Da Ana Lourenço: escrever pondo-se no lugar do outro - duplamente, como num jogo de espelhos. Bem interessante.
Mais uma tarde
chuvosa de janeiro! Vou ficar na janela do meu segundo andar, a olhar quem
passa. Nesta cidade, anda-se de carrossel.
Um jovem, creio que de vinte e poucos anos, protagonista da sua vida, anda de
um lado para o outro, perdido. Parece perdido. Do que precisará ele?
Orientação? Ajuda, um conselho amigo?
Observo-o cada vez mais curioso, dou comigo a pensar “será que vai fazer-se
ao caminho ou ficar ali naquela chuva?”
De repente, revejo-me com aquela idade, de barbas bem tratadas, um pouco
mais corcunda, mas nunca me faltou a postura, coisa que se foi perdendo com o
tempo. Era um homem bonito!
Ele parecia inquieto a olhar para o telefone, assim como todos os outros
como ele, que ali passam. Surpreendo-me que deste andar ainda consiga ver bem,
da mesma maneira ou melhor do que quando tinha a sua idade. Talvez ele precise,
depois de ouvir, ver. Se for esse o caso, chego-me à sua beira “Chamo-me Art e
tenho 79 anos, visão apurada que me oferece um bom sentido de orientação, estás
perdido, amigo?”.
Talvez ele apenas precise de fazer aquilo que recusei na sua idade: ouvir quem me dava as direções.
Ana Lourenço 12º D