16 de março de 2017

Um Herói

O Duarte Afonso traz-nos uma reflexão acerca de heróis, ídolos, celebridades. Será tudo a mesma coisa?


Um herói é muito mais do que um ídolo. Um herói supõe, a meu ver, que faça algo grandioso pela sociedade ou que, de alguma forma, contribua para o desenvolvimento da história mundial.

Primeiramente, gostava de referir que eu, como qualquer pessoa, tenho ídolos, referências. Fico bastante feliz quando vejo o “nosso” Ronaldo a marcar um golo ou a ganhar um prémio, da mesma forma que acho graça quando ouço o cómico Ricardo Araújo Pereira a falar nas manhãs da Comercial. Fico simplesmente contente, e isso é algo saudável. É bom termos exemplos a seguir, mas que não ultrapassem os limites.

Em segundo lugar, é notório que as novas tecnologias contribuem para o surgimento de celebridades, que facilmente se transformam em ídolos. Porém, há sempre aquelas pessoas que seguem os seus ídolos cegamente. Por exemplo, se num dia uma celebridade disser algo que soe bem ao ouvido, muitas serão as pessoas que, contagiadas, dirão essa mesma expressão, sem saber porque o estão a fazer.

Por último, creio que esta ideia também não é completamente válida, ou seja, um herói não é necessariamente um ídolo, pois muitos foram os heróis que não tiveram o devido reconhecimento.

Em suma, a noção de herói é diferente da de ídolo. É bom que todos tenham referências, mas que as sigam de forma saudável.

Duarte Afonso, 9ºB

1 de março de 2017

Heróis versus heróis

Um interessante texto do José Tobio, que avalia o mundo contemporâneo com espírito  crítico.

Fama (Dresden)
Na era dos Descobrimentos havia muitos heróis. Gente na esperança de encontrar ilhas ou terras, gente que olhava para a morte e se ria. Agora há quem chame herói a alguém que só faz figura de parvo!

É verdade que ainda existem heróis na nossa sociedade, mas comparados com os do passado são praticamente nada. Pessoas como Neil Armstrong, Usain Bolt ou Stephen Hawking são heróis, pois fizeram ou fazem coisas extraordinárias, dignas de memória, embora, provavelmente, não sejam comparadas às dos heróis do passado. Mas alteraram, cada um na sua área, o mundo. 

Há quem considere pessoas como o Cristiano Ronaldo ou o Justin Bieber heróis, uns entendo, outros não! Dizer que este é "o meu herói" porque lançou uma música “fixe” ou porque fez um vídeo popular no “youtube” não é estranho, é, no mínimo, absurdo!

Hoje, qualquer pessoa que seja considerada celebridade é um herói. Até podem ser racistas, homofóbicas, mas vai haver sempre alguém a dizer que quer ser como ele. Vá-se lá perceber! 

Comparo a minha geração a um íman, porque se algo ficar popular, nós vamos pegar-nos a isso e vamos vê-lo, ouvi-lo ou fazê-lo vezes sem conta!

Acredito que atualmente ainda existem heróis. Contudo, a sensação que tenho é que os que fazem coisas engraçadas ou os que fazem figura de parvos são mais facilmente lembrados. Felizmente, e alegra-me pensar assim, não como os que Camões define como aqueles que “se vão da lei da morte libertando”, pois “os parvos” serão tão breves como um fósforo, cuja chama é efémera.

José Tobio, 9B

25 de fevereiro de 2017

A propósito das obras e autores que vamos estudando

Maria Helena Vieira da Silva, Biblioteca
Que temos grandes escritores - tantas vezes lidos a contragosto pelos nossos alunos - sabemos bem que sim. E quando, rompendo a barreira da hegemonia cultural anglo-saxónica, chegam ao estrangeiro, o deslumbramento que despertam deveria tornar-nos a todos, se outras razões não houvesse, mais disponíveis a lê-los, a ser-lhes gratos e a não permitir que caíssem no esquecimento. 

