20 de março de 2023

TARAS SHEVCHENKO - UM POEMA

 Quando perguntei ao nosso aluno Stas quem seria o poeta que, para a Ucrânia, estaria como Camões para Portugal, a resposta não se fez esperar: Taras Shevchenko. Falou-me orgulhosamente da vida de Shevchenko e pesquisámos, na internet, acerca do poeta e da sua obra. Decidimos então que seria interessante partilhar algumas destas informações com a comunidade escolar. Aqui ficam, assim como um poema, na melhor tradução que conseguimos encontrar "online".


 
Taras Shevtchenko foi poeta, pintor e desenhador. É considerado o fundador da moderna literatura ucraniana, sendo a sua obra maior a coletânea poética Kobzar.

Nasceu em 1814, no Império Russo, na atual região de Tcherkássi, Ucrânia. Pertencia a uma família de servos e teve uma infância difícil. Já em São Petersburgo, para onde se mudou para trabalhar, os primeiros anos não foram menos atribulados.

Por fim o jovem viria a ser libertado da servidão e pôde estudar na Academia das Artes de São Petersburgo, onde fez amizade com outros artistas e intelectuais e foi abrindo horizontes. O seu grande talento é reconhecido, quer como pintor, quer como poeta. Desenvolve uma obra notável e foram-lhe concedidas várias distinções.

Contudo, em 1845 foi preso por motivos políticos, e exilado. Ao exílio foi acrescentada a proibição de escrever ou desenhar – proibição que não acatou.

Em 1857 o artista recebe o perdão do czar e regressa, mas a sua saúde estava muito debilitada pelas terríveis condições do exílio e do campo prisional. Morre pouco depois, em 1861.

Taras Shevchenko, o mais importante poeta e humanista ucraniano, teve uma existência breve e dura: de 47 anos de vida, 24 passou-os em servidão, e 12 no exílio. Mas a sua obra perdura no tempo e permanece fonte de orgulho e inspiração para todos os ucranianos. 

 

     O SOL PÕE-SE

O sol põe-se, as colinas escurecem,
A avezinha cala-se, o campo sossega.
Os homens, satisfeitos, gozam o repouso,
Só eu contemplo… e a minha alma voa
Até ao pomar escuro da minha Ucrânia.
Voo em pensamentos,
E assim a alma se aquieta.
Negrejam campos, matas e montes,
No céu profundo nasce uma estrela.
Oh estrela, estrelinha! – e as lágrimas rolam.
Já surgiste na minha Ucrânia?
Será que olhos amados
No céu te buscam? Ou já esqueceram?
Se esqueceram, que durmam tranquilos,
E com o meu destino não se perturbem.

Taras Shevchenko, Ucrânia (1814-1861)

 

Pesquisa feita por Stanislav Shvets, 9º E

 

15 de março de 2023

PARA SALVAR O PLANETA NÃO BASTA QUE A POESIA SAIA À RUA

 Um título provocador e bem escolhido, para uma reflexão da Maria Costa acerca da diferença que pode haver entre o que defendemos e o que praticamos. Ora leiam.

Pintura de Jessie Arms Botke - Garças e Lótus


Neste texto, pretendo dar a minha opinião sobre como nos manifestamos e expomos as nossas opiniões em relação ao tema “Salvar o Planeta”, e como raramente fazemos o que defendemos.

Na minha opinião, falamos muito sobre como salvar o Planeta e como queremos sempre fazer o possível para que isso aconteça. Contudo, não conseguimos fazê-lo totalmente, porque, na maioria das vezes, não pomos em prática o que dizemos. E com frequência arranjamos justificações para não o fazer.

Por exemplo, afirmamos que é preciso fazer a separação do lixo. Mas provavelmente não o fazemos… ou não temos os contentores ao pé de casa; ou não temos os recipientes adequados; ou simplesmente
não queremos saber e não estamos preocupados com isso.

Também dizemos que precisamos de utilizar mais os transportes públicos, como forma de reduzir os combustíveis pouco amigos do ambiente, pois sabemos que, se todos adotássemos este comportamento, contribuiríamos de forma significativa para o bem-estar do Planeta.

