Em especial para os alunos que fizeram o 10º ano - ver o filme durante as férias pode ser uma boa introdução à leitura do livro.
15 de junho de 2015
14 de junho de 2015
Exames 2015
Os exames de Português dos nossos alunos começam amanhã. É aos "nonos anos" que cabe abrir a "temporada", e estamos certas de que o farão com ânimo e serenidade.
Desejamos boa sorte a todos os que se apresentam a exame.
fotografia de James Troi |
13 de junho de 2015
Há 127 anos, em dia de Santo António
SANTO ANTÓNIO
Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir…
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João…
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
Adiante… Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera…
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra cousa.
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não consertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz,
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza,
Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto; é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa?...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo? O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas ou não-coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arroste
Na nora de erros duns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história
Quem foste tu ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E, cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Por que demónio
É que foram pregar contigo em santo?
Fernando Pessoa, Poesia 1918-1930, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, Lisboa, 2005
7 de junho de 2015
Passe de calcanhar
Homens e mulheres andavam felizes e contentes pelos prados e viviam em paz, até que um dia tiveram frio. Desde então, começaram com a mania da propriedade e mudaram-se para as cavernas, onde os homens deixavam as mulheres a cuidar das crias enquanto iam caçar. Como os homens são seres naturalmente singelos, confundiram tudo e ganharam a outra mania que viria a desencaminhar a humanidade, a mania de que as mulheres são objectos de parir e de servir.
Na obra, a mulher difere mais da casa do que o que é costume, ela pensa, ela fala, ela sente. Ela não é uma parideira, ela quer prazer sexual. Ela não é uma escrava, ela quer serviço mútuo. Ela não é frágil, ela é humana… e revela a humanidade do homem.
Mas depois de desvendar a fragilidade e o marialvismo masculino, ela ama-o, ela quere-o, ela deseja-o. A mulher, forte, encontra no homem a sua fraqueza, no amor o seu “calcanhar de Aquiles”. Vejamos o Aquiles a virar Ronaldinho e a dar toques no jogo do amor, porque a mulher não é uma casa ou uma consola, é uma jogadora, e uma jogadora à altura.
Beatriz Lourenço, 12º E, Clássicos da Literatura
1 de junho de 2015
Blimunda - porquê este nome?
Recuperando, em proveito dos nossos alunos do 12º Ano, algumas entradas das fundações deste blogue:
Muitas vezes me perguntei: porquê este nome? Recordo-me de como o encontrei, percorrendo com um dedo minucioso, linha a linha, as colunas de um vocabulário onomástico (…)
Nunca, em toda a minha vida, nestes quantos milhares de dias e horas somados, me encontrara com o nome de Blimunda, nenhuma mulher em Portugal, que eu saiba, se chama hoje assim. E tão-pouco é verificável a hipótese de tratar-se de um apelativo que em tempos tivesse merecido o favor das famílias e depois caísse em desuso: nenhuma personagem feminina da História do meu país, nenhuma heroína de romance ou figura secundária levou alguma vez tal nome, nunca estas três sílabas foram pronunciadas à beira duma pia baptismal ou inscritas nos arquivos do registo civil. Também nenhum poeta, tendo de inventar para a mulher amada um nome secreto, se atreveu a chamar-lhe Blimunda.
Tentando, nesta ocasião, destrinçar aceitavelmente as razões finais da escolha que fiz, seria uma primeira razão a de ter procurado um nome estranho e raro para dá-lo a uma personagem que é, em si mesma, estranha e rara. De facto, essa mulher a quem chamei Blimunda, a par dos poderes mágicos que transporta consigo e que por si sós a separam do seu mundo, está constituída, enquanto pessoa configurada por uma personagem, de maneira tal que a tornaria inviável, não apenas no distante século XVIII em que a pus a viver, mas também no nosso próprio tempo.
Ao ilogismo da personagem teria de corresponder, necessariamente, o próprio ilogismo do nome que lhe ia ser dado. Blimunda não tinha outro recurso que chamar-se Blimunda. Ou talvez não seja apenas assim. Regressando ao vocabulário, e mesmo sem recair em excessos de minúcia, posso observar como abundam os nomes de pessoa extraordinários e extravagantes, que ninguém hoje quereria usar e antes só excepcionalmente, e contudo não foi a nenhum deles que escolhi: rareza e estranheza não seriam, afinal, condições suficientes.
