22 de novembro de 2017

O HOMEM-ESTÁTUA

O Luís Lopes, do 9.ºC, conta-nos uma aventura que se passou... nada mais nada menos que em Nova York.

Corria o ano de 2007. Em Nova York, tudo parecia normal. Pessoas apressadas, a resmungar, a resmungar e a apitar como loucas. Mas entre toda aquela gente estava um homem calado e quieto, como uma estátua.

Aproximei-me para ver o seu número, que me surpreendeu, dei-lhe algumas moedas e segui caminho para o trabalho. Por alguma razão sentia-me perseguido. No entanto, sempre que olhava para trás, não via nada de estranho. Sentia-me idiota por achar que estava a ser perseguido, mas não conseguia parar de olhar para trás.

Quando cheguei ao trabalho, já atrasado, senti fome e fui à máquina de comida para um petisco, só que no momento em que meti a mão no bolso para tirar a carteira, não a encontrei.

Corri de volta à rua para a procurar. Passei pelo homem-estátua, e qual não foi o meu espanto quando, pelo canto do olho, vi a minha carteira no seu bolso. Parei e olhei para ele. Ele apercebeu-se de que tinha sido topado e fugiu como se um monstro corresse atrás dele. Chamei a polícia e corri também, atropelando um monte de pessoas à minha frente. O azar do bandido foi  ter virado na rua errada, o que o encurralou. A polícia chegou e ele foi preso.

No dia seguinte, fui outra vez para o trabalho. A cidade estava igual, apenas faltava o homem-estátua. Sinceramente, senti-me mal! Ele era o único que me alegrava nestas manhãs, mas tive de continuar.

Luís Lopes, 9ºC

16 de novembro de 2017

FARSA DE INÊS PEREIRA

Farsa de Inês Pereira em Alcobaça - pelos olhos atentos da Cristina e da Teresa, do 10 ºC.

Na passada segunda-feira, dia 6 de novembro, os alunos do 10º ano do Externato Cooperativo da Benedita foram a Alcobaça para assistir à "Farsa de Inês Pereira", peça de Gil Vicente levada à cena pela companhia de teatro A Barraca. Esta representação integra-se no projeto Books & Movies, promovido pela Câmara Municipal.

Inês Pereira, uma jovem que deseja liberdade, como as outras raparigas da sua idade, quer casar-se com um homem que seja delicado, que saiba falar, tocar viola e, sobretudo, que lhe dê liberdade e a faça feliz. 

Enquanto Inês Pereira, em casa, conversa com a mãe e realiza as suas tarefas domésticas, aparece Lianor Vaz, uma alcoviteira, com uma carta de Pero Marques, um camponês abastado que quer casar com a jovem. Esta, no entanto, considera-o um bronco, e só aceita recebê-lo para se rir dele. Pero Marques leva-lhe presentes, mas mesmo assim Inês rejeita-o e troça dele. 

Entram então em cena dois judeus casamenteiros que vieram propor Brás da Mata, um escudeiro pobretana pelo qual Inês se encanta logo, graças às suas belas palavras e à serenata que ele lhe faz. O casamento celebra-se, contra a opinião da mãe de Inês que, no entanto, abençoa o jovem casal e parte. Mas assim que ficam sós, Brás da Mata revela a sua verdadeira natureza e impõe uma série de regras a Inês, impedindo-a de sair de casa e ameaçando-a, se o contrariar em alguma coisa, por pequena que seja.

Mais tarde, o escudeiro parte para a guerra, deixando o criado a vigiar Inês, para que esta não pudesse sair de casa. Três meses depois, a jovem recebe uma carta do seu irmão, que lhe contava que o marido tinha sido morto por um pastor, ao fugir da batalha. Ao ler isto, Inês fica radiante por poder finalmente ter a liberdade que sempre desejara. Casa-se então com Pero Marques, que a trata bem e lhe dá toda a liberdade. Inês, tirando partido da ingenuidade do marido, arranja um amante, que era ermitão. 