Além disso, se andássemos mais a pé ou de bicicleta, também estaríamos a contribuir para a melhoria da nossa saúde. É certo que, muitas vezes, não conseguimos adotar estes comportamentos por causa da falta de transportes públicos nos lugares onde vivemos, o que dificulta as deslocações, mas também sabemos que é mais confortável andar em carros particulares.

Outro exemplo é o abate de árvores. Dizemos que não devíamos abater tantas árvores, para conservar o Planeta e o nosso ambiente, mas mesmo assim consumimos muito papel e derivados do papel. E muitas vezes nem nos lembramos da importância que as árvores têm na nossa vida, sendo elas uma das principais fontes de produção de oxigénio.

 Também sabemos que, com as alterações climáticas, têm vindo a verificar-se mais períodos de seca no nosso país e no mundo. Vemos constantemente nos telejornais que a população consome e desperdiça muita água, por exemplo a tomar banho, a lavar os dentes, a regar os jardins, a lavar o carro ou a encher as suas piscinas particulares. Mais uma vez, não fazemos o que dizemos para salvar o Planeta, e não conseguimos pôr em prática hábitos sustentáveis.

Concluindo, ainda temos um longo caminho pela frente. Vamos ganhando mais consciência da importância de alterar alguns dos nossos comportamentos e hábitos, para não prejudicar gerações futuras. No entanto, são poucas as ações que fazemos no nosso dia a dia que tenham como objetivo não prejudicar o Planeta.

Maria Costa, 7ºC

25 de fevereiro de 2023

No aniversário de Cesário Verde

De tarde

 Naquele «pic-nic» de burguesas, 
 Houve uma coisa simplesmente bela, 
 E que, sem ter história nem grandezas, 
 Em todo o caso dava uma aguarela. 

 Foi quando tu, descendo do burrico, 
 Foste colher, sem imposturas tolas, 
 A um granzoal azul de grão-de-bico
  Um ramalhete rubro de papoulas.

 Pouco depois, em cima duns penhascos,
 Nós acampámos, inda o sol se via; 
 E houve talhadas de melão, damascos,
 E pão de ló molhado em malvasia. 

 Mas, todo púrpuro, a sair da renda 
 Dos teus dois seios como duas rolas, 
 Era o supremo encanto da merenda 
 O ramalhete rubro das papoulas.
 
                                      O Livro de Cesário Verde


12 de fevereiro de 2023

SORRISO DA PRIMAVERA

Damos a ler, com muita satisfação, um novo poema da Angélica.

Pintura de Alix Aymé (1894 - 1989), A rapariga de olhos dourados

As noites tornam-se longas.
Não vejo nada,
Não ouço nada,
Apenas sinto o que um dia já senti,
O vento gélido que se entranha,
As gotas que escorrem e caem,
Mas…
Pensei em ti e…
Uma brisa suave fez-se sentir,
O sol brilhou por dentro das nuvens,
A água cristalina correu pelo rio,
Um pássaro cantou,
Uma borboleta voou,
Uma flor nasceu,
Sorri,
É Primavera!

                                 Angélica Lourenço, 12º D

28 de janeiro de 2023

EUGÉNIO DE ANDRADE

 

Celebrar o grande poeta do amor, neste mês e ano do seu centenário. Ler, por exemplo, Os Amantes sem dinheiro, do seu 2º livro, publicado em 1950, com este mesmo título - um poema que guarda inteiro o esplendor e o sabor agridoce da adolescência.


Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com  a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

              Eugénio de Andrade

25 de dezembro de 2022

Natal de 44

Miró, Postal de Natal

Em miúdo alegrava-se-me o rosto
quando chegava a festa do Natal.
Toda a noite trabalhava a peneira
e de manhã vestiam-me a roupa bonita.

Então escapava-me de casa a correr
e andava na praça a mostrar-me;
e ao meio-dia em ponto na mesa enfeitada
comíamos todos em santa paz.