Que outra condição, então, que razão profunda, porventura sem relação com o sentido inteligível das palavras, me terá levado a eleger esse nome entre tantos? Creio que sei hoje a resposta, que ela me acaba de ser apontada por esse outro misterioso caminho que terá levado Azio Corghi a denominar Blimunda uma ópera extraída de um romance que tem por título Memorial do Convento: essa resposta, essa razão, acaso a mais secreta de todas, chama-se Música. Terá sido, imagino, aquele som desgarrador de violoncelo que habita o nome de Blimunda, profundo e longo, como se na própria alma humana se produzisse e manifestasse, que me levou, sem nenhuma resistência, com a humildade de quem aceita um dom de que não se sente merecedor, a recolhê-lo, num simples livro, à espera, sem o saber, de que a Música viesse recolher o que é sua exclusiva pertença: essa vibração última que está contida em todas as palavras e em algumas magnificamente.
Saramago, in libreto da ópera Blimunda, Teatro Nacional de São Carlos, 1991
20 de maio de 2015
17 de maio de 2015
A gramática
... é tema de uma crónica, no Diário de Notícias de hoje. Ora vejam:
Português atual
Português atual
A deixis e a referência deíctica (I)
A construção do valor referencial de uma expressão depende do conhecimento das coordenadas enunciativas (pessoa, tempo e espaço). O sujeito que enuncia, o sujeito a quem se dirige a enunciação, o tempo e o espaço da enunciação.
A deixis (palavra importada do grego antigo, com o significado de "ação de mostrar") designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões deícticas) que têm como função "apontar" para o contexto situacional. Deste modo, essas palavras ou expressões, ao serem utilizadas num discurso, adquirem um novo significado, uma vez que o seu referente depende do contexto.
A deixis pode ser definida como o conjunto de processos linguísticos que permitem inscrever no enunciado as marcas da sua enunciação. Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a quem se dirige (interlocutor), o tempo da enunciação e o espaço da enunciação.
Os deícticos inserem-se em diversas categorias gramaticais, adquirindo sentido pleno apenas no contexto em que se emitem. Assim, pertencem à categoria dos deícticos os pronomes pessoais, os determinantes artigos, os determinantes e pronomes possessivos; os determinantes e pronomes demonstrativos; os advérbios de lugar e de tempo e os tempos verbais.
Lúcia Vaz Pedro in DN, 17/05/2015
14 de maio de 2015
Língua Líquida
E ouvir o "Mar Português", de Fernando Pessoa, em italiano?
Poema traduzido por Antonio Tabucchi e dito por Miriam Ruoppo.
Poema traduzido por Antonio Tabucchi e dito por Miriam Ruoppo.
7 de maio de 2015
Portugal - the wild side
O realizador e fotógrafo da natureza Daniel Pinheiro filmou durante 4 anos a vida selvagem em Portugal. O documentário, cujo trailer pode ser visto no Vimeo, foi distinguido com um prémio de qualidade.
Vale a pena dar uma espreitadela: Portugal - the wild side
3 de maio de 2015
29 de abril de 2015
A MITOLOGIA NA ATUALIDADE
Coautora com Bárbara Wong
Bárbara Wong que não veio à escola
Escola que recebeu a autora
Autora que veio a oito de abril
Abril para apresentação
Apresentação da coleção
Coleção juvenil Olimpvs.net
Olimpvs.net site oficial
Oficial, cativante e esclarecedora
Esclarecedora foi a exposição
Exposição de temas e ação
Ação que envolve cinco personagens
Personagens que têm nomes de deuses
Deuses da grega mitologia
Mitologia que é a base das aventuras
Aventuras e curiosidades contadas
Contadas pela escritora Ana Soares.
Palavra Puxa Palavra, a propósito da vinda da escritora à escola
(produção
coletiva pela turma do 7.º B)
25 de abril de 2015
Eu vim de longe
25 de Abril de 1974 - recordar e celebrar.
Poema, música e voz de José Mário Branco
Eu Vim de Longe
Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou
Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram feitos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão
Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou
Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou
E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
Quando finalmente quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser
Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar à solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
Poema, música e voz de José Mário Branco
Eu Vim de Longe
Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou
Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram feitos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão
Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou
Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou
E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
Quando finalmente quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser
Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar à solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
20 de abril de 2015
Quem sou eu?
