28 de outubro de 2015

OS DEFEITOS DA PERFEIÇÃO

fotografia de Angel Nenov
Hoje, onde quer que estejamos, somos bombardeados com o estereótipo de uma aparência idílica. Seja em casa, a ver televisão, seja a passear pela rua, há sempre algum anúncio ou cartaz a promover essa tal perfeição, convencendo-nos de que atingi-la é mais importante do que tudo o resto.

Pessoalmente, embora seja contra tentarmos moldar o nosso exterior à medida do consensual, acho que não há uma pessoa no mundo moderno que não seja afetada pelos patrões inatingíveis da sociedade. Somos “programados” desde crianças pela noção de perfeição, muitas vezes relacionada, na publicidade, com a felicidade, e fazemos de tudo para que os outros nos aceitem, de nenhuma maneira afetando a perspetiva que temos sobre nós próprios. Aliás, a noção de próprio foi completamente despedaçada, pois o que pensamos já não importa, se comprarmos a loção para a cara do anúncio daquela mulher lindíssima e os sapatos mais desconfortáveis do mundo, “perfeitos para qualquer ocasião”.

Se repararmos, a perfeição é ela própria um produto, que todas as empresas parecem conseguir vender a preços exorbitantes. Por isso é que temos de rejeitar estas ideias erradas e superficiais que nos afetam a todos, e nunca positivamente.

Para provar que a perfeição e a felicidade não estão relacionadas, basta olharmos à nossa volta. Há pessoas gordas felizes, mulheres que se sentem bem consigo próprias mesmo sem maquilhagem, homens sem corpos esculpidos à medida de deuses gregos que usam mais os músculos do que os modelos das revistas. Afinal, os músculos mais importantes são os que provocam um sorriso.

Resumindo, Agustina Bessa-Luís tinha razão, quando disse que a aparência tomou conta da vida das pessoas, não importando se elas têm uma existência vã, desde que ostentem os bens que a publicidade difunde e a sociedade de consumo valoriza. Mas está nas nossas mãos passarmos a preocupar-nos com as pessoas que somos e não com os disfarces que vestimos.

Gabriel Branco, 11.º A


20 de outubro de 2015

OUTROS MUNDOS OUTROS SERES

fotografia de George Brown

     A existência de extraterrestres é um assunto polémico há vários anos. Muitas pessoas crêem que existem seres com o poder de viajar grandes distâncias pelo cosmos, e que poderão mesmo encontrar-nos, num dia que se tornará apocalíptico. Mas será isto uma possível realidade ou apenas fruto da ingenuidade e superstição humana?

Já os dedutivos filósofos gregos ponderavam sobre tais existências, há mais de dois milénios. Logicamente não imaginavam grandes naves espaciais que se movem à velocidade da luz, por onde saem homenzinhos de grandes olhos com armas laser bem firmes nos seus três dedos (pelo menos, não me parece que imaginassem). De qualquer forma, este é um cenário altamente improvável, não só pelas dificuldades tecnológicas que apresenta, mas principalmente pelas dificuldades evolutivas. É milagroso o facto de termos chegado a este patamar evolutivo, tendo em conta os vários factores necessários. Teve que ter lugar uma enorme cadeia de acontecimentos para que esteja neste momento a ler este texto, que passa pela altura em que a Terra sofreu um impacto colossal e ficou ligeiramente inclinada. Aliás, um evento tão simples como a cheia de um rio pode ter afetado o nosso desenvolvimento cognitivo há milhões de anos.

Com tudo isto não quero provar a inexistência de extraterrestres, mas sim mostrar que não serão seres evoluídos que se assemelham a nós. Numa vastidão tão grande como a do cosmos, acredito que haja até mais que uma espécie em mais que um planeta, mas serão formas de vida muito diferentes e mais simples que nós.

Ainda assim, imaginemos que somos visitados por habitantes de um planeta distante. Deveria este cenário aterrorizar-nos? Para responder a esta questão, o melhor é olharmos para nós mesmos. Podemos notar que à medida que uma determinada comunidade evolui, também o seu nível ético aumenta. Tomemos como exemplo a abolição da escravatura e os esforços crescentes para a preservação e o bem-estar animal. Os seres extraterrestres provavelmente teriam um nível ético superior, pelo que respeitariam as nossas vidas, tentando interagir pacificamente connosco.