Ora vejamos estes excertos de uma entrevista de Eugénio Lisboa, um dos nossos melhores ensaístas, acerca disto mesmo:

«[No mundo lusófono ainda] não temos força económica para nos tornarmos apetecíveis. Mesmo assim é impressionante as vias que temos aberto. Nomes como o Fernando Pessoa... embora a meu ver seja conhecido não da maneira adequada, mas é conhecido. 

O Eça de Queirós... Quando estive em Londres fiz uma reedição d’Os Maias e a crítica inglesa postou-se de cócoras perante a grandeza do livro. Simplesmente, são grandes clássicos que impressionam o mercado durante um determinado período e depois eles esquecem-se deles. Tem de se voltar a acordá-los daí a 20 ou 30 anos. A primeira vez que Os Maias abriram brechas no imaginário anglo-saxónico foi, salvo erro, em 1965, quando foram traduzidos pela primeira vez, e o livro esteve na lista de bestsellers da Time Magazine durante semanas e semanas. Os fulanos diziam que para se encontrar universos comparáveis é preciso recorrer a Stendhal e Tolstói. Mas passados dois, três anos esquecem-se.

(...) Quando "A Ilustre Casa de Ramires" [romance de Eça] foi reeditado, o crítico literário Jonathan Keats, no Observer, salvo erro, perdeu literalmente a cabeça com o livro. Ele dizia que se o Flaubert precisasse de matar a mãe para escrever um livro como aquele, o faria.»
Eugénio Lisboa em entrevista a Diogo Vaz Pinto, publicada no Jornal I em 25/02/2017

21 de fevereiro de 2017

A MIM

Fernando Pessoa continua a interpelar os jovens leitores da nossa escola, como nos mostra este poema do Rafael.

Paul Klee (1916)


Ai que rima faço eu mal
Por rimar sem rimar!
Se alguém que por natural rimasse
A mim me deixasse embalar…
E ainda há quem diga
que a rimar se pinta a vida.

Nem pincel nem cordel,
Nem coisa alguma que seja,
Senão sempre o mesmo Norte,
Mas sem força guerreira que aponte
Esse Norte para cima,
Só a força humana,
Só o caminho da vida,
E num piscar de olhos –
Sul!

Ai! Que coisa!
Vontade Humana?
Ai! Que coisa!
Que tempos vivo, feliz,
E ser hoje feliz
É ter sido ontem esmagado.
E o ontem sendo um hoje
Queria eu não tê-lo feito.
Estúpida vontade humana,
Pensar que sabe onde é o Norte.

Alberto Caeiro rimava sem rimar
E eu sem rimar rimo.
Sei lá que figura de estilo,
Eu uso o que costumo:

Nem métrica nem versismo,
Neologismos e o que esteja a pensar.
Meio Caeiro meio vinte e um, (sismo!)
Que de tremer, este século
Me está a desnortear.

Ah! Porque escrevo nem eu sei
O que escrevo só eu sei.
Poder ser poeta e fingir
E fazer alguém sentir que fingiu.
Mas sou um reles inventor.

Nem mitologias gregas,
Como dos outros de que ele se fingiu,
Nem rima com rima,
Nem rima sem rimar.

E depois,
Perdido na modernidade, olho.
O que mudou?

Lembra-te da cena de amanhã,
Imagina, (perspetiva), a cena de ontem.
(Que mundo?)
(Que Norte?)

A cada guinada sinto,
Sinto o vento que passa,
E vejo na rua o novo
(eis, mais).

Também que queríeis, oh?
Sempre o mesmo?

A andar ou a correr
Todos lá iremos ter.
Lá isso é verdade,
E não há quem negue o facto.

Tu que estás aí esparramado
Levanta-te, que não és farrapo,
Mexe-te, faz-te à vida.
Mas não mandes no Norte!
Nem tão pouco na Sorte,
Nem no Mundo,
Nem no natural,
Nem no abstrato,
Nem no mais pormenorizado retrato,
De ti.

Arte é não saber onde fica o Norte
E nunca estar desnorteado.