E a peça acaba com Pero Marques a transportar Inês às costas, até ao ermitério onde vivia o amante. E transporta também duas grandes pedras que Inês lhe pede para levar. Pelo caminho, Inês canta uma canção alusiva à sua infidelidade, pedindo a Pero Marques que cante o refrão, o que este faz sem se aperceber de nada, mostrando-se assim a inocência deste pobre camponês.

Em suma, com esta peça pudemos ver como era a condição feminina no século XVI, no que se referia às jovens mulheres das classes populares. E apesar de às vezes termos sentido dificuldade em decifrar alguns arcaísmos, gostámos bastante da peça.


Cristina Tiago e Teresa Arraião, 10ºC

12 de novembro de 2017

As passadeiras

A Júlia Lopes, do 9ºC, conta com humor as suas aventuras de pedestre responsável nas passadeiras da nossa terra.


      Os carros, as passadeiras, os semáforos e as pessoas sempre tiveram uma relação complicada.
      Ora, estou eu e mais uma dezena de pessoas na berma do passeio, à espera para atravessar… Já carregámos no botãozinho para passar o semáforo a vermelho para os carros e verde para nós. Finalmente! Estava a ver que não. Lá conseguimos passar. Cheguei ao outro lado da rua e agora preciso de atravessar outra passadeira. 
      Cheguei à passadeira, esta não tem o raio do botão! Tenho de esperar que algum condutor sensato pare. Chegaram muitas pessoas e reclamam do mesmo que eu. Espera! Está um condutor a olhar para nós, vamos rezar para ver se ele para. Por favor para, por favor, por favor! Fogo, não parou! 
      Estamos aqui há uma meia hora, uns peões aventuraram-se e atravessaram sem ser na passadeira. Se calhar devia fazer o mesmo, ir assim, ao Deus dará. 
      Decidi não atravessar assim, porque um condutor gentil parou e estão mais a seguir-lhe o exemplo! Finalmente, conseguimos atravessar, até vou aos pulos! Já me doíam as pernas de estar parada.
      Duas passadeiras atravessadas com sucesso. Agora só me resta atravessar mais umas 4259 vezes, só hoje! 

Júlia Lopes, 9ºC

1 de novembro de 2017

Todos os Santos e "Halloween": tão próximos, tão diferentes


Há mais de 2500 anos, já os celtas celebravam, a 31 de outubro, o seu novo ano, o fim das colheitas, a mudança de estação e a chegada do inverno.

Esta cerimónia festiva, em honra da divindade Samhain (deus da morte), permitia comunicar com o espírito dos mortos. Nesse dia, abriam-se as portas entre o mundo dos vivos e dos mortos. De acordo com a tradição, nessa noite os fantasmas dos mortos visitavam os vivos. Para acalmar os espíritos, a população depositava ofertas diante das portas das casas.

A festa foi conservada no calendário irlandês após a cristianização do país, como um elemento de folclore. Mais tarde implantou-se nos EUA, com os emigrantes irlandeses do final do século XIX, e aí conhece, ainda hoje, um imenso sucesso. Agora, o Halloween volta a atravessar o Atlântico, em sentido contrário, em direção à Europa, essencialmente por razões comerciais.

Para além das crenças primordiais das origens, o Halloween é um pretexto para fazer a festa e esquecer as longas noites outonais, muitas vezes chuvosas e tristes.

Por seu lado, a solenidade de Todos os Santos é uma festa mais "interior". A Igreja liberta do medo da morte, ao insistir, neste primeiro dia de novembro, na esperança da ressurreição.

Enquanto o "Halloween" é uma festa do medo, com as crianças (e adultos) a divertirem-se a causar medo aos outros e a si-próprias, a evocação católica é uma festa de comunhão com os santos, no primeiro dia de novembro. E de proximidade com os mortos da família, cuja memória se evoca, no dia seguinte

Adaptado de Conferência Episcopal Francesa
Trad. / edição: SNPC - Publicado em 01.11.2017

14 de outubro de 2017

"Bora" lá desligar o botão?

