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22 de maio de 2018

Júlio Pomar


O almoço do trolha,1946-50
O almoço do trolha, pintura de Júlio Pomar, que hoje nos deixou. Artista plástico nascido em Lisboa em 1926, Júlio Pomar é considerado um dos grandes criadores da arte contemporânea portuguesa.

A sua obra foi dedicada sobretudo à pintura e ao desenho, mas realizou igualmente trabalhos de gravura, escultura, ilustração, cerâmica, vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejo.

31 de dezembro de 2017

FELIZ 2018

Matisse, árvore da vida

Os nossos votos, nas palavras de Sophia.

A PAZ SEM VENCEDOR E SEM VENCIDOS
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ter melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos

Sophia de Mello Breyner Andresen


1 de dezembro de 2017

A Restauração de 1640


Restauração - Tapeçaria de Portalegre (detalhe)
A dinastia espanhola dos Filipes governou o país entre 1580 e 1640, altura em que o futuro D. João IV liderou uma revolta que afastou os castelhanos do trono.

Foram 120 os conspiradores que, na manhã de 1 de Dezembro de 1640, invadiram o Paço da Ribeira, em Lisboa, para derrubar a dinastia espanhola que governava o país desde 1580. Miguel de Vasconcelos, que representava os interesses castelhanos, foi morto a tiro e atirado pela janela.

Do balcão do Paço proclamou-se a coroação do Duque de Bragança, futuro D. João IV, e também dali que se ordenou o cerco à guarnição militar do Castelo de S. Jorge e a apreensão dos navios espanhóis que se encontravam no porto.

Até ao final de 1640, todas as praças, castelos e vilas com alguma importância tinham declarado a sua fidelidade aos revoltosos.

A restauração da independência só seria reconhecida pelos espanhóis 27 anos depois, com a assinatura do Tratado de Lisboa.

A Restauração de 1640


1 de novembro de 2017

Todos os Santos e "Halloween": tão próximos, tão diferentes


Há mais de 2500 anos, já os celtas celebravam, a 31 de outubro, o seu novo ano, o fim das colheitas, a mudança de estação e a chegada do inverno.

Esta cerimónia festiva, em honra da divindade Samhain (deus da morte), permitia comunicar com o espírito dos mortos. Nesse dia, abriam-se as portas entre o mundo dos vivos e dos mortos. De acordo com a tradição, nessa noite os fantasmas dos mortos visitavam os vivos. Para acalmar os espíritos, a população depositava ofertas diante das portas das casas.

A festa foi conservada no calendário irlandês após a cristianização do país, como um elemento de folclore. Mais tarde implantou-se nos EUA, com os emigrantes irlandeses do final do século XIX, e aí conhece, ainda hoje, um imenso sucesso. Agora, o Halloween volta a atravessar o Atlântico, em sentido contrário, em direção à Europa, essencialmente por razões comerciais.

Para além das crenças primordiais das origens, o Halloween é um pretexto para fazer a festa e esquecer as longas noites outonais, muitas vezes chuvosas e tristes.

Por seu lado, a solenidade de Todos os Santos é uma festa mais "interior". A Igreja liberta do medo da morte, ao insistir, neste primeiro dia de novembro, na esperança da ressurreição.

Enquanto o "Halloween" é uma festa do medo, com as crianças (e adultos) a divertirem-se a causar medo aos outros e a si-próprias, a evocação católica é uma festa de comunhão com os santos, no primeiro dia de novembro. E de proximidade com os mortos da família, cuja memória se evoca, no dia seguinte

Adaptado de Conferência Episcopal Francesa
Trad. / edição: SNPC - Publicado em 01.11.2017

5 de outubro de 2016

A instauração da República

Na noite de 3 para 4 de outubro de 1910, os militares sublevaram-se. Após acesos combates, a monarquia foi derrubada. Dois dias mais tarde, na manhã do dia 5 de Outubro de 1910, a República era proclamada, das varandas da Câmara Municipal de Lisboa. Foi o culminar de um longo processo, iniciado ainda no século XIX, durante o qual fora crescendo, na população, o desejo de mudar o regime. 