Não dê eu tudo por perdido,
Por poeta não ser,
Mas um coração ter
Que te acompanhe

Nessa tua vidinha…

Rafael Sousa, 12º B

8 de fevereiro de 2017

DES(ACORDO) ORTOGRÁFICO

Alguns anos volvidos sobre o início da aplicação do Acordo Ortográfico em Portugal, são incontáveis as instituições, inclusive públicas, as editoras, as publicações, os escritores e os cidadãos que perseveram na recusa do AO, não encontrando justificação, nem linguística nem no que à política da língua diz respeito, que o recomende. As ambiguidades que originou, o surgimento de palavras irreconhecíveis, o afastamento abrupto da etimologia, bem como o proliferar de erros ortográficos antes desconhecidos, tudo tem levado a protestos constantes. 

Chegou a vez de a Academia das Ciências de Lisboa, que é o órgão consultivo do Governo português em matéria linguística, apresentar as suas reservas face ao resultado desta tentativa de uniformização ortográfica. E propor, através do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa,  um aperfeiçoamento do Acordo, que "aprimore" as novas regras ortográficas. Em vão, ao que parece.
O documento, chamado SUGESTÕES PARA O APERFEIÇOAMENTO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA, pode ser consultado aqui.

7 de fevereiro de 2017

NOVA POESIA TROVADORESCA #2

Parodiando a poesia dos trovadores.

Representação medieval de uma alfaiataria
Se eu pudesse comprar
Um casaco que me chamou,
Era um bocado caro de se pagar
Mas o coração me tirou!
Assim aconteceu,
       Mas se o pudesse comprar
       Não precisava de andar sandeu.

Mas não o posso comprar
Porque espaço no roupeiro não sobrou,
Tanto isto me faz sonhar
Que já nem sei para onde vou!
Muito triste fiquei eu,
       Portanto se não o comprar
       Hei-de andar sandeu.

Mas rezo a Deus que me possa ajudar
Já que o lindo casaco não ajudou,
 Talvez se o comprar,
Aconteça um milagre, tal como se rogou!
E que mal que me deu,
       Pois se o pudesse comprar
       Não precisava de andar sandeu.

João Lourenço   10º D

29 de janeiro de 2017

ODE AOS ORGULHOSOS EM SI PRÓPRIOS

Picabia, 1912
Liberdade de ser eu
Ai tão bom a liberdade de poder ser eu!
Não quero ser mais ninguém,
Por mais posses e dinheiro que possa ter,
Por mais beleza e saúde que possa ter,
Por mais tanta coisa que toda a gente inveja!
Não quero ser mais ninguém
Toda a gente já é alguém 
E como eu não há ninguém 
E eu posso ser eu 
E tenho liberdade de o ser
Então porque não hei-de sê-lo?

Tenho tanto amor àqueles que são eles,

Tanto amor que chega a ser doentio.
Tenho amor àqueles que não têm medo,
Não têm vergonha,
Não temem nada em serem eles próprios!
Amo obsessivamente homossexuais assumidos,
Amo obsessivamente mulheres que lutam pelos seus direitos, 
Amo-me obsessivamente por me ter descoberto e não ter vergonha 
Não ter vergonha do que sou e do que escrevo!
Amo obsessivamente quem não se cansa de gritar,
De gritar o que ama, 
De gritar o que o move,
De gritar o que sente!
Tudo isto é o que faz o meu coração palpitar,
O sangue correr-me nas veias,
Os meus pés caminharem
E espezinharem o preconceito
E o medo de ser quem somos!

AI! O respeito, 

O respeito pelos outros, 
O respeito por aqueles que não são iguais a mim 
E não têm vergonha de não serem!
Ai! Dou a minha vida pelo respeito,
Dou a minha vida por um mundo com tanto respeito quanto eu 
Tenho por esses,
Muitas vezes chamados de tolos
Que para mim são heróis,
Esses, que são verdadeiros a eles próprios! 

E agradeço a minha existência,

A minha vida,
O eu que hoje sou,
A quem não tem medo de ser
E não apenas existir!