Este ano iniciamos a vitrina de textos originais dos nossos alunos com esta oportuna reflexão da Inês acerca da presença do telemóvel na sua vida - e na dos jovens em geral. Aceitaremos o desafio que ela nos lança?

fotografia de Alexandre Sousa
O telemóvel? Esse instrumento que causou um grande impacto na vida contemporânea em geral e também na minha?

Atualmente, uso o telemóvel para comunicar com a minha família e amigos, para tirar fotografias e editá-las, para consultar as minhas redes sociais, utilizo-o como calculadora, como lanterna, ouço música, jogo e, por fim, navego na Internet, onde posso fazer as mais variadas pesquisas, para trabalhos da escola, por exemplo, ou mesmo receitas ou compras… É incrível como podemos ter tudo isto num objeto tão pequeno e compacto, altamente portátil.

De facto, o telemóvel é um aparelho muito útil. Não posso dizer que mudou a minha vida, visto que nunca vivi sem ele, mas acredito, sem qualquer dúvida, que me faria muita falta.

No entanto, como tudo no mundo, nem só de coisas positivas e úteis se faz este poderoso objeto. E poderoso porquê? Poderoso porque é altamente viciante, para não falar de inúmeros outros problemas que nos traz. Odeio a palavra vício e, ainda mais, odeio ver pessoas viciadas, seja no que for. É ridículo ver seres humanos, com vontade própria, serem “controlados” por objetos como se fossem telecomandados. Mas admito, com sinceridade, que me considero viciada no telemóvel. Penso que se me tirassem o telemóvel e eu tivesse de viver sem ele, não conseguiria viver. 

É extremamente ridículo e é com tristeza que o digo, mas sim, nós, seres humanos, estamos cada vez mais a ser comandados pela tecnologia.

“Bora” lá desligar o botão?

Inês Sousa, 10º B

28 de setembro de 2017

Recomeçar

fotografia de Rui Palha

Um poema de Miguel Torga, que já aqui publicámos, para recomeçar com ânimo.


Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...


Miguel Torga

13 de julho de 2017

RESULTADOS DOS EXAMES NACIONAIS -1.ª FASE

13/07/2017
Os exames finais nacionais do ensino secundário foram realizados em 647 escolas em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, bem como nas escolas no estrangeiro com currículo português.
Foram registadas 359 550 inscrições na 1.ª fase dos exames finais nacionais, tendo sido realizadas 332 340 provas, o que corresponde a cerca de 92,4% das inscrições. Relativamente ao ano transacto, verifica-se no presente ano escolar um aumento de cerca de 2500 provas realizadas.
Entre as 22 disciplinas sujeitas a exame nacional, a que registou um maior número de provas realizadas foi a de Português (639), com 76 643 provas, logo seguida por Matemática A (635), com 49298 provas, Biologia e Geologia (702), com 47215 provas, e Física e Química A (715), com 43 007 provas.
No processo de classificação das provas estiveram envolvidos cerca de 7092 docentes do ensino secundário, cujo trabalho permitiu o cumprimento dos prazos previstos para a afixação das pautas.
Na totalidade das provas dos exames nacionais do ensino secundário estiveram ainda envolvidos cerca de 10 000 docentes vigilantes e pertencentes aos secretariados de exames das escolas, cujo papel e desempenho foi determinante para a realização desta 1.ª fase.
É de registar o facto de as médias das classificações dos vários exames relativas aos alunos internos serem todas superiores a 95 pontos.

