21 de janeiro de 2022

AVENTURA EM COPACABANA

 

Tal como o texto que antes publicámos, também este foi produzido no Clube de Escrita Criativa da nossa escola, e em resposta ao mesmo desafio: imaginar-se turista num determinado país e registar, em dez minutos, uma das suas aventuras mais peculiares. 

 

Ilustração de Lisa Congdon

Tínhamos chegado há 3 dias. A praia de Copacabana estava lotada, como de costume, mas o meu objetivo naquele dia era, sem dúvida, chegar ao Cristo Redentor. Afinal, quem é que tem a coragem de ir ao Rio sem tirar uma fotografia à frente daquela imensidão de arte que é a escultura mais famosa da América do Sul?!

 Enquanto caminhava ao calor ardente em direção àquela obra-prima, vi de tudo e, claro, fotografei tudo o que de bonito vi. Parei no areal, queria tirar uma fotografia à linha do horizonte, estava linda, de onde eu a via, dava vontade de a alcançar e ver os mistérios que esconde. Enquanto preparava o foco da câmara, passa um pássaro lindo, talvez típico da região e, com todo o atrevimento do mundo, tem a audácia de voar para longe com a minha câmara. A câmara que comprei especialmente para esta viagem!

 Corri pela praia, pelas ruas, sinto que corri o Rio de Janeiro inteiro atrás daquela ave rara que me roubou em plena luz do dia. Sempre soube que era um destino de férias perigoso, mas jurava que ia ser uma pessoa a assaltar-me, não um animal em fuga. Fui de encontro a todas as pessoas, acho que a certo ponto até derrubei alguém. Já devo estar nas bocas do Rio como a doida que corre atrás de bichos.

Não conseguia apanhar aquele bicho infernal. De repente, vejo-o a pairar sobre o ombro de uma senhora que, com toda a gentileza, lhe tira a câmara do bico. Como é que alguém é tão gentil com um ladrão? A senhora, com não mais de 50 anos, sorri e eu, com toda a coragem reunida, tento ir falar com ela e explicar-lhe a minha situação.

 Ela ouve, mas sinto que não escuta, só abana a cabeça. Acabo de falar e ela sorri, sinto a esperança de que vou reaver o que me pertence a voltar, mas não, ela vira costas. Ela teve a audácia de me virar as costas! Tentei ir atrás dela, mas perdi-a de vista numa ruela, afinal ela conhece melhor aqueles corredores estreitos que eu.

Agora estou aqui, no avião, sem câmara, sem fotografia no Cristo Redentor, com as pernas doridas de tanto correr. O que trouxe dessa viagem é apenas mais uma história para os meus amigos se rirem de mim. Mas fico avisada, o perigo do Rio de Janeiro são os bichos, não os ladrões ou favelas.

 

Beatriz Bogalho, 12ºD

 



18 de janeiro de 2022

UMA AVENTURA PECULIAR

 

Hoje divulgamos um texto escrito no Clube de Escrita Criativa da nossa escola, em resposta ao desafio: "Imagina-te turista num determinado país e regista uma das tuas aventuras mais peculiares." Aqui vos deixamos a narrativa desta aventura escrita em dez minutos - o tempo disponibilizado para o exercício.

 

Cressida Campbell, 2002

 
Às sete da tarde do dia vinte e três de novembro, enquanto deambulava por uma rua sinuosa na qual havia acabado de chegar  devido a uma falha no meu GPS, fui interrompido por uma senhora, muito franzina e já de cabelos brancos, que falava comigo muito animada no idioma local. Apesar de não conseguir reproduzir nenhuma palavra, já compreendia qualquer coisa de tailandês e por isso percebi que ela tentava vender-me alguma coisa, ou convencer-me a fazer algo. Não me sentia muito seguro, mas ela parecia indefesa, e como começou a puxar-me para dentro da sua loja, pensei “Mal não me há de fazer!” e segui-a. Lá dentro, encontrei um ambiente estranho, decorado com bibelôs asiáticos. De repente, apareceu um homem enorme, e pensei que fosse este o meu fim, no entanto o que aconteceu foi algo inusitado. O homem, que mais parecia um lutador de judo, e que passado algum tempo percebi chamar-se Yan, começou a pentear-me, puxando-me de seguida para uma pia. Quando dei por mim já tinha a cabeça lavada e estava sentado em frente a um espelho sujo, tendo Yan a tentar dialogar comigo num inglês quase impercetível. Devido ao seu sotaque não conseguia perceber o que me dizia, por isso só anui.

