15 de março de 2023

PARA SALVAR O PLANETA NÃO BASTA QUE A POESIA SAIA À RUA

 Um título provocador e bem escolhido, para uma reflexão da Maria Costa acerca da diferença que pode haver entre o que defendemos e o que praticamos. Ora leiam.

Pintura de Jessie Arms Botke - Garças e Lótus


Neste texto, pretendo dar a minha opinião sobre como nos manifestamos e expomos as nossas opiniões em relação ao tema “Salvar o Planeta”, e como raramente fazemos o que defendemos.

Na minha opinião, falamos muito sobre como salvar o Planeta e como queremos sempre fazer o possível para que isso aconteça. Contudo, não conseguimos fazê-lo totalmente, porque, na maioria das vezes, não pomos em prática o que dizemos. E com frequência arranjamos justificações para não o fazer.

Por exemplo, afirmamos que é preciso fazer a separação do lixo. Mas provavelmente não o fazemos… ou não temos os contentores ao pé de casa; ou não temos os recipientes adequados; ou simplesmente
não queremos saber e não estamos preocupados com isso.

Também dizemos que precisamos de utilizar mais os transportes públicos, como forma de reduzir os combustíveis pouco amigos do ambiente, pois sabemos que, se todos adotássemos este comportamento, contribuiríamos de forma significativa para o bem-estar do Planeta.

Além disso, se andássemos mais a pé ou de bicicleta, também estaríamos a contribuir para a melhoria da nossa saúde. É certo que, muitas vezes, não conseguimos adotar estes comportamentos por causa da falta de transportes públicos nos lugares onde vivemos, o que dificulta as deslocações, mas também sabemos que é mais confortável andar em carros particulares.

Outro exemplo é o abate de árvores. Dizemos que não devíamos abater tantas árvores, para conservar o Planeta e o nosso ambiente, mas mesmo assim consumimos muito papel e derivados do papel. E muitas vezes nem nos lembramos da importância que as árvores têm na nossa vida, sendo elas uma das principais fontes de produção de oxigénio.

 Também sabemos que, com as alterações climáticas, têm vindo a verificar-se mais períodos de seca no nosso país e no mundo. Vemos constantemente nos telejornais que a população consome e desperdiça muita água, por exemplo a tomar banho, a lavar os dentes, a regar os jardins, a lavar o carro ou a encher as suas piscinas particulares. Mais uma vez, não fazemos o que dizemos para salvar o Planeta, e não conseguimos pôr em prática hábitos sustentáveis.

Concluindo, ainda temos um longo caminho pela frente. Vamos ganhando mais consciência da importância de alterar alguns dos nossos comportamentos e hábitos, para não prejudicar gerações futuras. No entanto, são poucas as ações que fazemos no nosso dia a dia que tenham como objetivo não prejudicar o Planeta.

Maria Costa, 7ºC

25 de fevereiro de 2023

No aniversário de Cesário Verde

De tarde

 Naquele «pic-nic» de burguesas, 
 Houve uma coisa simplesmente bela, 
 E que, sem ter história nem grandezas, 
 Em todo o caso dava uma aguarela. 

 Foi quando tu, descendo do burrico, 
 Foste colher, sem imposturas tolas, 
 A um granzoal azul de grão-de-bico
  Um ramalhete rubro de papoulas.

 Pouco depois, em cima duns penhascos,
 Nós acampámos, inda o sol se via; 
 E houve talhadas de melão, damascos,
 E pão de ló molhado em malvasia. 

 Mas, todo púrpuro, a sair da renda 
 Dos teus dois seios como duas rolas, 
 Era o supremo encanto da merenda 
 O ramalhete rubro das papoulas.
 
                                      O Livro de Cesário Verde


12 de fevereiro de 2023

SORRISO DA PRIMAVERA

Damos a ler, com muita satisfação, um novo poema da Angélica.

Pintura de Alix Aymé (1894 - 1989), A rapariga de olhos dourados

As noites tornam-se longas.
Não vejo nada,
Não ouço nada,
Apenas sinto o que um dia já senti,
O vento gélido que se entranha,
As gotas que escorrem e caem,
Mas…
Pensei em ti e…
Uma brisa suave fez-se sentir,
O sol brilhou por dentro das nuvens,
A água cristalina correu pelo rio,
Um pássaro cantou,
Uma borboleta voou,
Uma flor nasceu,
Sorri,
É Primavera!

                                 Angélica Lourenço, 12º D

28 de janeiro de 2023

EUGÉNIO DE ANDRADE

 

Celebrar o grande poeta do amor, neste mês e ano do seu centenário. Ler, por exemplo, Os Amantes sem dinheiro, do seu 2º livro, publicado em 1950, com este mesmo título - um poema que guarda inteiro o esplendor e o sabor agridoce da adolescência.


Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com  a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

              Eugénio de Andrade

25 de dezembro de 2022

Natal de 44

Miró, Postal de Natal

Em miúdo alegrava-se-me o rosto
quando chegava a festa do Natal.
Toda a noite trabalhava a peneira
e de manhã vestiam-me a roupa bonita.