Tendo em consideração as disciplinas com um número de alunos internos superior a 2500, aquelas em que é possível estabelecer comparações estatisticamente mais significativas, destaca-se:
  • A subida da classificação média, em 11 pontos, na disciplina de Economia A (712).
  • A diminuição da classificação média nas disciplinas de MACS (835), em 13 pontos, e de Física e Química A (715), em 12 pontos.
Com exceção da disciplina de Inglês (550), disciplina com maioria de alunos autopropostos, verifica-se, à semelhança dos anos anteriores, que os alunos internos obtêm classificações mais elevadas do que as alcançadas pelos alunos autopropostos.
Algumas das diferenças mais significativas observam-se, como é usual, nas disciplinas de Matemática A (635), Matemática B (735) e Geometria Descritiva A (708).
É de salientar ainda o facto de na disciplina de Economia A (712) a taxa de reprovação dos alunos internos ter descido três pontos percentuais.
Nas disciplinas de Matemática A (635), História A (623) e Geometria Descritiva A (708) a taxa de reprovação dos alunos internos desceu dois pontos percentuais. No sentido contrário, verifica-se um aumento da taxa de reprovação à disciplina de Física e Química A (715), de três pontos percentuais, e à disciplina de MACS (835), de dois pontos percentuais.

2 de julho de 2017

Tempo que foge...


Tempo,
Tu que foges mais rápido que o vento,
Não te sei usar,
Meu tempo.

Sempre, dia após dia, 
Afligindo-me,
Que o tempo passa
E só a lembrança fica.

Bates forte em mim,
Oh Senhor das pressas,
Tu que nunca regressas 
E nada me deixas a mim.

Enfim te deixo
Porque não te tenho.
Acolhe este desabafo,
Que tu não voltas, mas eu já venho…

Rafael Sousa, 12º B

13 de junho de 2017

CAMÕES DE VOLTA

Painel de azulejos, Júlio Pomar, 1926 - Museu Nacional do Azulejo
Estava eu muito descansada a comer no McDonalds e a pensar quem seria a próxima “vítima” que iria entrevistar, quando me deparei com algo extraordinário : um senhor a citar versos d’Os Lusíadas. Mas citava de tal forma, como se os tivesse escrito ou tivesse estado presente naquela época. Já tinha visto aquela cara nalgum lado… Então apercebi-me, era Luís de Camões! No século XXI! Fui ter com ele, claro! O Poeta disponibilizou-se a responder a umas perguntas.

AL-Como considera que os portugueses o veem ou o que acha que eles pensam de si?
LC-”Julga-me a gente toda por perdido.”

AL- Não considera que tenha havido alguma evolução quanto ao reconhecimento dos portugueses face às letras e às artes?
LC-”quem não sabe a arte, não na estima.”

AL- Escreveu muitos poemas de amor. Considera-se um apaixonado?
LC-” está no pensamento como ideia :/e o vivo e puro amor de que sou feito.”

AL- Se tivesse de resumir os seus poemas amorosos, como o faria? O que é para si o amor?
LC-”Amor é fogo que arde sem se ver”

AL- Como é para si a mulher ideal?
LC- ”linda e pura semideia.”

AL- Já deve estar a par das ”modernices” deste século. As pessoas sentem cada vez mais a influência das tecnologias, nas suas vidas. Decerto que se ficasse aqui mais tempo seriam muitas as selfies que lhe pediriam para tirar. O que acha disso?
LC- ”Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

AL - É pela vontade ou pela necessidade das pessoas quererem valorizar o seu trabalho que criaram, no dia de hoje, 10 de junho, um feriado nacional conhecido como “Dia de Camões e das Comunidades”. Como se sente acerca disso?
LC- “Quão doce é o louvor e a justa glória/Dos próprios feitos, quando são soados!”

E terminei assim a minha entrevista, mas posso dizer que a conversa não ficou por aqui, pois eu fiz questão de que Luís de Camões comesse um hambúrguer comigo. E o resto, o resto é história!...

Alice Luís 10ºD

10 de junho de 2017

Entrevista inesperada a Luís de Camões

Camões, pintura de José Malhoa
No contexto do dia 10 de junho, no qual se celebra o dia de Camões e de Portugal, decidi entrevistar o próprio Luís Vaz de Camões. Confesso que no início não sabia como “contactá-lo” e até já tinha perguntado a algumas pessoas como haveria de o fazer. Como continuava sem resposta, comecei a pensar em desistir. Até que um dia, ao chegar a casa, deitei-me na minha cama, a pensar numa solução, e acabei por adormecer. Qual não foi o meu espanto, quando Luís de Camões me apareceu em sonhos. Estava à minha janela, a chamar pelo meu nome e, quando apareci, disse-me: “Bela dama, soube que me queríeis entrevistar. Aqui me tendes.” Deixei-o entrar e comecei a entrevista.