Enquanto Yan me cortava o cabelo numa alegria estrondosa, a senhora, que mais tarde conclui ser a sua mãe, aparecia de vez em quando e alimentava-me com coisas maravilhosas e desconhecidas, de sabores que eu nunca havia experimentado. No entanto, como estava completamente distraído, não me apercebi do que o meu “barbeiro” me fazia e assim, quando olhei em frente, vi que não só não tinha mais de metade do cabelo com que ali havia chegado, mas também que o pouco que me restava no topo da cabeça estava espetado numa espécie de crista, com madeixas que tombavam alternadamente para um lado diferente. Apesar do penteado ridículo, a comida era maravilhosa e o ambiente era estranhamente reconfortante e quase familiar, e por isso foi uma bela experiência que até hoje recordo com carinho, tendo em conta que no final só me cobraram o equivalente a três dólares.

Catarina Moreira, 12º D


9 de dezembro de 2021

OS ÚLTIMOS 5 MINUTOS

 
 

Marc Chagall, O Relógio

Se tivéssemos mais 5 minutos,
dir-te-ia muitas coisas que não disse,
que te amava, que te adorava, que te olhava,
nos últimos 5 minutos de vida.

Se isto nunca tivesse acontecido,
ainda estaria nos teus braços?
ainda estarias feliz?
Nos últimos 5 minutos de vida.

Ninguém sabe estas respostas,
nem nunca saberão,
só um coração saberá,
e o coração será o teu.

Nos últimos 5 minutos,
eu conseguiria, eu poderia
fazer-te feliz?
Nos últimos 5 minutos de vida.

Catarina Jorge, 8.ºA

24 de novembro de 2021

EM DEFESA DO PASSADO

 

Escrito no contexto de uma prova de avaliação de Português – em que aos alunos se pedia uma opinião fundamentada sobre o desejo de corte radical com o passado por parte de alguns artistas modernistas – este texto, a que a autora deu o sugestivo título “Em defesa do passado”, constitui não apenas um belo exemplo de escrita académica, mas, e acima de tudo, uma reflexão muito bem fundamentada.

 

Gustav Klimt, O cavaleiro dourado, detalhe do "Friso de Beethoven"

Em defesa do passado

Certos momentos do passado da Humanidade trazem desconforto ao ser relembrados, isto é um facto. No entanto, é da minha opinião que aceitemos as nossas falhas passadas e que construamos um mundo melhor com essa consciência. Há quem defenda suprimir o passado, de modo a começar de novo. Eu discordo.

Em primeiro lugar, considero que o passado forma o presente. Isto é, as ações que realizamos no presente são consequência ou de ações passadas ou daquilo que vimos, lemos ou ouvimos sobre o passado. Assim, temos a oportunidade de aprender com os erros dos nossos antepassados, evitando repeti-los. Um excelente exemplo desta ideia é o holocausto da Segunda Guerra Mundial. De um modo geral, reconhecemos agora que foi algo absolutamente imoral, que não devemos repetir. Então, se ignorássemos o passado, tornaríamos admissível um novo genocídio?

Em segundo lugar, sabemos que o conhecimento se constrói ao longo de gerações, por meio de constante pesquisa, debate e refutação. Esta ideia pode ser ilustrada pela pesquisa sobre o funcionamento da mente humana, tópico debatido até à atualidade. Inicialmente considerada dádiva divina, o nosso conhecimento sobre a consciência humana evoluiu ao longo do tempo, com nomes como Freud e Damásio entre os mais célebres. Caso eliminássemos conhecimentos anteriores, como alguns apoiam, o desenvolvimento da ciência, tecnologia e filosofia seria impossível, estagnando o nosso progresso enquanto sociedade.

Em suma, defendo que o reconhecimento do nosso passado coletivo, favorável ou não, é essencial para o desenvolvimento da sociedade, e que deixá-lo de parte impossibilitaria a projeção de um futuro melhor.

Margarida Sardinha,  12ºB

16 de novembro de 2021

A MINHA MÃE

 Prosseguimos, com gosto, a divulgação dos nossos jovens poetas.

Mãe e fliha, pintura de Will Barnet

A minha mãe era uma mistura de bondade,
alma e solidariedade.
Às vezes sentava-me na cama e ficava a pensar,
O que seria a minha vida sem ela para me amar?

Será verdade? Será mentira?
que um dia ficarei sem ela,
que ficarei sem nunca mais ver aquele sorriso doce,
que ficarei a olhar para as estrelas.

Ainda me lembro quando íamos à praia,
sentar-nos na beira do mar a cantar a nossa música favorita
Ela é o sol da minha vida, a minha luz,
que nunca se vai poder apagar.

Ela viu-me crescer,
Ensinou me a amar e a ser quem sou.
E é assim que a descrevo,
Como a mulher mais original que conheci.

Catarina Jorge, 8º A