Um par de boxers, duas camisolas, uma lanterna, 20 euros dos avós, um
livro demasiado grande para ler antes dos 27 anos, um baralho de cartas de
coleção, um relógio e uma lupa antiga. Foi o que ele recebeu ontem, quando fez
15 anos. Boa lista, comparando com as minhas, em que 2/3 dos presentes não têm
a ínfima utilidade.
Fomos para o sótão jogar qualquer coisa. Foi a forma que ele arranjou de
estrear um baralho que, supostamente, excecionalmente, seria aberto ou usado,
tendo em conta o valor.
- Eish, esquece, está ganho! Nem te passa o que vem agora… - gabava-se
ele, preparando-se para aquela que seria a sua jogada triunfal.
Mal imaginava ele que era eu quem tinha o Ás de copas. O Bruno de
sempre: precipitado, vaidoso, pouco modesto. Sorri-lhe, apreciando a sua
espalhafatosa e cómica postura descuidada. Lá estava ele de braços levantados e
olhos felizes, disposto a terminar o jogo.
- Bruno - chamei calmamente, cortando o seu momento glorioso - repara só
- disse, num tom divertido de sarcasmo.
Fixando-o nos olhos, pousei lentamente o meu Ás sobre a mesa empoeirada,
esboçando um sorriso e esperando a reação dele.
- Eu não acredito nisto! - gritou ele, num misto de assombro e surpresa
- Eu não acredito nisto! É sempre a mesma coisa!
E, num gesto infantil de gozo, lançou o baralho ao chão, rindo.
Carolina Couto, 9º B
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