Papoilas orientais, pintura de Georgia O'Keeffe |
Agradeço o sensacionismo da vida.
Aprecio o dilatar de pupilas, aquele evidente…
Por simples razões, amar, estimular, amar,
Amar por fora, amar por dentro,
Estimular por dentro, por fora,
Pensar, não pensar, pensar!
Venero o amor com mistério, amar com segredo,
O ver sem poder olhar,
O falar pelos olhos e pelos eriçados,
Falar por suspiros, falar, falar, sentir, consciente, inconsciente, falar!
Amo o entrar pela porta secreta e, simplesmente, amar,
Entregar-me ao amor, dar-me aos arrepios,
Oferecer da minha estranheza ao outro, da minha virtude ao mesmo.
Arder por dentro, pela proibição,
Amar por fora, pela excitação!
Mas não é fazê-lo que fascina,
É o sentir que deslumbra,
O abrir e fechar portas, esperando não errar,
O olhar inquieto, o mexer de dedos desejoso,
O silêncio que agita, o respirar que mata.
E estimular? Estimulante que nos faz esquecer, nos faz querer, nos faz desejar,
Querer agarrar sem sair do sítio, querer destruir com os olhos,
Ouvir aqueles passos e adivinhar aqueles cheiros!
Sair, andar, ver-me de fora, pensar-me a voar, querer, querer, querer!
Ser da noite, ser de quem me levar, ser do mistério, ser do vício enublado.
Ter aquela mania, aquela que é pecado, mas pecado? Todos somos pecado!
Todos somos carne desejada, ânsia uns dos outros…
Planeamos o momento auge a cada segundo, tencionamos tê-lo a cada minuto,
Tão juntos e tão distantes, tão encravados nas vozes, nas sensações e no desejo!
No fervor, no fogo asfixiante, no picante, no ardente, no desejo, no desejo!
Bate-me, sente-me, segue a minha mão, deixa-me gritar, deixa-te levar,
E depois chora, chora nesse mar, o mar do abuso, do uso e do desfloramento da alma!
Não deixes ninguém ver, anda, vem, senta-te, bate-me, bate-me mais,
não chega, não estás a tocar!
Ousadia, irreverência… Espanquem! Surrem! Maltratem! Apenas façam!
Fruir da mistura de tudo, excitação, felicidade, tristeza, depressão,entusiasmo, melancolia!
Estou sedenta de desejo, quero comer o amor, quero provar do que nunca foi meu,
Mas sempre me pertenceu, amo querê-lo loucamente porque sem isso já não sou nada!
A obscuridade da minha alma agarra-me, possui-me, quer-me…
Infortúnio, porque me levas?
Estou a morrer de desejo, adoro entregar-me a alguém, a algo, leva-me, leva-me!
Vou prender-me a alguém, como já me prenderam, ser de ti, seres de mim, tu, eu, desejo, tu, eu!
Mas eu sou apenas eu, só eu, apenas um passarinho inocente que voou no ar…
Aurora Monteiro, 12º ano
3 comentários:
Gostei, Aurora! :-)
Obrigada :-)
Quem escreve assim no 12 ano, não sai a onde vai parar no mundo da literatura portuguesa. Deixou-me com comichão.. de saber mais, de poder sentir mais. Espero que continue. Parabéns !
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