Tanto quanto sabemos, não podemos excluir a hipótese, apesar de mínima, de sermos invadidos por seres sedentos de sangue, mas valerá mesmo a pena focarmo-nos tanto nesse lado negativo? Seria como viver com o medo constante de um relâmpago nos cair em cima. Até podemos ter liberdade para mudar a sociedade, mas numa escala tão inconcebível como a do Universo, não há escapatória ao nosso futuro. Existem tantos outros perigos mais reais, não só vindos do espaço, mas mesmo do nosso ambiente degradado e da nossa espécie egoísta! 

O que me leva a pensar noutra questão: caso entremos em contacto com outra civilização avançada, conseguiremos lidar com essa espécie, quando nem com a nossa conseguimos?

Alexandre Pinho, 11.º B

18 de outubro de 2015

Carta dos Deveres e Obrigações do Homem


No discurso que proferiu quando recebeu o prémio Nobel da Literatura, em 1998, José Saramago falou do seu desejo de fazer do mundo um lugar melhor, e da necessidade de firmarmos um conjunto de deveres éticos que todos os seres humanos deveriam respeitar. Deveres e obrigações que tomam agora forma numa carta redigida por um grupo de trabalho da Universidade Autónoma do México.

O documento, inspirado no discurso de Saramago, foi elaborado por intelectuais e académicos de várias áreas e disciplinas, e incide na responsabilidade social e individual, associada aos direitos consignados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Estes são os principais pontos desta notável Carta dos Deveres e Obrigações do Homem, que a todos deveria obrigar-nos, no nosso anseio por um mundo melhor:
  • Obrigação de erradicar a fome e de não desperdiçar comida.
  • Obrigação de erradicar o analfabetismo e de oferecer educação de qualidade.
  • Obrigação de partilhar o conhecimento técnico e a perícia, para promover a saúde integral.
  • Obrigação de comportamento rigoroso e respeitoso, ao exercer a liberdade de expressão.
  • Obrigação de utilizar com eficiência a energia e as medidas destinadas à poupança energética
  • Obrigação de eliminar a desigualdade extrema nas sociedades e de propiciar a igualdade social.
  • Obrigação de hospitalidade para com emigrantes e refugiados.
  • Obrigação de dirigir o conhecimento científico para a preservação da vida.
  • Obrigação de respeitar o meio ambiente e de contribuir para a sua limpeza, manutenção e regeneração
  • Obrigação de respeitar o habitat e a forma de vida dos animais não humanos.
Informação recolhida em:
http://verne.elpais.com/verne/2015/10/17/articulo/1445091220_052404.html

23 de setembro de 2015

Ciclos



Haikai de Outono

Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis pousar?

                                                       Mario Quintana

21 de julho de 2015

Novo programa do 10º ano

Em 2015-2016 entra em vigor o novo programa de Português para o 10º ano. Aqui ficam as ligações, para quem queira consultá-lo:

Alterações.










24 de junho de 2015

Pela internet



Um blogue inteiramente dedicado ao nosso único Nobel da literatura e que hoje divulgamos.

Dele retirámos duas citações, por sua vez extraídas do livro A espiritualidade clandestina de Saramago, de Manuel Frias, vencedor do Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho no ano de 2015. 

Acerca da obra de Saramago, do imperativo humanista que lhe assiste e da cumplicidade que se estabelece entre ela e os seus leitores, Manuel Frias destaca:

"a generosa promoção da sageza e ética" 

"a expressão intensa da verdade (...) como descoberta dinâmica do duplo princípio: o do conhecimento da vida e o da negação de uma existência agrilhoada."

16 de junho de 2015

A experiência dos limites na literatura

Radiografia de flores, Steven Meyers
Escritas em distintos séculos, movimentos artísticos diversos e diferentes cantos do mundo, Sofrimentos do Jovem Werther (Goethe, Alemanha, 1774),  Ligações Perigosas, (Choderlos de Laclos, França, 1782), Cartas Portuguesas, atribuídas a Mariana de Alcoforado (França, 1669), e Novas Cartas Portuguesas (Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, Portugal, 1973), são quatro obras que tudo teriam para ser distantes, caso algo não as aproximasse. 