Logo no dia 5, a família real abandonou Portugal, embarcando, na Ericeira, a caminho do exílio. Anastácio Franco Casado foi uma das testemunhas dessa partida e é entrevistado neste programa que o Ensina RTP nos mostra.

A jovem que serviu de modelo para o rosto da República, da autoria do escultor Simões de Almeida, tinha então 16 anos e chamava-se Hilda Puga. 

Foi o rosto dela que durante décadas figurou nas belas moedas de cinquenta centavos e de cinco escudos que circularam em Portugal até 1970.

8 de março de 2016

Dia Internacional da Mulher

No dia 8 de março de 1857, as operárias de uma fábrica de tecidos, na cidade de Nova Iorque, fizeram greve. Ocuparam a fábrica e reivindicaram melhores condições de trabalho: redução da jornada diária, de 16 para 10 horas, salários equiparados aos dos homens (as mulheres recebiam um terço do salário de um homem) e tratamento condigno no local de trabalho.


A manifestação foi reprimida com brutalidade, e cento e trinta operárias morreram carbonizadas dentro da fábrica, propositadamente incendiada.

Treze anos mais tarde, em 1910, na Dinamarca, decidiu-se que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem às operárias imoladas. Mas só em 1975 foi esta data oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Na maioria dos países, neste dia, realizam-se conferências, debates e reuniões acerca da condição feminina no mundo e do preconceito contra as mulheres. De facto, e apesar de muitos avanços, as mulheres continuam a ser vítimas de discriminação laboral, de violência e de falta de direitos cívicos. Muito foi conquistado, mas muito ainda há para ser alcançado.

Mais informação, aqui.

1 de dezembro de 2015

A Restauração

O dia 1 de dezembro é comemorado como o Dia da Restauração da Independência de Portugal, porque o trono português, ocupado havia 60 anos por uma dinastia espanhola, voltou para um rei português. 
D. Filipa de Vilhena arma os seus filhos cavaleiros, para que participem na revolta do 1º de Dezembro 
«Foram 120 os conspiradores que, na manhã de 1 de Dezembro de 1640, invadiram o Paço da Ribeira, em Lisboa, para derrubar a dinastia espanhola que governava Portugal desde 1580. Miguel de Vasconcelos, que representava os interesses castelhanos, foi morto a tiro e atirado pela janela. Do balcão do Paço, o Duque de Bragança, futuro D. João IV, foi aclamado como rei, e foi também dali que se ordenou o cerco à guarnição militar do Castelo de S. Jorge e a apreensão dos navios espanhóis que se encontravam no porto.  Até ao final de 1640, todas as praças, castelos e vilas com alguma importância tinham declarado a sua fidelidade aos revoltosos.»

http://ensina.rtp.pt/artigo/a-restauracao-de-1640/

23 de setembro de 2015

Ciclos



Haikai de Outono

Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis pousar?

                                                       Mario Quintana

13 de junho de 2015

Há 127 anos, em dia de Santo António



SANTO ANTÓNIO

Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir…
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João…
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
Adiante… Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera…
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra cousa.
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não consertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz,
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza,
Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto; é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa?...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo? O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas ou não-coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arroste
Na nora de erros duns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história
Quem foste tu ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E, cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Por que demónio
É que foram pregar contigo em santo?

Fernando Pessoa, Poesia 1918-1930, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, Lisboa, 2005

25 de abril de 2015

Eu vim de longe

25 de Abril de 1974 - recordar e celebrar. 
Poema, música e voz de José Mário Branco

 

Eu Vim de Longe

Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram feitos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou

E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

Quando finalmente quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser

Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar à solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

30 de março de 2015

O que é a Páscoa?


A Páscoa cristã já vem da Páscoa judaica, mas a origem desta festividade é muito anterior. Começou por ser uma festa da primavera que tinha lugar na primeira lua cheia a seguir ao equinócio. Esta festa, pagã, já se celebrava 1100 anos antes de Cristo. 

No Egipto, os hebreus festejavam o seu deus neste dia, que era o primeiro do ano, e foi nesse contexto que se deu o Êxodo, passando esta data a ser celebrada no calendário judaico. A "última ceia" de Jesus seria, justamente, a celebração da Páscoa judaica. 