               Lícia Fialho, 12ºE

20 de janeiro de 2017

A Rute conta-nos uma história doce e triste - a do seu cordeirinho Chico, que tinha uma estrela branca na testa.



“Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais (…) os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento.”                                                                                  
               Charles Darwin


O cordeiro é um mamífero herbívoro. Queria apresentar-vos um, em particular, que infelizmente morreu, neste dia 16 de janeiro em que escrevo este texto, e que dava pelo nome de Chico.

Este jovem animal era altinho para a sua idade, um pouco gordito e de pelo preto encaracolado, com uma estrelinha branca, mesmo no meio da cabeça. Era filho de uma ovelha preta e do carneiro branco pertencente ao rebanho da minha família.

O Chico nasceu no dia 26 de dezembro, e desde então era da minha responsabilidade alimentá-lo no período da noite. Como comia três vezes por dia, e eu nem sempre estava em casa, por causa das aulas, era a minha mãe que lhe dava o leite pelo biberão, nessas vezes. Estabelecemos logo uma relação muito boa. Dava a sensação de que estava sempre a agradecer-me o gesto, por isso andava constantemente atrás de mim. Ainda brincámos bastante. Na verdade, parecíamos amigos!

No dia 10 de janeiro deste ano, nasceu outro cordeirinho. Tornaram-se logo companheiros!

Eu gosto… adorava tratar do Chico e deste que nasceu agora. Mas aconteceu aquilo que ninguém esperava, o Chico morreu!

Fiquei tão, tão triste!!! 

A mãe diz que outros nascerão e que eu terei tempo para os mimar! 

                                                                            Rute Carvalho, 9ºD  

10 de janeiro de 2017

NOVA POESIA TROVADORESCA

Iluminura do séc. XIV
Se eu pudesse desamar
A quem sempre me desamou.
E procurar outro alguém para amar
Deixar quem nunca me amou!
Era feliz assim, eu
       Quero amor dar
       A quem amor me deu.

Não me posso deixar enganar
Por quem já me enganou,
Por quanto me fez lutar
E que por mim nunca lutou.
E quando percebi, infeliz fiquei eu
       Quero amor dar
       A quem amor me deu.

Mas agora encontrei quem me faz sonhar
Alguém que por mim sonhou,
Aquela pessoa que me faz acreditar
E que em mim sempre acreditou
E agora, feliz sou eu
       Quero amor dar
       A quem amor me deu.

                                Rafaela Quitério, 10º D


22 de dezembro de 2016

BOAS FESTAS

"EM DOCE JÚBILO" - variações, por Johann Sebastian Bach, a partir de um cântico tradicional de Natal.

12 de dezembro de 2016

DA FELICIDADE

Quarteto Feliz (1901), pintura de Henri Rousseau
Uma bela reflexão acerca da felicidade - e de lugares comuns com ela relacionados - desencadeada pela leitura de alguns poemas de Fernando Pessoa.

Em várias ocasiões ouço pessoas a aconselhar os mais novos a aproveitar a juventude, já que neste período da nossa vida não temos grandes preocupações e dispomos, de certa forma, de mais liberdade. Em suma, somos mais felizes. Mas poderemos assumir que uma posição tão universal está realmente correta, particularmente quando tem um carácter aparentemente tão subjectivo? Convido-vos a juntarem-se a mim para analisarmos melhor esta questão.

Apesar da maneira como fiz a pergunta, dando uma sensação de mistério, estou certo de que muitas pessoas não hesitariam em responder que sim, é a sua opinião superficial que interessa, sem tentarem sequer fazer uma análise mais profunda. Infelizmente, é assim o mundo em que vivemos. No entanto, reparemos que utilizei o advérbio “aparentemente”, em relação ao carácter subjectivo que referi, com uma boa razão, e não apenas para denunciar a falta de sentido crítico das pessoas. Acredito que podemos mostrar que talvez não seja tão óbvia a distinção da juventude como a etapa mais feliz que vivemos. Como? Comecemos então por definir “felicidade”, ou pelo menos fazer uma tentativa.

