18 de janeiro de 2022

UMA AVENTURA PECULIAR

 

Hoje divulgamos um texto escrito no Clube de Escrita Criativa da nossa escola, em resposta ao desafio: "Imagina-te turista num determinado país e regista uma das tuas aventuras mais peculiares." Aqui vos deixamos a narrativa desta aventura escrita em dez minutos - o tempo disponibilizado para o exercício.

 

Cressida Campbell, 2002

 
Às sete da tarde do dia vinte e três de novembro, enquanto deambulava por uma rua sinuosa na qual havia acabado de chegar  devido a uma falha no meu GPS, fui interrompido por uma senhora, muito franzina e já de cabelos brancos, que falava comigo muito animada no idioma local. Apesar de não conseguir reproduzir nenhuma palavra, já compreendia qualquer coisa de tailandês e por isso percebi que ela tentava vender-me alguma coisa, ou convencer-me a fazer algo. Não me sentia muito seguro, mas ela parecia indefesa, e como começou a puxar-me para dentro da sua loja, pensei “Mal não me há de fazer!” e segui-a. Lá dentro, encontrei um ambiente estranho, decorado com bibelôs asiáticos. De repente, apareceu um homem enorme, e pensei que fosse este o meu fim, no entanto o que aconteceu foi algo inusitado. O homem, que mais parecia um lutador de judo, e que passado algum tempo percebi chamar-se Yan, começou a pentear-me, puxando-me de seguida para uma pia. Quando dei por mim já tinha a cabeça lavada e estava sentado em frente a um espelho sujo, tendo Yan a tentar dialogar comigo num inglês quase impercetível. Devido ao seu sotaque não conseguia perceber o que me dizia, por isso só anui.

Enquanto Yan me cortava o cabelo numa alegria estrondosa, a senhora, que mais tarde conclui ser a sua mãe, aparecia de vez em quando e alimentava-me com coisas maravilhosas e desconhecidas, de sabores que eu nunca havia experimentado. No entanto, como estava completamente distraído, não me apercebi do que o meu “barbeiro” me fazia e assim, quando olhei em frente, vi que não só não tinha mais de metade do cabelo com que ali havia chegado, mas também que o pouco que me restava no topo da cabeça estava espetado numa espécie de crista, com madeixas que tombavam alternadamente para um lado diferente. Apesar do penteado ridículo, a comida era maravilhosa e o ambiente era estranhamente reconfortante e quase familiar, e por isso foi uma bela experiência que até hoje recordo com carinho, tendo em conta que no final só me cobraram o equivalente a três dólares.

Catarina Moreira, 12º D


9 de dezembro de 2021

OS ÚLTIMOS 5 MINUTOS

 
 

Marc Chagall, O Relógio

Se tivéssemos mais 5 minutos,
dir-te-ia muitas coisas que não disse,
que te amava, que te adorava, que te olhava,
nos últimos 5 minutos de vida.

Se isto nunca tivesse acontecido,
ainda estaria nos teus braços?
ainda estarias feliz?
Nos últimos 5 minutos de vida.

Ninguém sabe estas respostas,
nem nunca saberão,
só um coração saberá,
e o coração será o teu.

Nos últimos 5 minutos,
eu conseguiria, eu poderia
fazer-te feliz?
Nos últimos 5 minutos de vida.

Catarina Jorge, 8.ºA

24 de novembro de 2021

EM DEFESA DO PASSADO

 

Escrito no contexto de uma prova de avaliação de Português – em que aos alunos se pedia uma opinião fundamentada sobre o desejo de corte radical com o passado por parte de alguns artistas modernistas – este texto, a que a autora deu o sugestivo título “Em defesa do passado”, constitui não apenas um belo exemplo de escrita académica, mas, e acima de tudo, uma reflexão muito bem fundamentada.

 

Gustav Klimt, O cavaleiro dourado, detalhe do "Friso de Beethoven"

Em defesa do passado

Certos momentos do passado da Humanidade trazem desconforto ao ser relembrados, isto é um facto. No entanto, é da minha opinião que aceitemos as nossas falhas passadas e que construamos um mundo melhor com essa consciência. Há quem defenda suprimir o passado, de modo a começar de novo. Eu discordo.

Em primeiro lugar, considero que o passado forma o presente. Isto é, as ações que realizamos no presente são consequência ou de ações passadas ou daquilo que vimos, lemos ou ouvimos sobre o passado. Assim, temos a oportunidade de aprender com os erros dos nossos antepassados, evitando repeti-los. Um excelente exemplo desta ideia é o holocausto da Segunda Guerra Mundial. De um modo geral, reconhecemos agora que foi algo absolutamente imoral, que não devemos repetir. Então, se ignorássemos o passado, tornaríamos admissível um novo genocídio?

Em segundo lugar, sabemos que o conhecimento se constrói ao longo de gerações, por meio de constante pesquisa, debate e refutação. Esta ideia pode ser ilustrada pela pesquisa sobre o funcionamento da mente humana, tópico debatido até à atualidade. Inicialmente considerada dádiva divina, o nosso conhecimento sobre a consciência humana evoluiu ao longo do tempo, com nomes como Freud e Damásio entre os mais célebres. Caso eliminássemos conhecimentos anteriores, como alguns apoiam, o desenvolvimento da ciência, tecnologia e filosofia seria impossível, estagnando o nosso progresso enquanto sociedade.