Aproxima-as, então, a sua construção epistolar e a violência com que exploram o tema preferido da literatura: o amor. Se o amor é violento e rasga corações, cozendo-os com a agulha da dor, é também assunto em que pensar e  a partir do qual indagar a natureza humana.

Nas quatro obras é analisado este jogo sob a perspetiva dos dois jogadores (caso houvesse uma obra do século XXI, seriam mais os cenários do jogo): enquanto a obra de Goethe, fundadora do Romantismo, se debruça sobre um homem de coração desvendado por uma auto-análise minuciosa, e Laclos revela o sofrimento das vítimas do jogo, na sua dimensão mais perversa, as novas e velhas cartas portuguesas dão-nos a perspetiva da mulher, coisificada no jogo do amor e do sexo. 

Desta forma, as quatro obras respondem perfeitamente ao tema da experiência dos limites. 

 Beatriz Lourenço, 12º E, Clássicos da Literatura

15 de junho de 2015

Os Maias

Em especial para os alunos que fizeram o 10º ano - ver o filme durante as férias pode ser uma boa introdução à leitura do livro. 






14 de junho de 2015

Exames 2015

Os exames de Português dos nossos alunos começam amanhã. É aos "nonos anos" que cabe abrir a "temporada", e estamos certas de que o farão com ânimo e serenidade.

Desejamos boa sorte a todos os que se apresentam a exame.
fotografia de James Troi

Recursos pessoanos

Vale a pena folhear este álbum de recortes de imprensa criado pela Hemeroteca Municipal de Lisboa.




13 de junho de 2015

Há 127 anos, em dia de Santo António



SANTO ANTÓNIO

Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir…
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João…
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
Adiante… Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera…
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra cousa.
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não consertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz,
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza,
Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto; é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa?...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo? O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas ou não-coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arroste
Na nora de erros duns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história
Quem foste tu ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E, cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Por que demónio
É que foram pregar contigo em santo?

Fernando Pessoa, Poesia 1918-1930, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, Lisboa, 2005

7 de junho de 2015

Passe de calcanhar

Homens e mulheres andavam felizes e contentes pelos prados e viviam em paz, até que um dia tiveram frio. Desde então, começaram com a mania da propriedade e mudaram-se para as cavernas, onde os homens deixavam as mulheres a cuidar das crias enquanto iam caçar. Como os homens são seres naturalmente singelos, confundiram tudo e ganharam a outra mania que viria a desencaminhar a humanidade, a mania de que as mulheres são objectos de parir e de servir.

O mundo foi girando e, no século XX, três Marias emancipadas pegaram em si e na sua emancipação e escreveram um livro epistolar sobre o amor, desta vez sob a perspectiva feminina. Sentiram-se “menos desamparadas”, confessaram. Talvez por se subtraírem ao amparo do Estado Novo e experimentarem a liberdade de quem pensa. E assim, as Novas Cartas Portuguesas foram um escândalo e uma heresia, nomes que os ditadores chamam ao inconformismo e, muitas vezes, à plenitude artística.

Na obra, a mulher difere mais da casa do que o que é costume, ela pensa, ela fala, ela sente. Ela não é uma parideira, ela quer prazer sexual. Ela não é uma escrava, ela quer serviço mútuo. Ela não é frágil, ela é humana… e revela a humanidade do homem.

Mas depois de desvendar a fragilidade e o marialvismo masculino, ela ama-o, ela quere-o, ela deseja-o. A mulher, forte, encontra no homem a sua fraqueza, no amor o seu “calcanhar de Aquiles”. Vejamos o Aquiles a virar Ronaldinho e a dar toques no jogo do amor, porque a mulher não é uma casa ou uma consola, é uma jogadora, e uma jogadora à altura.

Beatriz Lourenço, 12º E, Clássicos da Literatura

1 de junho de 2015

Blimunda - porquê este nome?

