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5 de maio de 2021

Verdes são os campos

Celebrando o Dia da Língua Portuguesa, um poema de Camões por José Afonso e Uxía.


 

10 de junho de 2019

10 DE JUNHO



No seu dia, Camões, falando de si próprio:

154
...
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.


155
Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada.
...

                                 Os Lusíadas, Canto X

10 de junho de 2018

Camões, no seu dia...



... interpretado por José Mário Branco:


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

                          Luís de Camões

13 de junho de 2017

CAMÕES DE VOLTA

Painel de azulejos, Júlio Pomar, 1926 - Museu Nacional do Azulejo
Estava eu muito descansada a comer no McDonalds e a pensar quem seria a próxima “vítima” que iria entrevistar, quando me deparei com algo extraordinário : um senhor a citar versos d’Os Lusíadas. Mas citava de tal forma, como se os tivesse escrito ou tivesse estado presente naquela época. Já tinha visto aquela cara nalgum lado… Então apercebi-me, era Luís de Camões! No século XXI! Fui ter com ele, claro! O Poeta disponibilizou-se a responder a umas perguntas.

AL-Como considera que os portugueses o veem ou o que acha que eles pensam de si?
LC-”Julga-me a gente toda por perdido.”

AL- Não considera que tenha havido alguma evolução quanto ao reconhecimento dos portugueses face às letras e às artes?
LC-”quem não sabe a arte, não na estima.”

AL- Escreveu muitos poemas de amor. Considera-se um apaixonado?
LC-” está no pensamento como ideia :/e o vivo e puro amor de que sou feito.”

AL- Se tivesse de resumir os seus poemas amorosos, como o faria? O que é para si o amor?
LC-”Amor é fogo que arde sem se ver”

AL- Como é para si a mulher ideal?
LC- ”linda e pura semideia.”

AL- Já deve estar a par das ”modernices” deste século. As pessoas sentem cada vez mais a influência das tecnologias, nas suas vidas. Decerto que se ficasse aqui mais tempo seriam muitas as selfies que lhe pediriam para tirar. O que acha disso?
LC- ”Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

AL - É pela vontade ou pela necessidade das pessoas quererem valorizar o seu trabalho que criaram, no dia de hoje, 10 de junho, um feriado nacional conhecido como “Dia de Camões e das Comunidades”. Como se sente acerca disso?
LC- “Quão doce é o louvor e a justa glória/Dos próprios feitos, quando são soados!”

E terminei assim a minha entrevista, mas posso dizer que a conversa não ficou por aqui, pois eu fiz questão de que Luís de Camões comesse um hambúrguer comigo. E o resto, o resto é história!...

Alice Luís 10ºD

10 de junho de 2017

Entrevista inesperada a Luís de Camões

Camões, pintura de José Malhoa
No contexto do dia 10 de junho, no qual se celebra o dia de Camões e de Portugal, decidi entrevistar o próprio Luís Vaz de Camões. Confesso que no início não sabia como “contactá-lo” e até já tinha perguntado a algumas pessoas como haveria de o fazer. Como continuava sem resposta, comecei a pensar em desistir. Até que um dia, ao chegar a casa, deitei-me na minha cama, a pensar numa solução, e acabei por adormecer. Qual não foi o meu espanto, quando Luís de Camões me apareceu em sonhos. Estava à minha janela, a chamar pelo meu nome e, quando apareci, disse-me: “Bela dama, soube que me queríeis entrevistar. Aqui me tendes.” Deixei-o entrar e comecei a entrevista.

Boa tarde. Fico feliz por tê-lo aqui, finalmente. Já não tinha esperança de que a nossa entrevista pudesse vir a acontecer...
Vós, Senhora, tudo tendes, senão que tendes os olhos verdes.

É de conhecimento público a sua admiração pela figura feminina. Como está a sua vida amorosa neste momento?
Aquela cativa, que me tem cativo, porque nela vivo já não quer que viva.

Como é ela? 

Rosto singular, olhos sossegados, pretos e cansados, mas não de matar.

Qual foi a coisa mais romântica que já lhe disse?
“Pede o desejo, Dama, que vos veja”.

Como é sentir-se apaixonado?
É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade.

E o Amor? O que é para si o Amor?
Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.

Como seria o seu lugar paradisíaco?
Alegres campos, verdes arvoredos, claras e frescas águas de cristal. O céu, a terra, o vento sossegado... As ondas, que se estendem pela areia... Os peixes, que no mar o sono enfreia... O noturno silêncio repousado...

