13 de março de 2013

Novas Cartas Portuguesas #2


Novas Cartas Portuguesas é uma obra escrita conjuntamente pelas escritoras Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. Publicada em 1972, inspira-se nas famosas Lettres Portugaises, uma obra clássica do século XVII, composta por cinco cartas em francês, supostamente escritas por uma freira portuguesa, Mariana Alcoforado, no Convento da Conceição, em Beja, após ter sido seduzida e abandonada pelo amante, o cavaleiro francês Noel Bouton (Chevalier de Chamilly).

NCP constitui um marco crucial na evolução do pensamento feminista na literatura portuguesa, revelando, através de uma escrita ousada e por vezes agressiva, a existência de situações discriminatórias agudas em Portugal, relacionadas com a repressão ditatorial, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher, sobretudo no que se referia ao casamento, à maternidade e à sexualidade feminina. 

Quando o livro foi publicado, causou grande escândalo, por ter sido considerado “imoral” e “pornográfico”, uma vez que as autoras abordavam temas considerados tabu, como o desejo físico e o fingimento do prazer feminino enquanto forma de alimentar as ilusões masculinas. Para além de outras críticas à sociedade portuguesa de então. 

A primeira edição de NCP foi recolhida e destruída pela Pide, e as autoras, acusadas de atentado à moral pública, foram interrogadas na polícia política e enxovalhadas em público. Mas a sua obra ficou conhecida nos dois lados do Atlântico, bem como as autoras (desde logo apelidadas “as três Marias”) que se tornaram alvo da atenção da imprensa internacional, do New York Times ao Nouvel Observateur. Simone de Beauvoir, Stephen Spender, Marguerite Duras e Doris Lessing foram algumas das personalidades que deram o seu apoio às autoras e que protestaram com ênfase contra o seu julgamento. Mas só após o 25 de abril é que o processo foi suspenso. 

O livro é composto por vários fragmentos, o que expressa a própria conceção da mulher portuguesa, desgarrada na sua essência, mas transmite uma só mensagem: a mulher também tem voz.  E apesar de ter sido publicado em 1972, o livro denuncia situações que, ainda hoje, são uma realidade no nosso país: é o caso da violência doméstica. Receio que este tipo de violência se verifique na nossa sociedade ainda por muito tempo, devido à mentalidade machista que continua impregnada na nossa cultura. De facto, a mulher continua a ser vista por muitas pessoas como propriedade do homem.

Enquanto seres humanos e mulheres, devemos continuar a luta das “Três Marias”, no desmantelamento das mentalidades retrógradas e machistas que continuam a proliferar, não só em Portugal, como um pouco por todo o mundo. Está nas mãos das gerações vindouras evitar que os direitos que as mulheres ocidentais conquistaram tão duramente se deteriorem, e batalhar para que todas as mulheres, nos quatro cantos do mundo, possam ser vistas como seres humanos, dotadas de inteligência e de coragem, mas também de fragilidades, tal como os homens. 

Indira Leão, aluna de Clássicos da Literatura do 12º F

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