desde os abusos sexuais, ao quotidiano da mulher portuguesa. “Que de homens precisamos, mas não destes”, escrevem as autoras. De facto, o comportamento masculino é duramente criticado, embora seja apoiado pela sociedade, e o homem é denunciado como o machista que maltrata, abusa e detém uma superioridade gigantesca sobre a mulher, a qual lhe deve submissão. 

As Novas Cartas são assim uma confissão de “perplexidade sobre o mundo” e o testemunho de uma luta constante que só será vencida com persistência e amor “nunca cansado”.  Toda a obra é uma prova de resistência, de coragem e de bravura, onde a verdade nunca é encoberta. 

Na última carta, a ponto de concluir esta obra a três mãos, dirá a voz comum das três mulheres: “Continuamos sós, mas menos desamparadas”.

Carolina Quitério, aluna de Clássicos da Literatura do 12º E

6 de fevereiro de 2013

A aventura de ensinar

No 1º número de Forma de Vida, publicação online que se define como "fórum de literatura e ideias", um ensaio de Maria Pacheco de Amorim acerca das contingências do acto de ensinar.

Aqui deixamos a ligação para o texto, que nos parece de proveitosa leitura, bem como um excerto. Os sublinhados são nossos.

«Um dos meus alunos estuda ao meu lado duas vezes por semana. Enquanto eu própria trabalho a preparar aulas, ele faz os trabalhos de casa e outros exercícios de consolidação da matéria. É um aluno inteligente, mas também (talvez por isso mesmo) indisciplinado. 

A minha responsabilidade é ajudá-lo a estudar de forma constante e, com isso, aprender bem as diferentes matérias. O problema é que, a bem dizer, não sei como o fazer. Claro que sei uma série de coisas: que para estudar é preciso fazer resumos, decorá-los, resolver os exercícios; que o sacrifício do estudo traz um gosto no final; que ficamos contentes quando percebemos uma coisa nova; que devo chamá-lo quando se atrasa; que é preciso bater com o dedo na mesa quando, pelo canto do olho, vejo que se distraiu; que ironizar desmancha a sua resistência melhor do que ralhar; que às vezes é preciso ralhar. 

O que não sei, do que não estou certa, é do que é preciso em cada instante, nem do que acontecerá caso eu faça uma de entre estas várias coisas. O meu aluno não é um piano que, premindo eu uma tecla, tocará a nota que quero ouvir. E é isto que me faz perceber que não estou diante de um objeto e sim de alguém como eu. E o que fará é sempre inesperado, imprevisível. 

Um dia, na última semana de aulas, cheguei à escola preocupada. Ralhara-lhe, e percebia que, com isso, exagerara. Por causa da tensão das semanas de testes, não fizera os trabalhos de casa e faltara a uma aula. Chamei-lhe a atenção e ele ficou irritado, chegando a ser insolente. Entretanto, o Natal aproximava-se e era importante que estudasse matemática regularmente durante as férias, fazendo exercícios de um livro que a professora de matemática me dera para que consolidasse as bases, livro com que ele trabalha no tempo em que está comigo. Cheguei de manhã pensando dizer-lhe que resolvesse todos os dias em casa alguns exercícios do mesmo, mas dada a crispação dos dias anteriores e a exigência em si da sugestão não sabia como o fazer. Falava com uma professora no recreio, e ia mentalmente pesando várias hipóteses, quando reparei que chegara. Enquanto hesitava em ir ter com ele, ele aproximou-se e perguntou-me se eu lhe podia fazer o favor de emprestar o livro para resolver exercícios durante as férias. Não me parece que possa vir a esquecer o meu contentamento, nem o dele ao ver o meu. 

A aprendizagem tem qualquer coisa de milagre e não pode ser feita sem a iniciativa do aluno. Nada do que eu faça pode provocar inevitavelmente esta iniciativa, porque o meu aluno não é uma extensão de mim e sim alguém diante de quem estou. Se não tivesse feito tudo o que fiz, julgo que nada poderia ter acontecido, mas não era fazê-lo que me garantia que fosse acontecer.»

26 de novembro de 2012

Acerca da Divina Comédia




Um ponto de vista
Dante Alighieri, pintura de Giotto
A “Divina Comédia” é uma obra poética do século XIV que narra uma viagem aventurosa imaginada por Dante, autor e personagem principal da “Comédia” que, posteriormente, recebeu o título de “Divina”. A obra divide-se em três partes (Inferno, Purgatório e Paraíso) e, através dela, Dante dá-nos a conhecer alguns aspetos da sua mundivisão. 
Dante vê o Inferno como um abismo circular que se situa debaixo de Jerusalém e se estreita de cima para baixo, penetrando até ao centro da Terra. A maneira como o poeta divide os nove círculos do Inferno e distribui os vários pecadores é, provavelmente, o aspeto que mais me intriga. Na minha opinião, “criar” um Inferno para castigar eternamente todas as almas pecadoras não faz sentido, pois penso que o maior castigo que podemos ter é perder o direito à vida.
Contudo, apesar de não concordar totalmente com a visão que Dante tem do mundo, penso que o Inferno presente na “Divina Comédia” nos faz refletir sobre a vida e perceber que todos os nossos atos têm consequências.

Ana Portugal, aluna de Clássicos da Literatura, 12º F