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17 de fevereiro de 2013

O visionário José Saramago


A Fundação José Saramago remete-nos para um artigo de Cyro de Mattos no qual são referidos grandes mestres da prosa de ficção do século XX que contribuiram para libertar a narrativa da sua estrutura tradicional: Marcel Proust, James Joyce, William Faulkner, Aldous Huxley, Guimarães Rosa, José Cardoso Pires, José Saramago... 

De Saramago e Cardoso Pires, o artigo destaca o "ritmo de modernidade" que ambos impuseram à literatura portuguesa da segunda metade do século XX. E prossegue analisando o processo narrativo de Saramago e o modo como expõe a interioridade das personagens e a sua condição face ao mundo. 

O artigo, intitulado O visionário José Saramago, é interessante e pode ser lido aqui.

6 de fevereiro de 2013

A aventura de ensinar

No 1º número de Forma de Vida, publicação online que se define como "fórum de literatura e ideias", um ensaio de Maria Pacheco de Amorim acerca das contingências do acto de ensinar.

Aqui deixamos a ligação para o texto, que nos parece de proveitosa leitura, bem como um excerto. Os sublinhados são nossos.

«Um dos meus alunos estuda ao meu lado duas vezes por semana. Enquanto eu própria trabalho a preparar aulas, ele faz os trabalhos de casa e outros exercícios de consolidação da matéria. É um aluno inteligente, mas também (talvez por isso mesmo) indisciplinado. 

A minha responsabilidade é ajudá-lo a estudar de forma constante e, com isso, aprender bem as diferentes matérias. O problema é que, a bem dizer, não sei como o fazer. Claro que sei uma série de coisas: que para estudar é preciso fazer resumos, decorá-los, resolver os exercícios; que o sacrifício do estudo traz um gosto no final; que ficamos contentes quando percebemos uma coisa nova; que devo chamá-lo quando se atrasa; que é preciso bater com o dedo na mesa quando, pelo canto do olho, vejo que se distraiu; que ironizar desmancha a sua resistência melhor do que ralhar; que às vezes é preciso ralhar. 

O que não sei, do que não estou certa, é do que é preciso em cada instante, nem do que acontecerá caso eu faça uma de entre estas várias coisas. O meu aluno não é um piano que, premindo eu uma tecla, tocará a nota que quero ouvir. E é isto que me faz perceber que não estou diante de um objeto e sim de alguém como eu. E o que fará é sempre inesperado, imprevisível. 

Um dia, na última semana de aulas, cheguei à escola preocupada. Ralhara-lhe, e percebia que, com isso, exagerara. Por causa da tensão das semanas de testes, não fizera os trabalhos de casa e faltara a uma aula. Chamei-lhe a atenção e ele ficou irritado, chegando a ser insolente. Entretanto, o Natal aproximava-se e era importante que estudasse matemática regularmente durante as férias, fazendo exercícios de um livro que a professora de matemática me dera para que consolidasse as bases, livro com que ele trabalha no tempo em que está comigo. Cheguei de manhã pensando dizer-lhe que resolvesse todos os dias em casa alguns exercícios do mesmo, mas dada a crispação dos dias anteriores e a exigência em si da sugestão não sabia como o fazer. Falava com uma professora no recreio, e ia mentalmente pesando várias hipóteses, quando reparei que chegara. Enquanto hesitava em ir ter com ele, ele aproximou-se e perguntou-me se eu lhe podia fazer o favor de emprestar o livro para resolver exercícios durante as férias. Não me parece que possa vir a esquecer o meu contentamento, nem o dele ao ver o meu. 

A aprendizagem tem qualquer coisa de milagre e não pode ser feita sem a iniciativa do aluno. Nada do que eu faça pode provocar inevitavelmente esta iniciativa, porque o meu aluno não é uma extensão de mim e sim alguém diante de quem estou. Se não tivesse feito tudo o que fiz, julgo que nada poderia ter acontecido, mas não era fazê-lo que me garantia que fosse acontecer.»

29 de janeiro de 2013

Eça de Queirós na internet

A maioria das obras de Eça de Queirós encontra-se digitalizada e pode ser descarregada, gratuitamente, a partir daqui.

Não que as edições virtuais possam substituir os livros em suporte material, sobretudo aqueles que estudamos nas aulas e cuja leitura é bem mais fácil, proveitosa e agradável a partir do livro em papel.

Mas é interessante, até para efeitos de pesquisa, dispor de um acervo digital. Para não referir a questão da gratuidade que, nos dias que correm, não é um aspecto negligenciável.
Portanto, deixo-vos a indicação. Boas leituras!