Boa tarde. Fico feliz por tê-lo aqui, finalmente. Já não tinha esperança de que a nossa entrevista pudesse vir a acontecer...
Vós, Senhora, tudo tendes, senão que tendes os olhos verdes.

É de conhecimento público a sua admiração pela figura feminina. Como está a sua vida amorosa neste momento?
Aquela cativa, que me tem cativo, porque nela vivo já não quer que viva.

Como é ela? 

Rosto singular, olhos sossegados, pretos e cansados, mas não de matar.

Qual foi a coisa mais romântica que já lhe disse?
“Pede o desejo, Dama, que vos veja”.

Como é sentir-se apaixonado?
É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade.

E o Amor? O que é para si o Amor?
Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.

Como seria o seu lugar paradisíaco?
Alegres campos, verdes arvoredos, claras e frescas águas de cristal. O céu, a terra, o vento sossegado... As ondas, que se estendem pela areia... Os peixes, que no mar o sono enfreia... O noturno silêncio repousado...

Quando é que se apercebeu do seu gosto pela poesia?
Foi naquela triste e leda madrugada, cheia toda de mágoa e de piedade.

O que acha de se celebrar o dia 10 de junho em sua honra?
Enquanto houver no mundo saudade quero que seja sempre celebrado.

Qual foi o principal motivo para os seus desterros?
Erros meus, má fortuna, amor ardente...

Onde viveu durante a maior parte da sua infância?
Junto de um seco, fero e estéril monte, inútil e despido, calvo, informe, da natureza em tudo aborrecido, onde nem ave voa, ou fera dorme, nem rio claro corre, ou ferve fonte, nem verde ramo faz doce ruído.

O que acha dos tempos atuais?
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.

Como resumiria a sua vida?
Erros meus, má fortuna, amor ardente...

Obrigada pela sua disponibilidade. Espero voltar a vê-lo um dia. 

E foi assim que acabou a nossa entrevista. Depois da minha última frase, e antes que Luís de Camões pudesse dar-me qualquer resposta, acordei. Levantei-me e apontei toda a entrevista num caderno que tinha aberto em cima da minha secretária.

Mariana Pereira Paulo, 10º D

6 de junho de 2017

O Casamento: Uma cerimónia “espantante”!

Mais uma crónica de mão-cheia do Alexandre!
Pintura de Marc Chagall, 1939
Calmamente, e com cautela para não ser notado, faço uns rabiscos na toalha de papel que cobre a mesa onde me encontro. Uma das muitas mesas redondas que, estrategicamente posicionadas, preenchem a sala. Nestes dias, todas as pessoas deixam de parte os conflitos pessoais, vestem as suas melhores roupas, e o Amor, esse que matou Inês de Castro, a que "depois de morta foi rainha", paira no ar.

Encontro-me, obviamente, num casamento. É uma cerimónia que me provoca sempre um misto de emoções... Para começar, constrangimento. O momento da chegada ao local da cerimónia é o que anseio que mais rapidamente passe. Pessoas que descubro serem da minha família, mas que me conhecem como se convivessem comigo diariamente, exageram ao dizer: "Ah, olhem para ele! Já está mais alto do que a mãe!". E eu só penso: "Como se fosse difícil. Até um anão que pudesse viver no Portugal dos Pequeninos é quase do tamanho da mãe.". Enfim. Enchem-me a cara de batom vermelho-vivo, mancham a minha camisa branca com base e esmagam-me dentro dos seus largos braços. Refiro-me, claramente, às "indivíduas" do sexo feminino. Com os homens, o cenário é extremamente diferente. Apertamos a mão, sorrimos, e perguntamos como tem corrido a vida. Muito mais simples, limpo e confortável, acreditem.

