Não é usual turmas de Ciências
visitarem exposições de arte e museus, os alunos são demasiado objetivos para
se submeterem a situações em que lhes é pedida alguma subjetividade. Mas nós
somos diferentes e, por isso mesmo, decidimos passar uma manhã 100% cultural na
Fundação Calouste Gulbenkian.
Primeiramente, detivemo-nos no
museu propriamente dito, onde conhecemos as obras mais significativas da
coleção Gulbenkian, fazendo a famosa “Volta ao mundo em dez obras de arte”.
Pela sua diversidade, as peças permitiram-nos seguir a evolução da arte que, ao
longo dos tempos, acompanhou, em grande medida, a evolução dos povos e das suas
formas de pensamento. Da arte egípcia, que refletia intensamente a crença na
vida depois da morte, passámos à greco-romana, representada essencialmente por
moedas e medalhões gregos. Daí, fomos observar tapetes e tecidos típicos da
arte islâmica e as porcelanas do Extremo Oriente, principalmente de origem
chinesa e japonesa. Passámos os olhos pelos trabalhosos manuscritos da Idade
Média e chegámos ao Renascimento, com os seus retratos que tanto fazem lembrar
as “fotos de passe” de hoje em dia. Como não poderia deixar de ser, terminámos
em grande, com as extravagâncias do Barroco e do Rococó, nas quais nada mais se
respirava senão ostentação e luxo.
Após esta viagem, o Centro de
Arte Moderna pareceu-nos o melhor destino a seguir, com uma exposição de título
sugestivo: “Isto é arte? É arte! É arte! É arte!”. Depois da lição de história
de arte, tivemos, então, a oportunidade de contactar com obras contemporâneas,
em toda a sua irreverência e multiplicidade de formas, as quais deixam ao
observador margem para interpretação e subjetividade, exatamente aquilo que
nós, aspirantes a cientistas, tanto tememos.
Começámos pela coleção “Preso por
fios”, de Nadia Kaabi-Linke, que nos pareceu ter um caráter profundamente
pedagógico, uma vez que, através de instalações e pinturas, facilmente nos
sensibilizou para questões sociais associadas a aflitivos conflitos
entre povos e religiões. Passámos, então, ao escultor Rui Chafes, com “O peso
do paraíso”, uma coleção metálica, negra e dolorosa, que vivia em grande medida
do poder dos opostos: a terra e o céu, o real e o sonho, o grande e o pequeno… Acabámos
com fotografia, a exposição “Narrativa Interior”, de João Tabarra, na qual o
artista expressa a sua posição crítica relativamente à atualidade, com o
intuito de nos persuadir a fazer o mesmo, de modo a tornarmos o mundo num lugar
menos inóspito.
Rui Chafes, O peso do paraíso |
João Tabarra, A Viagem |
Em suma, pode dizer-se que,
apesar de diferente, a visita fez despertar o nosso lado mais interpretativo,
na medida em que nos obrigou a pensar para além do visível, do óbvio. De facto,
as obras de arte contemporânea podiam parecer, aparentemente, vazias de
significado, no entanto, refletindo um pouco, tudo nelas se tornava claro e expressivo.
Nessa reflexão tivemos de aguçar o nosso espírito crítico que, no fundo, é
aquilo que temos de mais precioso.
Como Turgueniev afirmou: "A
arte de um povo é a sua alma viva, o seu pensamento, a sua língua no
significado mais alto da palavra; quando atinge a sua expressão plena, torna-se
património de toda a humanidade, quase mais do que a ciência, justamente porque
a arte é a alma falante e pensante do homem, e a alma não morre, mas sobrevive
à existência física do corpo e do povo."
Alice Vicente, 12ºB
1 comentário:
Gostei muito do teu texto, Alice, a argúcia e o bom-humor fazem dele uma crónica deliciosa :-)
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