7 de janeiro de 2013

Conteúdos educativos em português, no iTunes

Captura de ecrã do iPhone 1


De acordo com uma entrada publicada no dia 3 de Janeiro em Ler ebooks, a Direção-Geral da Educação, do Ministério da Educação e Ciência, inaugurou um espaço no iTunes U – plataforma da Apple para conteúdos em áudio e vídeo – onde disponibiliza conteúdos educativos que podem ser descarregados gratuitamente para um computador (Mac or PC), iPhone, iPad ou iPod.

Estarão acessíveis, numa primeira fase, recursos educativos digitais já em linha nos sites da DGE, nomeadamente estudos sobre tecnologias no ensino, os cadernos SACAUSEF, algumas histórias em vídeo e áudio da iniciativa Conta-nos uma História e diversas publicações pedagógicas na área do Português, da Matemática e das Ciências.

27 de novembro de 2012

Metas curriculares

Segundo pode ler-se na Introdução ao documento que define as Metas Curriculares para o Ensino Básico, elas assumem este ano um caráter indicativo, tornando-se obrigatório o seu seguimento, em articulação com o processo de avaliação, em 2013/2014. Importa pois refletir acerca deste referencial que norteará o nosso trabalho a partir do próximo ano letivo. 
 

Segue-se uma opinião abalizada, publicada na sua página do Facebook pelo Professor Carlos Ceia, (da FCSH da Universidade Nova de Lisboa), o qual desde há muito acompanha as questões da formação inicial de professores.
«Depois de ter criticado severamente o anterior modelo de metas de aprendizagem, onde o menosprezo institucionalizado pelo conhecimento científico em favor de uma falsa pragmática era a nota dominante, tenho agora que felicitar a equipa da Professora Helena Buescu por ter sido capaz de criar um documento legível e proveitoso para a organização do ensino. Onde tínhamos o elogio do treino de competências relacionadas com uma textualidade meramente linguística, temos agora uma educação dirigida ao conhecimento do texto enquanto estrutura dinâmica e criativa de sentidos que tanto podemos encontrar nas suas modalidades literárias como nas não literárias.
As diversas equipas das metas de aprendizagem trabalharam seguindo as suas convicções idiossincráticas sobre o que deve ser ensinado e aprendido e não houve uma articulação entre os diversos saberes nem sequer os que estão mais próximos uns dos outros. A formação literária estava dissimulada no ensino de línguas estrangeiras em todo o Ensino Básico. Não havia um pensamento transversal, não havia sequer uma estratégia geral de promoção do ensino da literatura nos diversos níveis de ensino. A formação do gosto literário e/ou a formação de novos leitores continuava à mercê da imaginação romântica de cada professor e da sua sensibilidade para integrar o ensino avulso da literatura nos rígidos programas de ensino do novo pragmatismo da língua materna.
Mantenho a reserva de opinião sobre a questão complexa de termos metas por anos escolares ou por ciclos. No sistema inglês, as metas (ou attainment targets) não se organizam por anos de escolaridade, porque, por exemplo, é possível um estudante do 6º ano ler e escrever melhor do que um do 9º ano. No sistema português comete-se, desde há muito, este erro estratégico de confundir metas de aprendizagem/curriculares (para ciclos de aprendizagem) com organização curricular anual (para a gestão da escola, da vida escolar e da acção dos professores).
Não era só a palavra literatura que estava ausente das metas de aprendizagem. Também faltava a palavra-chave autoconhecimento. Estarão erradas todas as metas de aprendizagem/curriculares da leitura literária que nos afastem do conhecimento de nós mesmos. Essa meta é a mais difícil de ensinar, mas ao mesmo tempo a mais profícua. Ninguém se forma como leitor se não tiver como objectivo maior nessa função o autoconhecimento, que é aquilo que nos individualiza verdadeiramente e aquilo que define a nossa identidade. Aprender a ler e a escrever bem através da literatura é um caminho único para a formação pessoal que não se faz apenas por via de um conjunto de competências pré-determinadas que importa treinar. O fragmento 229 do Livro do Desassossego de Bernardo Soares contém uma lição importante sobre o significado da leitura e o modo como a podemos executar: “Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo.” O caminho apontado pelas anteriores metas de aprendizagem, para a Língua Portuguesa, ilustrava a metodologia inversa da complexidade na erudição e esse seria sempre o pior modo de ler bem, nunca ser profundo e, assim, nunca chegar a conhecer bem quem somos.
O novo documento promove uma "educação literária", não tem medo de a assumir e isso é já por si uma revolução que importa aplaudir.»