8 de março de 2013

Novas Cartas Portuguesas



Escritas por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, e publicadas em 1972, Novas Cartas Portuguesas são um esplêndido exemplo da luta pelos direitos das mulheres numa sociedade extremamente opressiva e conservadora, na qual o papel da mulher se limitava à lida doméstica e ao cuidado do marido e dos filhos. 

Maltratadas, enclausuradas, casadas à força, enganadas, exploradas e, apesar de tudo, extremamente pacientes” (Maria Graciete Besse), foram estas as mulheres que inspiraram as autoras a lutar pela mudança dos códigos morais e das mentalidades, a lutar contra o conformismo instalado em Portugal


Lutar, ser um pouco mais, ou mesmo sonhar, não era então permitido às mulheres, mas estas três uniram-se e desta união surgiu uma obra única que os movimentos feministas, sobretudo em França e nos Estados Unidos, acolheram com grande entusiasmo. Mas, no Portugal da ditadura, as "três Marias", como ficaram conhecidas, foram acusadas de “pornografia e ultraje à moral pública”, e viram a sua obra apreendida pela censura e retirada do mercado. O que não impediu a sua leitura e reconhecimento.

Este livro é um grito de liberdade, de frontalidade e de extrema coragem, pois nele são abordados temas tabu, desde os abusos sexuais, ao quotidiano da mulher portuguesa. “Que de homens precisamos, mas não destes”, escrevem as autoras. De facto, o comportamento masculino é duramente criticado, embora seja apoiado pela sociedade, e o homem é denunciado como o machista que maltrata, abusa e detém uma superioridade gigantesca sobre a mulher, a qual lhe deve submissão. 

As Novas Cartas são assim uma confissão de “perplexidade sobre o mundo” e o testemunho de uma luta constante que só será vencida com persistência e amor “nunca cansado”.  Toda a obra é uma prova de resistência, de coragem e de bravura, onde a verdade nunca é encoberta. 

Na última carta, a ponto de concluir esta obra a três mãos, dirá a voz comum das três mulheres: “Continuamos sós, mas menos desamparadas”.

Carolina Quitério, aluna de Clássicos da Literatura do 12º E

3 comentários:

Soledade disse...

Em celebração do Dia da Mulher. Muito bem, Carolina :-)

Ana Quitério disse...

Boa!
as Novas Cartas lidas no secundário?!
O mundo girou tanto. Alvíssaras!
Abertura ao mundo, persistir e "amor nunca cansado" - ferramentas essenciais de Ser Humano(a).

Soledade disse...

As Humanidades são de facto uma larga janela para o mundo e paraa vida - assim a possamos abrir!