Como se explica então que agora celebremos a Páscoa para assinalar a ressurreição de Cristo? 
Explica-se pela continuidade na celebração: no século V, a Igreja Católica estabeleceu que a Páscoa se festejaria sempre no domingo a seguir à Páscoa judaica. É preciso ter em conta que era uma festividade campestre, que honrava a lua, astro que regula a natureza e os ciclos da procriação animal e humana, simbolizando assim a renovação da vida. Ora o renascimento de Jesus Cristo encaixava-se perfeitamente nesta ideia. 

E como aparecem os ovos e os cordeiros?
Sendo uma festa de pastores, estes aproveitavam para tosquiar as ovelhas. Os cordeiros surgem, naturalmente, associados ao sacrifício à lua. Ainda hoje, no Minho, por exemplo, o anho é obrigatório. Já os ovos simbolizam a renovação, a vida, a célula fundamental da existência humana.

Elementos colhidos na entrevista ao antropólogo Moisés Espírito Santo, publicada no DN, em 2008

23 de março de 2015

100 anos de Orpheu


Faz amanhã cem anos que saiu o primeiro número da revista Orpheu. Com ela, abriu-se um novo e fulgurante capítulo nas letras portuguesas. O Expresso publica um artigo em que recorda factos, imagens, os nomes e os rostos dos protagonistas desta aventura - Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Santa-Rita Pintor e Almada Negreiros, entre outros. 

A ler, aqui: FURACÃO ORPHEU 

5 de outubro de 2014

Hino à Razão

Neste aniversário da Implantação da República, propomos a leitura de um poema de Antero de Quental, o maior vulto da Geração de 70. 


Antero indagou as grandes questões filosóficas e sociais do seu tempo e procurou incessantemente uma solução política e ética para Portugal.

Aqui fica um dos seus poemas mais luminoso acerca do devir histórico:

          Hino à Razão

Razão, irmã do Amor e da Justiça, 
Mais uma vez escuta a minha prece. 
É a voz dum coração que te apetece, 
Duma alma livre só a ti submissa. 

Por ti é que a poeira movediça 
De astros, sóis e mundos permanece; 
E é por ti que a virtude prevalece, 
E a flor do heroísmo medra e viça. 

Por ti, na arena trágica, as nações 
buscam a liberdade entre clarões; 
e os que olham o futuro e cismam, mudos, 

Por ti podem sofrer e não se abatem, 
Mãe de filhos robustos que combatem 
Tendo o teu nome escrito em seus escudos! 

                                                                    
                                   Antero de Quental, Sonetos


10 de setembro de 2014

Histórias da escola



Ir à escola não foi fácil em todas épocas ou em todos os lugares do mundo. Ir à escola não foi sempre um direito consagrado, de que todas as crianças, pelo menos em teoria, pudessem usufruir. Que o digam aqueles que, por razões de sexo, da cor da pele, da classe social ou da sua cultura foram - e são ainda - discriminados e impedidos de aceder a uma educação de qualidade.

A dois ou três dias do recomeço das aulas, temos gosto em lembrar o exemplo de Ruby Bridges, nascida em1954 e que nesta semana completou 60 anos. Foi a primeira criança negra a frequentar uma escola primária "de brancos", no Sul dos Estados Unidos. E teve de lutar por isso. E de enfrentar a violenta desaprovação da sociedade conservadora e racista em que vivia.

Na imagem acima, colhida a 14 de Novembro de 1960, vêmo-la a caminho da escola, escoltada por marshalls que a protegiam da multidão enfurecida.

Ruby e a sua família enfrentaram um duro e longo combate por um direito que hoje nos parece tão assegurado que, por vezes, pouco o valorizamos. E no entanto, pareceu-lhes a eles merecer todos os sacrifícios - e não foram poucos, como pode ler-se aqui

Que o seu exemplo nos inspire no começo deste ano lectivo e nos faça acarinhar a escola e valorizar o estudo.

23 de abril de 2014

Três poemas para os 40 anos da Revolução de Abril


NUNCA PENSEI VIVER

Nunca pensei viver para ver isto:
a liberdade – (e as promessas de liberdade)
restauradas. Não, na verdade, eu não pensava
 no negro desespero sem esperança viva 
que isto acontecesse realmente. Aconteceu.
E agora, meu general?