Maravilhas - pintura de Joan Miró, 1975 |
Encontro-me neste momento a vaguear por entre as mais sombrias ruas. Faço-o frequentemente. A minha pessoa perde-se, por ser tão frágil, tão inquieta e tão insegura de si mesma. O medo apodera-se da minha vontade de viver e rouba-me o que de mais valor tenho. Rouba-me a mim mesmo. O silêncio destrói-me interiormente, e, quando cerro os olhos, idealizo um mundo onde não posso estar.
São vários os fatores e os riscos que, dia após dia, corro. É certo que a felicidade é espontânea e momentânea, e é ainda mais certa a minha vontade de a receber agora, neste momento. A carência que eu sinto é e sempre será um dos meus pontos fracos. Ao passear nas tais sombrias ruas que sempre admirei, vejo-me perante os meus pensamentos. Os meus pensamentos que, de algum modo, são os meus piores inimigos. Acusam uma revolta e uma dor crua e destruidora. Revelam horas passadas num lugar escuro e solitário, por onde caminhei, convicto e decidido, sem mesmo saber onde tal jornada me iria levar. Pensamentos estes que são e sempre foram inexplicáveis. Sempre representaram o mais forte dos meus medos, a mais preocupante das minhas aflições, e a mais angustiante das minhas dúvidas.
O meu inconsciente sempre soube. Lá no fundo, as ruas sombrias onde tantas vezes me perdi e a dor crua tantas vezes por mim sofrida sempre foram um refúgio que eu outrora criara. O sujeito sempre fui eu. Sempre fui eu que me roubei a mim próprio, que destruía as minhas vontades e os meus sonhos, as minhas ambições e os meus desejos. O medo era eu. O medo sempre fui eu, e provavelmente continuarei a ser. Medo de mim, de quem sou. Do que desejo e do que quero. O medo era eu, porque as ruas sombrias nunca o foram verdadeiramente. O sombrio era eu. Sempre temi a minha pessoa, pelo sofrimento que me fez passar, e pelos ideais que, inevitavelmente, dela fazem parte. Os meus medos são previsíveis, e isso sempre me assustou. A previsibilidade dos meus pensamentos sempre acusou uma fraqueza que jamais iria destruir. Na verdade, é impossível fazê-lo.
Serei eternamente um fraco, por alguma vez ter ponderado conseguir encontrar a minha pessoa no meio de todas estas ruas sombrias e solitárias, das quais nunca faria parte. Seria impossível. Porquê tentar incluir-me num mundo onde nem eu, nem os meus sonhos, nem as minhas ambições, nem nenhuma parte de mim poderia fazer parte? Seria incorreto, seria injusto para comigo mesmo. Mas é daí que surgem os medos. O meu medo sempre foi esse. Medo de enfrentar o medo. Medo de enfrentar perguntas cujas respostas me assustariam, tal como sempre temi.
A questão neste momento é bastante clara. Sei do que fugi e sei o que temi. Sei onde me perdi, e onde me voltei a encontrar. As sombras daquelas ruas acabaram por desaparecer, de alguma forma. Neste momento há homogeneidade, entre mim e o mundo onde queria estar. Os meus medos são agora sonhos, e os meus sonhos são agora realidades. Tudo o que eu sempre quis, consegui-o. Foi preciso luta. Foram precisas lágrimas, ofensas, ódios e lamentações. Foram precisas gargalhadas, sorrisos, gritos e perdões.
O fraco tornou-se forte, e o difícil tornou-se fácil. Todos aqueles passeios noturnos em ruas sombrias e solitárias desvaneceram-se. E hoje já não preciso de por lá caminhar novamente. Aqueles medos de que sempre fugi hoje são felicitações do medo que atualmente sou. Felicitações que me fazem sorrir e amedrontar o próprio medo que antes fora. O sombrio agora é claro. Lágrimas negras são agora transparentes. As viagens já não são solitárias, cruas e dolorosas. As carências que eu sentia, e que continuo a sentir, as infinitas vezes em que me perdi sem me encontrar, e as demais viagens que fiz, tornaram-se neste momento em algo grandioso e harmonioso.