Em suma, defendo que o reconhecimento do nosso passado coletivo, favorável ou não, é essencial para o desenvolvimento da sociedade, e que deixá-lo de parte impossibilitaria a projeção de um futuro melhor.

Margarida Sardinha,  12ºB

16 de novembro de 2021

A MINHA MÃE

 Prosseguimos, com gosto, a divulgação dos nossos jovens poetas.

Mãe e fliha, pintura de Will Barnet

A minha mãe era uma mistura de bondade,
alma e solidariedade.
Às vezes sentava-me na cama e ficava a pensar,
O que seria a minha vida sem ela para me amar?

Será verdade? Será mentira?
que um dia ficarei sem ela,
que ficarei sem nunca mais ver aquele sorriso doce,
que ficarei a olhar para as estrelas.

Ainda me lembro quando íamos à praia,
sentar-nos na beira do mar a cantar a nossa música favorita
Ela é o sol da minha vida, a minha luz,
que nunca se vai poder apagar.

Ela viu-me crescer,
Ensinou me a amar e a ser quem sou.
E é assim que a descrevo,
Como a mulher mais original que conheci.

Catarina Jorge, 8º A

3 de novembro de 2021

Poesia em animação

Regresso ao lar, poema de Guerra Junqueiro

Ilustrações, declamação e animação da autoria da Olívia do 8º ano.

Trabalho feito no ano passado, durante o ensino à distância.

1 de novembro de 2021

[Branco como a neve, média altura]

Tal como o poema aqui publicado no dia 11 de outubro, também este foi feito no ano passado, em resposta ao desafio de escrever um "quase soneto" à maneira de Bocage". Aqui está o retrato bem-humorado que o Dinis nos dá a ler.

Alfredo Volpi

 Branco como a neve, média altura,
Olhos castanhos e nariz pequeno,
Cabelo com caracóis cor de feno,
Feliz, bem-parecido de figura!

Pelo saber anda sempre à procura,
Gosta de ter conhecimento pleno,
(Matemática e literatura)
Para ser sempre grande e não pequeno!

Quem bem o conhece, sabe dizer
O valor que dá às suas amizades,
Amigos aos montes gosta de ter!

Eis Dinis, com algumas qualidades,
(e defeitos que ficam por saber)
Ditas têm que ser todas as verdades!

Dinis Moreira, 9ºA

11 de outubro de 2021

[Tão grande era o magro e jovem rapaz]

Este trabalho foi feito pelo José Ferreira, então no 8º ano, em resposta a um desafio de escrita criativa lançado pela professora: um quase soneto à maneira de Bocage. Bem humorado, como cumpre.

                                                       Egon Schiele, Autorretrato, 1912

Tão grande era o magro e jovem rapaz
O seu cabelo era curto e castanho
Carão é dono de um sinal estranho
De avistar a mil metros é capaz.

É amigo do amigo e não só
Raramente ou nunca anda bem vestido
Nunca se deixa levar por vencido
Bem criado por mãe, pai e avó.

Desde sempre foi amaldiçoado
Por maldita e terrível solidão
Nascido com um coração gelado.

Já não há muito mais para dizer.
Eis José, que é aquele rapazinho
Que sempre vive a vida com prazer!

José Ferreira, 9ºA

29 de setembro de 2021

A ÉPOCA TROVADORESCA

 Agora que as turmas do 10º ano começam o estudo deste fascinante período da nossa literatura, publicamos um texto escrito há algum tempo, por uma aluna, e depois aperfeiçoado por toda a turma, tendo resultado na exposição que aqui podem ler. 

Aos alunos fora proposto que escrevessem sobre aquilo que os poemas dos trovadores nos podem ensinar acerca da época em que foram elaborados. Aqui fica pois o texto, que talvez sirva de motivação aos alunos deste ano.

Iluminura medieval, representando o mês de outubro (Les très Riches Heures du Duc de Bérry)

O VALOR TESTEMUNHAL DA POESIA TROVADORESCA 

(Exposição sobre um tema)

A poesia trovadoresca, produzida na Península Ibérica durante a Idade Média, pode fornecer muitas informações sobre esta época.

Destacam-se, pelo seu valor testemunhal, as cantigas de amigo, que nos revelam aspetos da vida quotidiana das jovens camponesas de então: os divertimentos, como bailes e romarias; as tarefas domésticas, como ir à fonte buscar água ou lavar roupa; e, sobretudo, a sua vida amorosa, o namoro, com ou sem permissão da mãe, com um jovem da mesma classe, o amigo, com quem se relacionava de forma espontânea e sensual. Poemas como “Bailemos nós, ai amigas” ou “Porque tardaste na fontana fria” são exemplo disto.

Também as cantigas de escárnio e maldizer contêm numerosas informações sobre a época, quando criticam, por exemplo, os maus trovadores, sem originalidade, e a nobreza empobrecida e pelintra, como o infanção que não acendia o lume, pois não tinha que comer.

Em suma, a poesia trovadoresca permite-nos conhecer aspetos muito diversificados da cultura e do tempo em que foi produzida.
                      
10ºD, 2018/2019