Em segundo lugar, esta cerimónia motiva também o crescimento de um sentimento de comoção dentro de mim, dentro dos outros convidados, dentro de todos, mesmo dos que estão a ver os noivos pela primeira vez. Há sempre três razões para se estar presente num casamento: ser-se convidado por gosto, por obrigação ou mesmo nem se ser. Aparecer, comer, beber, rir, e voltar para casa. A noiva pensa “deve ser da família do meu querido noivo”, e o noivo pensa “deve ser da família da minha querida noiva”, portanto, ninguém se insurge contra aquela presença estranha. A comida, que aos noivos parece sempre pouca, mas que serve de alimentação nas duas semanas seguintes, acabaria também por se estragar. Voltando ao que interessa. Até nós, homens, que muitos acusam de carregarmos um coração de pedra, nos comovemos em alguns momentos. Quando a noiva entra, ao som da mais bela das melodias, exibindo o seu longo vestido pela Igreja adentro, ou mesmo quando os noivos prometem nunca se separarem, na saúde e na doença, na alegria ou na tristeza, são momentos que não nos passam despercebidos. Reagimos de forma diferente, pois sabemos como nos conter e impedir algumas lágrimas de nos correrem pela face abaixo, apenas isso.

Um facto curioso… Em 2016, estimou-se que em cada cem casamentos, setenta terminassem com um pedido de divórcio. Imaginemos que, em média, cada casamento tenha um total de cem convidados, contando com os noivos. Têm sempre muito mais, se contarmos com os que se auto-convidam, como já citei, mas esses não vão entrar nos meus cálculos. Cada um dos convidados compra uma nova roupa para estrear no casamento, e a cada um deles são servidas cinco refeições, no dia da cerimónia. Ou seja, se um casamento terminar em divórcio, cem novas roupas foram estreadas em vão e quinhentas refeições foram servidas desnecessariamente. Contudo, no dia importante, ninguém pensa que os noivos, dias mais tarde, em vez de subirem à mesa para se beijarem apaixonadamente, quando os convidados espancam violentamente os pratos, subirão antes os seus tons de voz, para se tentarem sobrepor numa acesa discussão.

Algo me intriga, nisto dos casamentos: à medida que o dia avança, as mulheres vão ficando cada vez mais pequenas. Até a minha mãe me pedir, aflitíssima, que fosse ao carro buscar os seus sapatos rasos, nunca tinha percebido este estranho fenómeno da diminuição da altura feminina ao longo do dia!

Antes de se chegar ao casamento, normalmente, os dois seres apaixonados conhecem-se, namoram e acabam por ficar noivos. Enalteço o advérbio “normalmente”, pois há sempre casos em que a conta bancária de um dos noivos se sobrepõe às duas últimas etapas que antecedem o casamento, já por mim mencionadas.

Noutros tempos, todas as raparigas eram uma espécie de Efire, "fugindo" dos seus pretendentes como esta ninfa tinha fugido de Leonardo, pobre e azarado nauta. Agora, são todas como as restantes ninfas...Atiram-se a quem têm debaixo de olho, sem pensar duas vezes. No meu entender, os papéis têm-se invertido. De momento, em vez de serem os "Leonardos" a correrem atrás das "Efires", são as "Efires" que perseguem ferozmente os "Leonardos". Nunca imaginou Camões que a sociedade tanto se fosse transformar, quando escreveu a obra que marca eternamente a nossa língua. 

Soube ontem que os noivos do último casamento ao qual fui não tinham estado juntos mais de um mês. É "espantante", como exclama sempre o meu irmão mais novo. E acho que a palavra "espantante" devia ser mesmo incluída no dicionário, para poder descrever este tipo de situações. São, deveras, "espantantes". O ser humano, refletindo, é algo "espantante". Consegue que o céu não seja o limite, e, ao mesmo tempo, limita tudo o que é seu. Uma felicidade que é jurada como sendo eterna é limitada por uma série de rixas sem fundamento. Foi o caso deste casal, que esteve casado alguns dias. Depois de vários meses a preparar a cerimónia, a procurar uma casa, a tentar comprar um carro, segue cada um o seu caminho, esquecendo todos os abraços, todos os bons momentos e todas as vezes que tiveram uma grande probabilidade de serem contagiados com sífilis ou mononucleose, doenças que se transmitem no ato do beijo.