Tantos morreram de opressão ou de amargura,
tantos se exilaram ou foram exilados,
tantos viveram um dia-a-dia cínico e magoado,
tantos se calaram, tantos deixaram de escrever,
tantos desaprenderam que a liberdade existe-
E agora, povo português?

Essas promessas – há que fazer depressa
que o povo as entenda, creia mais em si mesmo
do que nelas, porque elas só nele se realizam
e por ele. Há que, por todos os meios,
abrir as portas e as janelas cerradas quase cinquenta anos 

E agora, meu general?

E tu povo, em nome de quem sempre se falou,
ouvir-se-á a tua voz firme por sobre os clamores
com que saúdas as promessas de liberdade ?
Tomarás nas tuas mãos, com serenidade e coragem,
aquilo que, numa hora única, te prometem ?
E agora, povo português?

Jorge de Sena, 40 anos de servidão,1979







REVOLUÇÃO

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

como puro inícío
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

Sophia de Mello Breyner Andresen, O nome das coisas, 1977 








LIBERDADE


Viemos com o peso do passado e da semente
esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada
só se pode querer tudo quando não se teve nada
só se quer a vida cheia quem teve a vida parada
só se quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só há liberdade a sério quando houver
a paz o pão
habitação
saúde educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir

Sérgio Godinho in À queima-roupa (disco de 1974)

20 de janeiro de 2014

100 anos de Platero



Saíu hoje o número 20 da revista Blimunda, da Fundação Saramago, que pode descarregar-se aqui.

Neste número, destacamos um trabalho acerca de Platero e eu, o delicioso livrinho de Juan Ramon Jiménez, sobre cuja publicação se cumprem 100 anos.

Nunca deixamos de recomendar a sua leitura aos nossos alunos, pois Platero e eu cumpre muitos dos requisitos que lhes agradam: é pequeno, é alegre e gira em torno de uma personagem que nos cativa o coração: o burrinho Platero, amigo e meio de transporte do autor, com quem este mantinha uma relação que mais facilmente imaginaríamos ter com um cão ou com um gato. 

Feliz centenário, Platero!

3 de janeiro de 2014

Janeiro, o mês de Janus

O mês de Janeiro era, no calendário Juliano (instituído por Júlio Cesar em 45 a.C.), dedicado ao deus Janus, representado como um ser de dois rostos. Se partiam em viagem, se iniciavam um negócio, um projecto, se esperavam a chegada de um filho, os romanos consagravam-se a Janus, divindade dos caminhos, dos inícios e dos fins.
O templo de Janus, em Roma, tinha doze portas, uma por cada mês do ano. As portas mantinham-se fechadas em tempo de paz e eram abertas em tempo de guerra. No primeiro dia de cada mês, ofertava-se ao deus um pão de cereal amassado com azeite e vinho - a tríade alimentar da antiguidade clássica que foi também, durante muitos séculos, a base do nosso sustento. 
Kalendas de Ianuarius, dia 1 de Janeiro - era o dia de pedir perdão e de iniciar mudanças. Nesta data, os cônsules romanos tomavam posse do seu cargo anual e realizavam rituais públicos pela prosperidade nacional. O primeiro de Janeiro era também dedicado a Strénia, a deusa radiosa da saúde e, seguindo uma tradição muito antiga, que remontava aos tempos de Rómulo, neste dia os governantes recebiam do seu povo ramos de verbena, cortados no bosque consagrado à deusa. Com o passar do tempo, este presente simbólico foi-se modificando e enriquecendo, antecipando-se a sua entrega para as Saturnálias (festividades em honra do deus Saturno que ocorriam em Dezembro, por altura do solstício de Inverno e que, segundo alguns autores, antecipam os nossos presentes natalícios).
(Segundo informação recolhida em Histórias de la História)

16 de dezembro de 2013

Cala-te, vento velho! É o Natal que passa

 
Natividade, Fra Angélico, séc. XV

               Natal à Beira-Rio

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me da água a infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado…

Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia…
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

                          David Mourão-Ferreira, 1960