5 de março de 2014

Arte? Nós somos de Ciências

Não é usual turmas de Ciências visitarem exposições de arte e museus, os alunos são demasiado objetivos para se submeterem a situações em que lhes é pedida alguma subjetividade. Mas nós somos diferentes e, por isso mesmo, decidimos passar uma manhã 100% cultural na Fundação Calouste Gulbenkian.
Primeiramente, detivemo-nos no museu propriamente dito, onde conhecemos as obras mais significativas da coleção Gulbenkian, fazendo a famosa “Volta ao mundo em dez obras de arte”. Pela sua diversidade, as peças permitiram-nos seguir a evolução da arte que, ao longo dos tempos, acompanhou, em grande medida, a evolução dos povos e das suas formas de pensamento. Da arte egípcia, que refletia intensamente a crença na vida depois da morte, passámos à greco-romana, representada essencialmente por moedas e medalhões gregos. Daí, fomos observar tapetes e tecidos típicos da arte islâmica e as porcelanas do Extremo Oriente, principalmente de origem chinesa e japonesa. Passámos os olhos pelos trabalhosos manuscritos da Idade Média e chegámos ao Renascimento, com os seus retratos que tanto fazem lembrar as “fotos de passe” de hoje em dia. Como não poderia deixar de ser, terminámos em grande, com as extravagâncias do Barroco e do Rococó, nas quais nada mais se respirava senão ostentação e luxo.

Após esta viagem, o Centro de Arte Moderna pareceu-nos o melhor destino a seguir, com uma exposição de título sugestivo: “Isto é arte? É arte! É arte! É arte!”. Depois da lição de história de arte, tivemos, então, a oportunidade de contactar com obras contemporâneas, em toda a sua irreverência e multiplicidade de formas, as quais deixam ao observador margem para interpretação e subjetividade, exatamente aquilo que nós, aspirantes a cientistas, tanto tememos. 


Começámos pela coleção “Preso por fios”, de Nadia Kaabi-Linke, que nos pareceu ter um caráter profundamente pedagógico, uma vez que, através de instalações e pinturas, facilmente nos sensibilizou para questões sociais associadas a aflitivos conflitos entre povos e religiões. Passámos, então, ao escultor Rui Chafes, com “O peso do paraíso”, uma coleção metálica, negra e dolorosa, que vivia em grande medida do poder dos opostos: a terra e o céu, o real e o sonho, o grande e o pequeno… Acabámos com fotografia, a exposição “Narrativa Interior”, de João Tabarra, na qual o artista expressa a sua posição crítica relativamente à atualidade, com o intuito de nos persuadir a fazer o mesmo, de modo a tornarmos o mundo num lugar menos inóspito.

Rui Chafes, O peso do paraíso
João Tabarra, A Viagem

Em suma, pode dizer-se que, apesar de diferente, a visita fez despertar o nosso lado mais interpretativo, na medida em que nos obrigou a pensar para além do visível, do óbvio. De facto, as obras de arte contemporânea podiam parecer, aparentemente, vazias de significado, no entanto, refletindo um pouco, tudo nelas se tornava claro e expressivo. Nessa reflexão tivemos de aguçar o nosso espírito crítico que, no fundo, é aquilo que temos de mais precioso.

Como Turgueniev afirmou: "A arte de um povo é a sua alma viva, o seu pensamento, a sua língua no significado mais alto da palavra; quando atinge a sua expressão plena, torna-se património de toda a humanidade, quase mais do que a ciência, justamente porque a arte é a alma falante e pensante do homem, e a alma não morre, mas sobrevive à existência física do corpo e do povo."


Alice Vicente, 12ºB 

1 comentário:

Soledade disse...

Gostei muito do teu texto, Alice, a argúcia e o bom-humor fazem dele uma crónica deliciosa :-)