A Angélica Lourenço partilha connosco um poema a pedir leitura atenta, que aceite acompanhar este convite à indagação de si. Muito bem, Angélica!
Pintura de Ton Dubbeldam, Water Garden |
PASSAGEIRO
É água que escorre pelos dedos.
É uma faca de dois bicos,
Tanto movimenta, como estabiliza,
Tanto gera, como desola,
Tanto massacra, como cura.
Se o instante que está por vir é o futuro,
E o instante que passou é o passado,
Então o presente é um ápice… uma ilusão?
Criámos o relógio para controlar o tempo,
Mas é o tempo quem nos controla.
Corremos contra os ponteiros,
Aspiramos a eternidade na efemeridade.
O tempo está a terminar?
Não! Ainda falta… a primavera mal começou!
Será que falta?
Acredito que sim…
Quero acreditar que as flores estão a desabrochar,
Quero acreditar que os pássaros estão a cantar.
Mas sinto um ar gélido,
Que se entranhou e me arrepia.
Vejo folhas secas, folhas caídas.
Assim que pisei o mundo
A minha contagem regressiva começou,
Desconheço quanto tempo me resta,
Ninguém me diz, ninguém sabe...
Porque haveriam de saber?
O desconhecido é intimidante,
Devo viver na suave ignorância
Ou na dolorosa consciência?
Uma coisa eu sei!
Nada posso fazer senão continuar.
O tempo é passageiro, é finitude,
Velhos sábios ou jovens ousados,
Ambas as histórias terão um ponto final
E eu nada posso fazer
Senão continuar esta caminhada,
A caminhada de um mero passageiro.
Angélica Lourenço, 12º D
4 comentários:
Maravilhoso!
Muito bom.
A menina que conheci cresceu bem!
Que poema lindo.Parabéns pelo excelente trabalho.
Um poema intimista encantador!
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