É fácil perceber que uma pessoa está feliz se estiver satisfeita, ou mesmo a divertir-se. Até aqui, a juventude continua bastante apelativa, mas julgo que não podemos limitar a felicidade a isto, pois tem uma complexidade muito superior. Posso afirmar com um grande nível de confiança que a nossa capacidade de nos sentirmos felizes está directamente relacionada com o nosso desenvolvimento cognitivo, ou, usando outro termo, com a nossa racionalidade. É aqui que podemos reverter a situação, dado que as crianças, de facto, mais facilmente se encontram divertidas e despreocupadas, mas, por outro lado, não lidam com emoções tão fortes como as pessoas completamente desenvolvidas, podendo ser uma delas a própria felicidade. 

Podemos verificar a nossa teoria levando-a a um extremo, com o exemplo dos insectos. São seres com um desenvolvimento cognitivo mínimo e, por conseguinte, não são emocionalmente afectados como nós, humanos. Pelo menos, tanto quanto sabemos, nunca nenhum dos saltos dos gafanhotos foi causado pelo facto de o sujeito se encontrar feliz. Mesmo no caso dos gatos, é difícil estarem satisfeitos com algo que o seu instinto não deseje.

Podemos então concluir que mesmo algo como a felicidade pessoal não é assim tão subjetiva. Aliás, a nossa pessoa pode mudar tanto que se torna difícil relacionar estes sentimentos ao longo do tempo. Talvez a inveja de Pessoa afinal não tenha um bom fundamento…
Alexandre Pinho, 12.º B

8 de dezembro de 2016

ODE

Da Aurora Monteiro, do 12.º ano, uma ode - intensa e irreverente, numa bela revisitação de Álvaro de Campos.


Papoilas orientais, pintura de Georgia O'Keeffe
               Canícula

Agradeço o sensacionismo da vida.
Aprecio o dilatar de pupilas, aquele evidente…
Por simples razões, amar, estimular, amar,
Amar por fora, amar por dentro,
Estimular por dentro, por fora,
Pensar, não pensar, pensar!

Venero o amor com mistério, amar com segredo,

O ver sem poder olhar,
O falar pelos olhos e pelos eriçados,
Falar por suspiros, falar, falar, sentir, consciente, inconsciente, falar!

Amo o entrar pela porta secreta e, simplesmente, amar,

Entregar-me ao amor, dar-me aos arrepios,
Oferecer da minha estranheza ao outro, da minha virtude ao mesmo.
Arder por dentro, pela proibição,
Amar por fora, pela excitação!

Mas não é fazê-lo que fascina,

É o sentir que deslumbra,
O abrir e fechar portas, esperando não errar,
O olhar inquieto, o mexer de dedos desejoso,
O silêncio que agita, o respirar que mata.

E estimular? Estimulante que nos faz esquecer, nos faz querer, nos faz desejar,

Querer agarrar sem sair do sítio, querer destruir com os olhos,
Ouvir aqueles passos e adivinhar aqueles cheiros!
Sair, andar, ver-me de fora, pensar-me a voar, querer, querer, querer!
Ser da noite, ser de quem me levar, ser do mistério, ser do vício enublado.

Ter aquela mania, aquela que é pecado, mas pecado? Todos somos pecado!

Todos somos carne desejada, ânsia uns dos outros…
Planeamos o momento auge a cada segundo, tencionamos tê-lo a cada minuto,
Tão juntos e tão distantes, tão encravados nas vozes, nas sensações e no desejo!
No fervor, no fogo asfixiante, no picante, no ardente, no desejo, no desejo!

Bate-me, sente-me, segue a minha mão, deixa-me gritar, deixa-te levar,

E depois chora, chora nesse mar, o mar do abuso, do uso e do desfloramento da alma!
Não deixes ninguém ver, anda, vem, senta-te, bate-me, bate-me mais,
não chega, não estás a tocar!
Ousadia, irreverência… Espanquem! Surrem! Maltratem! Apenas façam!
Fruir da mistura de tudo, excitação, felicidade, tristeza, depressão,entusiasmo, melancolia!