Recuperando, em proveito dos nossos alunos do 12º Ano, algumas entradas das fundações deste blogue:

Muitas vezes me perguntei: porquê este nome? Recordo-me de como o encontrei, percorrendo com um dedo minucioso, linha a linha, as colunas de um vocabulário onomástico (…)

Nunca, em toda a minha vida, nestes quantos milhares de dias e horas somados, me encontrara com o nome de Blimunda, nenhuma mulher em Portugal, que eu saiba, se chama hoje assim. E tão-pouco é verificável a hipótese de tratar-se de um apelativo que em tempos tivesse merecido o favor das famílias e depois caísse em desuso: nenhuma personagem feminina da História do meu país, nenhuma heroína de romance ou figura secundária levou alguma vez tal nome, nunca estas três sílabas foram pronunciadas à beira duma pia baptismal ou inscritas nos arquivos do registo civil. Também nenhum poeta, tendo de inventar para a mulher amada um nome secreto, se atreveu a chamar-lhe Blimunda. 

Tentando, nesta ocasião, destrinçar aceitavelmente as razões finais da escolha que fiz, seria uma primeira razão a de ter procurado um nome estranho e raro para dá-lo a uma personagem que é, em si mesma, estranha e rara. De facto, essa mulher a quem chamei Blimunda, a par dos poderes mágicos que transporta consigo e que por si sós a separam do seu mundo, está constituída, enquanto pessoa configurada por uma personagem, de maneira tal que a tornaria inviável, não apenas no distante século XVIII em que a pus a viver, mas também no nosso próprio tempo.

Ao ilogismo da personagem teria de corresponder, necessariamente, o próprio ilogismo do nome que lhe ia ser dado. Blimunda não tinha outro recurso que chamar-se Blimunda. Ou talvez não seja apenas assim. Regressando ao vocabulário, e mesmo sem recair em excessos de minúcia, posso observar como abundam os nomes de pessoa extraordinários e extravagantes, que ninguém hoje quereria usar e antes só excepcionalmente, e contudo não foi a nenhum deles que escolhi: rareza e estranheza não seriam, afinal, condições suficientes. 

Que outra condição, então, que razão profunda, porventura sem relação com o sentido inteligível das palavras, me terá levado a eleger esse nome entre tantos? Creio que sei hoje a resposta, que ela me acaba de ser apontada por esse outro misterioso caminho que terá levado Azio Corghi a denominar Blimunda uma ópera extraída de um romance que tem por título Memorial do Convento: essa resposta, essa razão, acaso a mais secreta de todas, chama-se Música. Terá sido, imagino, aquele som desgarrador de violoncelo que habita o nome de Blimunda, profundo e longo, como se na própria alma humana se produzisse e manifestasse, que me levou, sem nenhuma resistência, com a humildade de quem aceita um dom de que não se sente merecedor, a recolhê-lo, num simples livro, à espera, sem o saber, de que a Música viesse recolher o que é sua exclusiva pertença: essa vibração última que está contida em todas as palavras e em algumas magnificamente.


Saramago, in libreto da ópera Blimunda, Teatro Nacional de São Carlos, 1991

17 de maio de 2015

A gramática

... é tema de uma crónica, no Diário de Notícias de hoje. Ora vejam:


Português atual
 

 

A deixis e a referência deíctica (I)


A construção do valor referencial de uma expressão depende do conhecimento das coordenadas enunciativas (pessoa, tempo e espaço). O sujeito que enuncia, o sujeito a quem se dirige a enunciação, o tempo e o espaço da enunciação.

A deixis (palavra importada do grego antigo, com o significado de "ação de mostrar") designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões deícticas) que têm como função "apontar" para o contexto situacional. Deste modo, essas palavras ou expressões, ao serem utilizadas num discurso, adquirem um novo significado, uma vez que o seu referente depende do contexto.

A deixis pode ser definida como o conjunto de processos linguísticos que permitem inscrever no enunciado as marcas da sua enunciação. Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a quem se dirige (interlocutor), o tempo da enunciação e o espaço da enunciação.

Os deícticos inserem-se em diversas categorias gramaticais, adquirindo sentido pleno apenas no contexto em que se emitem. Assim, pertencem à categoria dos deícticos os pronomes pessoais, os determinantes artigos, os determinantes e pronomes possessivos; os determinantes e pronomes demonstrativos; os advérbios de lugar e de tempo e os tempos verbais. 

Lúcia Vaz Pedro in DN, 17/05/2015