Seguem-se meses cheios de problemas. Visitas ao registo civil para anular o que uns dias antes validaram, problemas com as partilhas, desentendimentos de ordem ideológica frequentes. Se eu fosse juiz, chamava algum representante da Igreja ao Tribunal para termos uma conversa séria. Em vez de os noivos prometerem nunca se separarem, nem na saúde, nem na doença, nem na alegria, nem na tristeza, deviam prometer estarem casados, pelo menos, durante dois meses, para que depois não se acumulassem casos de divórcios nos tribunais, que levam meses ou anos a resolver.

Acho que, por hoje, não consigo escrever mais. O atenuante barulho dos talheres a embater nos pratos, copos ou qualquer coisa que faça com que os noivos se levantem e se beijem ainda corrói a minha cabeça. Esta é uma das perguntas que me coloco sempre que venho a este tipo de eventos...De que material serão feitos os inúmeros talheres e copos que ornamentam as mesas? É que são constantemente, casamento após casamento, esmurrados e torturados como se de sacos de boxe se tratassem, e nunca vi nenhum prato ou copo partido...Por outro lado, em casa, quando arrumo a louça, excecionalmente, para agradar à minha mãe, é impossível terminar a minha tarefa sem partir alguma peça. Ela acaba sempre por notar que arrumei a louça, não por estar bem arrumada, mas sim por haver menos do que havia antes. 

Das poucas coisas que me agradam nos casamentos, destaco este tipo de toalhas sobre a qual escrevi já quase metade da mesa. Enquanto todos vão “dançando” (considere-se este conceito a ação de abanar sem nexo o maior número de membros possível ao mesmo tempo), faço que as minhas palavras dancem, de uma forma muito mais subtil, espero, ao longo deste circular pedaço de papel. Quando a noite chegar ao fim, um empregado, que mesmo tendo passado o dia a servir às mesas terá a sua camisa branca mais limpa do que a minha (vantagens de se ser empregado e não convidado, diga-se de passagem), arrancará, sem emoção, esta toalha que me serviu de computador durante alguns minutos. Prefiro escrever à mão, pois sinto-me eu. Tenho total controlo sobre o que escrevo. Ao escrever no computador, sinto-me mais os outros. E sinto que não controlo o computador, e que é ele que me controla. Odeio computadores. 

No entanto, há uma semelhança entre mim e os computadores. Não temos namorada. Mais depressa verei um computador a namoriscar com uma máquina fotográfica do que eu com alguma rapariga. E sabem que mais? Também não me importo! Pelo menos, não me caso. Nem me divorcio. É que, ainda mais do que computadores, odeio casamentos. 

Alexandre Martins, 9ºA

24 de maio de 2017

Poesia visual 2

Mais trabalhos do 7º A, em que o grafismo e as palavras se entrelaçam e constroem outros sentidos.






16 de maio de 2017

Poesia visual

Temos um especial prazer em divulgar aqui as experiências criativas dos alunos do 7º A. Ora vejam se não merecem! Começamos com dois poemas.






4 de abril de 2017

Pode ser?

Paul Klee, Flora on sand, 1927
Pode ser, digo eu
Pode ser sim.
E porque não?

Porque me perguntam,
Se respondo sempre: Pode ser?

E o que pode ser?
Neste mundo o que pode ser?
O que se pode ter?
Se o mundo nos dá o céu, o mar e a terra também?

Vamos nós também dar um pouco de nós,
Pode ser?
Vamos deixar cada qual a sua marca,
Marcar a diferença, sonhar, lutar, concretizar,
E fazer um mundo melhor.

Pode ser?


                           Rafael Sousa, 12.º B