Estou sedenta de desejo, quero comer o amor, quero provar do que nunca foi meu,

Mas sempre me pertenceu, amo querê-lo loucamente porque sem isso já não sou nada!
A obscuridade da minha alma agarra-me, possui-me, quer-me…
Infortúnio, porque me levas?
Estou a morrer de desejo, adoro entregar-me a alguém, a algo, leva-me, leva-me!
Vou prender-me a alguém, como já me prenderam, ser de ti, seres de mim, tu, eu, desejo, tu, eu!
Mas eu sou apenas eu, só eu, apenas um passarinho inocente que voou no ar…

                                       Aurora Monteiro, 12º ano

ESCREVER E LER MAIS E MELHOR

A nossa escola promove neste momento um concurso de escrita: 
E propõe aos seus alunos a participação no Concurso Nacional de Leitura:
Regras e prazos aqui e aqui.

13 de novembro de 2016

A Inês Teodósio, do 10.º ano, depois de estudar a Lírica Trovadoresca, compara os namorados da Idade Média com os dos nossos dias.
fotografia de Laura Makabresku
As relações amorosas de hoje nada têm a ver com as relações dos séculos XII, XIII ou XIV.

Os relacionamentos da Idade Média eram discretos, os jovens encontravam-se às escondidas, para que os pais não soubessem, e estavam juntos nos bailes, ou, por exemplo, quando a rapariga ia lavar a roupa à fonte. Era completamente diferente do que acontece agora.

Atualmente é tudo mais fácil, com as tecnologias. A mentalidade das pessoas também mudou muito, e, na minha opinião, para melhor, pois as mentes estão mais abertas, são raros os relacionamentos de que os pais não saibam, e os jovens estão juntos grande parte do tempo e utilizam as redes sociais e o telemóvel para comunicar, quando não estão juntos.

Concluindo, e na minha opinião, o comportamento dos namorados de hoje é melhor, são mais confiantes um no outro, pois conversam mais e conhecem-se melhor do que os namorados da Idade Média.

Inês Raquel Teodósio, 10º. A

6 de novembro de 2016

LÁPIS IRREFUTÁVEIS, “JOÕES” INTERMINÁVEIS

Hoje é a vez de o Alexandre Martins, do 9.º ano, nos dar a ler uma divertida crónica sobre lápis que desaparecem misteriosamente e sobre decisões irrefutáveis... Mas não irrevogáveis, como se verá.
fotografia de James Troi
Gostava de saber onde vai parar tudo o que coloco na minha bolsa. Sendo estudante de Ciências e Tecnologias, já devia conseguir calcular a probabilidade de a bolsa ter um fundo falso, identificar a função sintática que esse mesmo fundo representa na minha bolsa, ou, ainda, explicar, baseando-me na teoria de um senhor importante na Física, que a rapidez média de tudo o que deposito na minha bolsa teria sempre um valor maior que zero. Mas não consigo, e, por isso, só me resta matutar sobre a localização atual dos meus pertences.

Como sou uma pessoa claramente simpática e bem-humorada, nunca recuso, quando alguém me pede um lápis ou uma caneta. E, como também tenho o hábito de confiar nas pessoas a quem empresto o meu material escolar, impeço-me de proferir a célebre frase: “Empresto-te este lápis, mas ele leva um “V” na ponta, o “V” de volta”. Só que tenho vindo a constatar que os meus lápis e canetas têm desaparecido. Indago-me sobre qual terá sido a criatura com poderes divinos que me roubou o lápis, até que chego à conclusão que o emprestei ao Alberto Albino e que ele ainda não mo devolveu. Estranho, muito estranho mesmo. É que ainda hoje o vi a pedir um lápis emprestado ao Fábio Francisco… O que será que o Alberto fez ao meu pobre lápis!? Tenho de lhe perguntar amanhã, sem falta!  

Comecei o ano com três lápis de carvão, quatro canetas de cor, uma borracha e uma afiadeira. Encontro agora na minha bolsa meio lápis de carvão afiado de ambos os lados, um pedaço de um teste onde joguei sozinho o jogo do galo, para ter a certeza que ganhava, uma bolacha Maria e um lenço de papel sujo. Por estranho que pareça, nunca ninguém me pediu o lenço emprestado ou o veio roubar da minha bolsa. Deve sentir-se injustiçado, pobre lenço.  
      