Então escapava-me de casa a correr
e andava na praça a mostrar-me;
e ao meio-dia em ponto na mesa enfeitada
comíamos todos em santa paz.

Oh, o meu Natal, o cheiro dos doces,
hoje passei-o às voltas numa estrada,
sem um pedaço de pão, a roupa emprestada,
longe de casa e sem amor de ninguém.

Tonino Guerra, traduzido por Nuno Dempster, a partir do Romagnolo

21 de dezembro de 2022

BOAS FESTAS

Bem-aventurados os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus.

                                                                                                     Mateus, 5:9

Pintura de Nabil Anani, Palestina, Família de Belém,1925.

 

18 de dezembro de 2022

DOS DEVERES E OBRIGAÇÕES DE TODOS NÓS

 

No discurso que proferiu quando recebeu o prémio Nobel da Literatura, em 1998, José Saramago falou do seu desejo de fazer do mundo um lugar melhor, e da necessidade de firmarmos um conjunto de deveres éticos que todos os seres humanos deveriam respeitar. Deveres e obrigações que tomaram forma numa carta redigida por um grupo de trabalho da Universidade Autónoma do México.

O documento, inspirado no discurso de Saramago, foi elaborado por intelectuais e académicos de várias áreas e disciplinas, e incide na responsabilidade social e individual, associada aos direitos consignados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Estes são os principais pontos desta notável Carta dos Deveres e Obrigações do Homem, que a todos deveria obrigar-nos, no nosso anseio por um mundo melhor:
  • Obrigação de erradicar a fome e de não desperdiçar comida.
  • Obrigação de erradicar o analfabetismo e de oferecer educação de qualidade.
  • Obrigação de partilhar o conhecimento técnico e a perícia, para promover a saúde integral.
  • Obrigação de comportamento rigoroso e respeitoso, ao exercer a liberdade de expressão.
  • Obrigação de utilizar com eficiência a energia e as medidas destinadas à poupança energética
  • Obrigação de eliminar a desigualdade extrema nas sociedades e de propiciar a igualdade social.
  • Obrigação de hospitalidade para com emigrantes e refugiados.
  • Obrigação de dirigir o conhecimento científico para a preservação da vida.
  • Obrigação de respeitar o meio ambiente e de contribuir para a sua limpeza, manutenção e regeneração
  • Obrigação de respeitar o habitat e a forma de vida dos animais não humanos.
Informação recolhida em:
http://verne.elpais.com/verne/2015/10/17/articulo/1445091220_052404.html

12 de dezembro de 2022

Relativismos

 Para sorrir, que também é preciso, embora o assunto da sátira seja sério. Ora vamos lá pensar!

Cartoon sem autoria atribuída, assim encontrado na internet

 

7 de dezembro de 2022

CHAMO-ME ART E TENHO 90 ANOS

Da Ana Lourenço: escrever pondo-se no lugar do outro - duplamente, como num jogo de espelhos. Bem interessante.  

 


Mais uma tarde chuvosa de janeiro! Vou ficar na janela do meu segundo andar, a olhar quem passa. Nesta cidade, anda-se de carrossel.

Um jovem, creio que de vinte e poucos anos, protagonista da sua vida, anda de um lado para o outro, perdido. Parece perdido. Do que precisará ele? Orientação? Ajuda, um conselho amigo?

Observo-o cada vez mais curioso, dou comigo a pensar “será que vai fazer-se ao caminho ou ficar ali naquela chuva?”

De repente, revejo-me com aquela idade, de barbas bem tratadas, um pouco mais corcunda, mas nunca me faltou a postura, coisa que se foi perdendo com o tempo. Era um homem bonito!

Ele parecia inquieto a olhar para o telefone, assim como todos os outros como ele, que ali passam. Surpreendo-me que deste andar ainda consiga ver bem, da mesma maneira ou melhor do que quando tinha a sua idade. Talvez ele precise, depois de ouvir, ver. Se for esse o caso, chego-me à sua beira “Chamo-me Art e tenho 79 anos, visão apurada que me oferece um bom sentido de orientação, estás perdido, amigo?”.

Talvez ele apenas precise de fazer aquilo que recusei na sua idade: ouvir quem me dava as direções.

Ana Lourenço 12º D

23 de novembro de 2022

OS NOSSOS POETAS

A Angélica Lourenço partilha connosco um poema a pedir leitura atenta, que aceite acompanhar este convite à indagação de si. Muito bem, Angélica!

Pintura de Ton Dubbeldam, Water Garden

PASSAGEIRO

É água que escorre pelos dedos.
É uma faca de dois bicos,
Tanto movimenta, como estabiliza,
Tanto gera, como desola,
Tanto massacra, como cura.

Se o instante que está por vir é o futuro,
E o instante que passou é o passado,
Então o presente é um ápice… uma ilusão?

Criámos o relógio para controlar o tempo,
Mas é o tempo quem nos controla.
Corremos contra os ponteiros,
Aspiramos a eternidade na efemeridade.

