29 de novembro de 2012

Jogas?

Um par de boxers, duas camisolas, uma lanterna, 20 euros dos avós, um livro demasiado grande para ler antes dos 27 anos, um baralho de cartas de coleção, um relógio e uma lupa antiga. Foi o que ele recebeu ontem, quando fez 15 anos. Boa lista, comparando com as minhas, em que 2/3 dos presentes não têm a ínfima utilidade.


Fomos para o sótão jogar qualquer coisa. Foi a forma que ele arranjou de estrear um baralho que, supostamente, excecionalmente, seria aberto ou usado, tendo em conta o valor.

- Eish, esquece, está ganho! Nem te passa o que vem agora… - gabava-se ele, preparando-se para aquela que seria a sua jogada triunfal.

Mal imaginava ele que era eu quem tinha o Ás de copas. O Bruno de sempre: precipitado, vaidoso, pouco modesto. Sorri-lhe, apreciando a sua espalhafatosa e cómica postura descuidada. Lá estava ele de braços levantados e olhos felizes, disposto a terminar o jogo.

- Bruno - chamei calmamente, cortando o seu momento glorioso - repara só - disse, num tom divertido de sarcasmo.

Fixando-o nos olhos, pousei lentamente o meu Ás sobre a mesa empoeirada, esboçando um sorriso e esperando a reação dele.

- Eu não acredito nisto! - gritou ele, num misto de assombro e surpresa - Eu não acredito nisto! É sempre a mesma coisa!

E, num gesto infantil de gozo, lançou o baralho ao chão, rindo.

Carolina Couto, 9º B

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