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7 de dezembro de 2022

CHAMO-ME ART E TENHO 90 ANOS

Da Ana Lourenço: escrever pondo-se no lugar do outro - duplamente, como num jogo de espelhos. Bem interessante.  

 


Mais uma tarde chuvosa de janeiro! Vou ficar na janela do meu segundo andar, a olhar quem passa. Nesta cidade, anda-se de carrossel.

Um jovem, creio que de vinte e poucos anos, protagonista da sua vida, anda de um lado para o outro, perdido. Parece perdido. Do que precisará ele? Orientação? Ajuda, um conselho amigo?

Observo-o cada vez mais curioso, dou comigo a pensar “será que vai fazer-se ao caminho ou ficar ali naquela chuva?”

De repente, revejo-me com aquela idade, de barbas bem tratadas, um pouco mais corcunda, mas nunca me faltou a postura, coisa que se foi perdendo com o tempo. Era um homem bonito!

Ele parecia inquieto a olhar para o telefone, assim como todos os outros como ele, que ali passam. Surpreendo-me que deste andar ainda consiga ver bem, da mesma maneira ou melhor do que quando tinha a sua idade. Talvez ele precise, depois de ouvir, ver. Se for esse o caso, chego-me à sua beira “Chamo-me Art e tenho 79 anos, visão apurada que me oferece um bom sentido de orientação, estás perdido, amigo?”.

Talvez ele apenas precise de fazer aquilo que recusei na sua idade: ouvir quem me dava as direções.

Ana Lourenço 12º D