O tempo está a terminar?
Não! Ainda falta… a primavera mal começou!
Será que falta?
Acredito que sim…
Quero acreditar que as flores estão a desabrochar,
Quero acreditar que os pássaros estão a cantar.

Mas sinto um ar gélido,
Que se entranhou e me arrepia.
Vejo folhas secas, folhas caídas.

Assim que pisei o mundo
A minha contagem regressiva começou,
Desconheço quanto tempo me resta,
Ninguém me diz, ninguém sabe...
Porque haveriam de saber?

O desconhecido é intimidante,
Devo viver na suave ignorância
Ou na dolorosa consciência?

Uma coisa eu sei!
Nada posso fazer senão continuar.
O tempo é passageiro, é finitude,
Velhos sábios ou jovens ousados,
Ambas as histórias terão um ponto final
E eu nada posso fazer
Senão continuar esta caminhada,
A caminhada de um mero passageiro.

Angélica Lourenço, 12º D

31 de maio de 2022

ASSIM QUIS O DESTINO

Integrado no projeto DAC que o 10º D/E desenvolveu este ano, um outro poema do Martim, desta vez de temática inesiana.

 

Giovanni Prini, Os Amantes, 1913

Reinava Afonso IV
No reino de Portugal
Nunca ninguém pensou
Que a história acabasse mal

D. Pedro, jovem príncipe
Gago e inteligente,
Apaixonou-se por Inês
Uma jovem sorridente

Um amor inesperado
Que tanta lágrima derramou
Assim estava destinado  
Para acabar como acabou

Triste história de vida  
Sofrimento e solidão  
Triste destino traçado  
Que lhe feriu o coração
 
Pedro era casado com Constança
Um casamento com fim traçado
Pois D. Pedro, el-Rei “Cruel”,
Por Inês andava enamorado

Nunca pode ele prever
Que seu pai a mandasse matar
Ali encontrou Inês
Deitada sem respirar

Malditos homens cruéis
Com ganância e frieza aos molhos
Mataram Inês de Castro  
E D. Pedro lhe fechou os olhos

D. Pedro jurou a seu pai
Que nunca se vingaria
Mas depois da sua morte
A promessa não cumpriria

Muito chorou D. Pedro
Tanto sofreu por amor
Assim quis o destino
Destino que lhe trouxe dor 

 

Martim Carvalho, 10º D

08/04/2022

22 de maio de 2022

DESAMORES

 Do Martim Carvalho, 10.ºD, um poema que diria inspirado nas rimas de Camões. 

Rosas,  1871, Henri Fantin-Latour

Não são rosas
Não são flores
Nem são pétalas
São desamores

São espinhos negros
Que picam meu leve peito
Não são aroma cruel
Sobre o qual me deito

Não tem cor
Tem pouca sorte
Não conhece amor
E espera pela morte

Morte que dói
E que acompanha a vida
Quão triste será
Acabar de alma perdida

Tanta dor que acarretas
E que não deixas ir embora
Assim que chegas mais perto
Vemos que já está na hora

Não é paixão nem amor
É só dor e sofrimento
Não é alegria nem sorrisos
É uma espera pelo tempo

Tanto tempo esperamos
Com medo de a morte chegar
Mas a morte é inofensiva
E a mim não me vai assustar

Martim Carvalho, 10º D

(27/04/2022)


25 de abril de 2022

25 de Abril

Steven Jones, pintor inglês contemporâneo

MANHÃ FUTURA

Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

20 de abril de 2022

ALCOBAÇA, A CASA DE INÊS E PEDRO


O mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, monumento fundador do gótico cisterciense em Portugal, começou a ser construído no século XII, depois da vitória de D. Afonso Henriques em Santarém. A igreja da Abadia segue o modelo de Pontigny, em França: uma arquitetura de rigor aplicada à imponente nave central, com mais de cem  metros de comprimento. O deambulatório, por onde os monges caminhavam em oração, é sustentado por arcobotantes, os primeiros em território português. Na ornamentação da Capela de S. Bernardo, os barristas de Alcobaça criaram uma das suas mais expressivas obras, modelando as estátuas em terracota. E depois há as cozinhas e as soluções engenhosas  para levar água a um espaço amplo, com preocupações de higiene.

Nos seis séculos seguintes, o espaço será acrescentado ou remodelado,  de acordo com os novos movimentos arquitetónicos e com a necessidade de cada monarca deixar a sua marca real.

Na história deste mosteiro há também uma vocação para o ensino; no século XVII chega a ser a mais importante escola monástica do reino. Mas já antes eram ali preparados os noviços, e os monges  copiavam manuscritos. 

Neste documentário que vos convidamos a ver, o historiador Rui Rasquilho apresenta-nos o monumento que está ligado ao início da monarquia portuguesa e onde estão guardados os mais belos túmulos da escultura funerária gótica, túmulos onde repousam  os imortais amantes, D. Pedro e D. Inês.

(texto adaptado de https://ensina.rtp.pt/artigo/patrimonio-mundial-portugues-mosteiro-de-alcobaca/)