12 de abril de 2013

Contos Impopulares


As aulas já tinham terminado e eu estava curioso sobre o livro que tinha requisitado na Biblioteca. Daí, perguntei à minha mãe:

– Ó mãe, já ouviu falar da Agustina Bessa-Luís?
– Já, mas há muito tempo que não se ouve falar dela. Por aquilo que sei, é uma escritora muito famosa, mas nunca li nenhum livro dela. Acho que a Agustina ainda não morreu; mas porque perguntas? É mais algum livro que trazes para ler, além d’Os Maias?

E a conversa foi continuando. Mais tarde, fui pesquisar sobre a autora. Descobri que esta ilustre senhora de noventa anos deixara de ser falada na comunicação social, talvez devido à idade avançada e à doença. Descobri ainda que Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís é uma escritora portuense que, aos 26 anos, publicou a sua primeira obra de ficção; mas o sucesso só chegou em 1954, com a publicação do livro A Sibila

Descobri ainda que Agustina, além de romancista, faz parte da Academia de Ciências de Lisboa; da Académie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres de Paris; e da Academia Brasileira de Letras. Também foi diretora do jornal Primeiro de Janeiro e do Teatro Nacional D. Maria II. Várias das suas obras foram adaptadas ao cinema, pelo amigo e realizador Manoel de Oliveira. E, entre vários reconhecimentos e prémios que recebeu, destaca-se o Prémio Camões, o prémio literário mais importante da língua portuguesa.

O livro que li, Contos Impopulares, é uma coletânea de contos escritos entre 1951 e 1953. De entre catorze contos que constituem o livro, farei menção a quatro. Contos populares são contos passados de geração em geração numa linguagem oral, e conhecidos pelo senso-comum. Mas o título desta publicação, Contos Impopulares, remete-nos para contos bem diferentes desses. 

O primeiro, O Búzio, fala de um homem que estava doente; e, na sua melancolia, ouvia sons de piano através de uma vizinha. A sua casa assemelhava-se a um búzio porque ele era um ser encurralado e fechado em si mesmo. Como o próprio conto diz, «A própria casa era como um desses búzios de aroma salino e que contém dentro um ser encarquilhado, morto, brilhando viscosamente no seu antro de porcelana».

Já o segundo conto, Míscaros, fala de um jovem estudante que pretendia atravessar o rio num barco e que foi enganado pelo empregado da bilheteira, tendo de pagar dois bilhetes para fazer a travessia. Estando o jovem revoltado com a situação, esfarelou o bilhete e atirou-o à agua. Quando ia embarcar, foi acusado de querer viajar de borla, pelo que teve de comprar mais outro bilhete. Este pequeno conto mostra que muitas vezes os jovens agem de cabeça quente e fazem coisas de que se arrependem. 

Em O Cortejo, o provérbio “Quem muito espera, desespera” é observável através de um homem que espera impacientemente um cortejo que há-de passar em frente da uma janela de sua casa. De tanto esperar, o homem adormece encostado ao parapeito e, quando acorda, fica na dúvida se já teria passado o cortejo. Mas continua infindavelmente à espera que algo aconteça. 

No sétimo conto, O Torneio, há uma competição cujo objetivo é balear pombos. Quando um pombo era atingido, ouvia-se uma grande salva de palmas do público, na bancada. No entanto, um pombo conseguiu escapar. No silêncio que se seguiu, ouviu-se só o bater de palmas de José que, entre a troça dos outros, teve de se retirar, envergonhado. Este conto mostra-nos que quando nos opomos àquilo que a sociedade em geral aprova, corremos o risco de ser julgados e ridicularizados.

Gostei de ler os contos “impopulares” da Agustina Bessa-Luís, porque, através da ironia, fazem-nos pensar sobre a realidade. Termino com um excerto do conto Espaço para Sonhar:

«Uma boa história é a que nos comunica a consciência da nossa individualidade. Todos nós somos protagonistas duma história maravilhosa, mas só o artista pode desvendar a profundidade em que ela se desenrola, trazendo à superfície a suprema aventura da individualidade humana.»

CONTOS IMPOPULARES, de Agustina Bessa-Luís, Guimarães Editores, Lisboa, 2004, 5ª edição.

Tiago Silva, 11º B

1 comentário:

Soledade disse...

Correcção feita, Tiago, com as minhas desculpas. E parabéns pelo texto :-)