Oh, o meu Natal, o cheiro dos doces,
hoje passei-o às voltas numa estrada,
sem um pedaço de pão, a roupa emprestada,
longe de casa e sem amor de ninguém.

Tonino Guerra, traduzido por Nuno Dempster, a partir do Romagnolo

21 de dezembro de 2022

BOAS FESTAS

Bem-aventurados os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus.

                                                                                                     Mateus, 5:9

Pintura de Nabil Anani, Palestina, Família de Belém,1925.

 

18 de dezembro de 2022

DOS DEVERES E OBRIGAÇÕES DE TODOS NÓS

 

No discurso que proferiu quando recebeu o prémio Nobel da Literatura, em 1998, José Saramago falou do seu desejo de fazer do mundo um lugar melhor, e da necessidade de firmarmos um conjunto de deveres éticos que todos os seres humanos deveriam respeitar. Deveres e obrigações que tomaram forma numa carta redigida por um grupo de trabalho da Universidade Autónoma do México.

O documento, inspirado no discurso de Saramago, foi elaborado por intelectuais e académicos de várias áreas e disciplinas, e incide na responsabilidade social e individual, associada aos direitos consignados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Estes são os principais pontos desta notável Carta dos Deveres e Obrigações do Homem, que a todos deveria obrigar-nos, no nosso anseio por um mundo melhor:
  • Obrigação de erradicar a fome e de não desperdiçar comida.
  • Obrigação de erradicar o analfabetismo e de oferecer educação de qualidade.
  • Obrigação de partilhar o conhecimento técnico e a perícia, para promover a saúde integral.
  • Obrigação de comportamento rigoroso e respeitoso, ao exercer a liberdade de expressão.
  • Obrigação de utilizar com eficiência a energia e as medidas destinadas à poupança energética
  • Obrigação de eliminar a desigualdade extrema nas sociedades e de propiciar a igualdade social.
  • Obrigação de hospitalidade para com emigrantes e refugiados.
  • Obrigação de dirigir o conhecimento científico para a preservação da vida.
  • Obrigação de respeitar o meio ambiente e de contribuir para a sua limpeza, manutenção e regeneração
  • Obrigação de respeitar o habitat e a forma de vida dos animais não humanos.
Informação recolhida em:
http://verne.elpais.com/verne/2015/10/17/articulo/1445091220_052404.html

12 de dezembro de 2022

Relativismos

 Para sorrir, que também é preciso, embora o assunto da sátira seja sério. Ora vamos lá pensar!

Cartoon sem autoria atribuída, assim encontrado na internet

 

7 de dezembro de 2022

CHAMO-ME ART E TENHO 90 ANOS

Da Ana Lourenço: escrever pondo-se no lugar do outro - duplamente, como num jogo de espelhos. Bem interessante.  

 


Mais uma tarde chuvosa de janeiro! Vou ficar na janela do meu segundo andar, a olhar quem passa. Nesta cidade, anda-se de carrossel.

Um jovem, creio que de vinte e poucos anos, protagonista da sua vida, anda de um lado para o outro, perdido. Parece perdido. Do que precisará ele? Orientação? Ajuda, um conselho amigo?

Observo-o cada vez mais curioso, dou comigo a pensar “será que vai fazer-se ao caminho ou ficar ali naquela chuva?”

De repente, revejo-me com aquela idade, de barbas bem tratadas, um pouco mais corcunda, mas nunca me faltou a postura, coisa que se foi perdendo com o tempo. Era um homem bonito!

Ele parecia inquieto a olhar para o telefone, assim como todos os outros como ele, que ali passam. Surpreendo-me que deste andar ainda consiga ver bem, da mesma maneira ou melhor do que quando tinha a sua idade. Talvez ele precise, depois de ouvir, ver. Se for esse o caso, chego-me à sua beira “Chamo-me Art e tenho 79 anos, visão apurada que me oferece um bom sentido de orientação, estás perdido, amigo?”.

Talvez ele apenas precise de fazer aquilo que recusei na sua idade: ouvir quem me dava as direções.

Ana Lourenço 12º D