Eras tu a luz que jamais quero que desapareça e que se apague. Eras tu a radical mudança que tinha de ser feita. O que seria dos meus medos e das minhas ruas sombrias se lá não tivesses aparecido? Só tenho medo de voltar a ter medo do medo que eu fora. Mas para isso tenho as tuas palavras, e tu as minhas lágrimas, e todos os meus incansáveis sorrisos espontâneos e naturais. Cerrados deixarão os meus olhos de estar, por saber que hoje te adoro, pelo que és e pelo que foste.
Hoje estou feliz, intrinsecamente feliz. Hoje os meus medos perderam-se, ou pelo menos enfraqueceram. Não sozinhos, mas graças a tudo o que de mais simples possas ter feito. Por isso hoje dou-te o que tenho, o mais sincero e o mais genuíno, o que sonho e o que ambiciono, o que temo e o que recuso. Contigo os meus sentimentos partilho, esperando apenas ser compreendido.
Perdido deixei de estar, pois os meus reflexos deixaram de ser isso mesmo. És o espelho da minha pessoa. Resta-me agradecer e, por entre as lágrimas escorridas e palavras proferidas, sorrisos roubados e gritos impedidos, digo que te Adoro.
Bernardo Mendes, 11º A
15 de abril de 2015
Uma leitura de Aparição
Aparição é palco de uma descoberta constante da aparição do “eu”, do confronto intemporal com quem somos e quem julgamos ser. Para além disso, elucida-nos acerca de temáticas como a solidão, a busca de cada um de nós para encontrar o seu lugar, acerca do Alentejo e dos seus costumes, da arte, da importância do conhecimento e da, sempre presente, morte. O objetivo deste livro é dar resposta aos problemas do mistério do "eu", da condição mortal do Homem, do seu apelo de infinito e da sua grandeza num mundo sem Deus. Vergílio Ferreira discute assim, através da sua narrativa, os temas que mais angustiam o Homem, votado à morte, frágil, limitado e entregue exclusivamente a si.
Numa procura incessante da sua essência e da dos elementos que o rodeiam, o autor propõe uma introspeção sobre quem somos e porque somos. Tudo isto através da história de Alberto, um professor de Português em Évora, que desenha todo um universo de contornos indefinidos. Alberto é uma personagem com um problema metafísico a resolver, um ser angustiado pela redescoberta da morte, que não acredita em Deus, uma personagem para quem a vida é uma selva de caminhos, na qual é fácil perdermo-nos. Falar deste homem é ainda invocar um ser que se sente excluído da verdade e da harmonia natural, que quer uma resposta para a ameaça da morte, algo que lhe confira tranquilidade. Trata-se, portanto, de alguém incessantemente à procura da aparição.
Na verdade, o autor serve-se de Alberto e das personagens igualmente fortes com quem este se cruza para escrever um romance marcadamente autobiográfico, dado que o centro da obra é a experiência de algo muito pessoal. Afinal, tal como a personagem, o autor deu aulas em Évora, sendo de destacar que os paralelismos autobiográficos não se ficam por aqui. Em suma, o autor confere a Alberto o papel de difusor das respostas, marcadas pela filosofia existencialista, a que chegou.
Numa procura incessante da sua essência e da dos elementos que o rodeiam, o autor propõe uma introspeção sobre quem somos e porque somos. Tudo isto através da história de Alberto, um professor de Português em Évora, que desenha todo um universo de contornos indefinidos. Alberto é uma personagem com um problema metafísico a resolver, um ser angustiado pela redescoberta da morte, que não acredita em Deus, uma personagem para quem a vida é uma selva de caminhos, na qual é fácil perdermo-nos. Falar deste homem é ainda invocar um ser que se sente excluído da verdade e da harmonia natural, que quer uma resposta para a ameaça da morte, algo que lhe confira tranquilidade. Trata-se, portanto, de alguém incessantemente à procura da aparição.
Na verdade, o autor serve-se de Alberto e das personagens igualmente fortes com quem este se cruza para escrever um romance marcadamente autobiográfico, dado que o centro da obra é a experiência de algo muito pessoal. Afinal, tal como a personagem, o autor deu aulas em Évora, sendo de destacar que os paralelismos autobiográficos não se ficam por aqui. Em suma, o autor confere a Alberto o papel de difusor das respostas, marcadas pela filosofia existencialista, a que chegou.
Raquel Rocha, 12º E, Clássicos da Literatura
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