Morreu hoje, em Lisboa, aos 88 anos, o poeta António Ramos Rosa, autor de quase cem volumes de poesia, desde O Grito Claro (1958), que marcou a sua estreia, até Em Torno do Imponderável, o seu último livro de poemas, publicado no ano passado.
O poema que aqui divulgamos é bem conhecido e marcou, pelo seu apelo à liberdade e ao amor, num tempo em que ambos eram vistos com suspeição, gerações de leitores.
Não posso adiar o amor
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
Viagem Através de uma Nebulosa, 1960
2 comentários:
Paz à sua alma GRANDE de Poeta!
O tempo destes poetas com quem crescemos vai-se esgotando...
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