Tomei a irrefutável decisão de assinalar todos os meus pertences escolares com uma etiqueta branca, que tem escrita o meu nome em letras bem legíveis. Mas, por outro lado, apercebi-me de que o meu nome é João, e, só no meio da selva a que chamam “turma”, e onde me insiro, existem, pelo menos, mais uns quatro “Joões”. E, só para piorar a situação, três dos “Joões” da minha turma chamam-se João Pedro. Pensam vocês que a solução seria colocar apenas João e o meu sobrenome, não é?! Mas enganam-se! Um dos “Joões” Pedro tem o mesmo apelido que eu! Como é possível?! Também não me questionem!  

Mudei de opinião. Afinal, a minha decisão não era assim tão irrefutável. Até porque nem sei o que irrefutável significa, sinceramente. No entanto, ouvi essa palavra no “Jornal das 8”, e as pessoas do Jornal nunca se enganam. Pelo menos não deviam. E eu só ia perder tempo e trabalho ao etiquetar todos os lápis e canetas.  

Voltando à minha turma. Entretanto, deixei de a considerar uma “selva”. Passei a considerá-la algo ainda inferior. É que nunca ouvi relatos de um leão que tivesse roubado um lápis a uma hiena. Nem de um tigre que tivesse pedido emprestada uma caneta a um falcão, e que este não a tivesse devolvido. Assim se vê o nível inferior daquelas vinte e nove “criaturas”, como nos chama, carinhosamente, a professora de Matemática.  
   
Ah, e esquecem-se que isto do tráfico de lápis tem consequências. E das graves. Quando tenho aulas com aqueles professores mesmo rigorosos, como a “stora” de Português, levo sempre falta de material por não ter lápis ou caneta. Quando a culpa nem sequer foi minha! Que intransigente! O pior foi no dia em que a própria professora se esqueceu do manual da disciplina. Prontamente, argumentei que devia existir algum mecanismo ou forma de os professores serem igualmente punidos quando se esquecem do material. Fui expulso, por alegadas ofensas à autoridade. Nem quero esperar pelo final do período, quando for conhecida a sentença… Vai ser, decerto, um duro julgamento! Em suma, fiquei quase toda a aula no corredor, a falar com as moscas. Ao menos essas não me roubam lápis, nem me marcam faltas de material. 

Lembrei-me de outra teoria para os lápis. Acho que quem mos anda a roubar pode sofrer de “abelhomania” (obsessão por abelhas) e daltonismo, em simultâneo. Devem pensar que os lápis são abelhas e roubam-nos para aumentar a sua própria coleção. Quando perceberem que nunca vão produzir mel, pode ser que caiam em si e me devolvam os lápis. Espero que isso aconteça. 

Tomei a minha decisão final. E vou classificá-la como irrefutável de novo, já que soa bem. Estou quase um “Camões” feito! É uma ideia de génio, realmente! Se embrulhar todos os meus lápis e canetas com lenços ranhosos, nunca mais ninguém os vai desviar da sua rota, como os terroristas fazem com alguns aviões! Sim, porque permitam-me considerar esta história dos lápis um extremo ato de terrorismo! Digno de uma posição de destaque no meu estimado “Jornal das 8”. Mas, mesmo assim, o que mais temo neste tipo de terrorismo é mesmo a altura em que a bomba rebenta, os canhões explodem, as armas disparam. Deviam ser vocês a enfrentar a minha mãe quando lhe digo que já não tenho lápis de carvão e que preciso de comprar mais. Nem nunca cheguei a perceber o que ela diz quando está naquele estado de plena fúria. Balbucia uns sons, gagueja uns ditongos, gorjeia uns hiatos. Sem segundos sentidos, parece árabe. E, eu, João, nem percebo árabe, irrefutavelmente. 

Alexandre Martins, 9ºA