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13 de setembro de 2013

Recomeçando

Outro ano lectivo começa. Abrindo novo ciclo, convidamos à leitura de Trindade Coelho, um dos mestres do conto rústico português. Retirámos de Os meus Amores, colectânea que reune um conjunto de contos cheios de reminiscências da infância do autor, vivida em Trás-os-Montes, esta parábola que celebra a união de esforços e a colaboração entre os seres humanos. Que nos inspire neste novo ciclo. 
Parábola dos sete vimes

   Era uma vez um pai que tinha sete filhos. Quando estava para morrer, chamou-os todos sete, e disse-lhes assim:  
   – Filhos, já sei que não posso durar muito; mas antes de morrer, quero que cada um de vós me vá buscar um vime seco e mo traga aqui.
   – Eu também? – perguntou o mais pequeno, que tinha só quatro anos. O mais velho tinha vinte e cinco e era um rapaz muito reforçado e o mais valente da freguesia. 
   – Tu também – respondeu o pai ao mais pequeno. 
   Saíram os sete; e daí a pouco tornaram a voltar, trazendo cada um seu vime seco. O pai pegou no vime que trouxe o filho mais velho e entregou-o ao mais novinho, dizendo-lhe: 
   – Parte esse vime. 
   O pequeno partiu o vime, e não lhe custou nada a partir. Depois, o pai entregou outro ao mesmo filho mais novo e disse-lhe:
      – Agora parte também esse. 
     O pequeno partiu-o; e partiu, um a um, todos os outros, que o pai lhe foi entregando, e não lhe custou nada parti-los todos. Partindo o último,  o pai disse outra vez aos filhos: 
   – Agora ide procurar outro vime e trazei-mo.
   Os filhos tornaram a sair e daí a pouco estavam outra vez ao pé do pai, cada um com o seu vime. 
   – Agora dai-mos cá - disse o pai. E dos vimes todos fez um feixe, atando-os com um vincelho. E, voltando-se para o filho mais velho, disse-lhe assim: 
   – Toma este feixe! Parte-o! O filho empregou quanta força tinha, mas não foi capaz de partir o feixe. 
   – Não podes? – perguntou ele ao filho.
   – Não, meu pai, não posso.
   – E algum de vós é capaz de o partir? Experimentai.
   Não foi nenhum capaz de o partir, nem dois juntos, nem três, nem todos juntos. O pai disse-lhes então:
   – Meus filhos, o mais pequenino de vós partiu, sem lhe custar nada, todos os vimes, enquanto os partiu um por um; e o mais velho de vós não pode parti-los todos juntos; nem vós, todos juntos, fostes capazes de partir o feixe. Pois bem, lembrai-vos disto e do que vos vou dizer: enquanto vós todos estiverdes unidos, como irmãos que sois, ninguém zombará de vós, nem vos fará mal, ou vencerá. Mas logo que vos separeis, ou reine entre vós a desunião, facilmente sereis vencidos. 
   Acabou de dizer isto e morreu – e os filhos foram muito felizes, porque viveram sempre em boa irmandade ajudando-se sempre uns aos outros; e como não houve forças que os desunissem, também nunca houve forças que os vencessem.


Trindade Coelho, Os Meus Amores