Quando é que se apercebeu do seu gosto pela poesia?
Foi naquela triste e leda madrugada, cheia toda de mágoa e de piedade.

O que acha de se celebrar o dia 10 de junho em sua honra?
Enquanto houver no mundo saudade quero que seja sempre celebrado.

Qual foi o principal motivo para os seus desterros?
Erros meus, má fortuna, amor ardente...

Onde viveu durante a maior parte da sua infância?
Junto de um seco, fero e estéril monte, inútil e despido, calvo, informe, da natureza em tudo aborrecido, onde nem ave voa, ou fera dorme, nem rio claro corre, ou ferve fonte, nem verde ramo faz doce ruído.

O que acha dos tempos atuais?
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.

Como resumiria a sua vida?
Erros meus, má fortuna, amor ardente...

Obrigada pela sua disponibilidade. Espero voltar a vê-lo um dia. 

E foi assim que acabou a nossa entrevista. Depois da minha última frase, e antes que Luís de Camões pudesse dar-me qualquer resposta, acordei. Levantei-me e apontei toda a entrevista num caderno que tinha aberto em cima da minha secretária.

Mariana Pereira Paulo, 10º D

17 de março de 2014

Humanismo e universalismo d'Os Lusíadas

     
A vertente humanista e universalista d’Os Lusíadas está presente na fé depositada nas capacidades do Homem para superar os seus limites. Apesar de ser um louvor centrado nos portugueses, a epopeia de Camões enaltece o ser humano em geral e a sua capacidade de se transcender.

De facto, o Poeta propõe um modelo de herói – o Homem perfeito, aquele que reúne qualidades como a coragem física e que supera as adversidades que enfrenta. Mas o poeta realça que não são apenas força, coragem e espírito de sacrifício que fazem o herói, pois os padrões éticos, o amor ao bem comum, o conhecimento e a cultura têm um papel importantíssimo no que toca a alcançar um nível superior de humanidade.

Assim, ao longo da epopeia, nas considerações que tece, Camões ensina-nos a tornarmo-nos mais humanos. É o caso do Canto VI, em que aponta o que não devemos fazer nem ser. Não devemos, por exemplo, aproveitar-nos dos feitos de outros, pois a fama e a glória só são válidas se formos nós a conquistá-las, humildemente. Com efeito, não são os que nascem socialmente privilegiados que se consagram heróis, mas sim aqueles que lutam e que, apesar de todas as adversidades, nunca desistem.

Também no canto V o Poeta nos apresenta a sua ideologia de herói. Um herói tem de ser culto, interessar-sepelas artes e pela literatura – quebrar limites geográficos não basta, o Homem necessita de alargar também a dimensão cultural.

Em suma, a visão humanista e universal do Homem está bem presente n’ Os Lusíadas. Camões pretende que não só o rei D. Sebastião (a quem dedicou a epopeia), mas todos os homens da sua época e de épocas futuras se tornem maiores, mais humanos.
Inês Penas, 12º A

24 de fevereiro de 2014

Canção IX

A Canção IX, de Camões, dita por Luís Miguel Cintra com uma sobriedade exemplar que torna ainda mais comovente este poema ímpar.



Canção IX

Junto de um seco, fero e estéril monte,
inútil e despido, calvo, informe,
da natureza em tudo aborrecido;
onde nem ave voa, ou fera dorme,
nem rio claro corre, ou ferve fonte,
nem verde ramo faz doce ruído;
cujo nome, do vulgo introduzido
é felix, por antífrase, infelice;
o qual a Natureza
situou junto à parte
onde um braço de mar alto reparte
Abássia, da arábica aspereza,
onde fundada já foi Berenice,
ficando a parte donde
o sol que nele ferve se lhe esconde;

nele aparece o Cabo com que a costa
africana, que vem do Austro correndo,
limite faz, Arómata chamado
(Arómata outro tempo, que, volvendo
os céus, a ruda língua mal composta,
dos próprios outro nome lhe tem dado).
Aqui, no mar, que quer apressurado
entrar pela garganta deste braço,
me trouxe um tempo e teve
minha fera ventura.
Aqui, nesta remota, áspera e dura
parte do mundo, quis que a vida breve
também de si deixasse um breve espaço,
porque ficasse a vida
pelo mundo em pedaços repartida.

Aqui me achei gastando uns tristes dias,
tristes, forçados, maus e solitários,
trabalhosos, de dor e d'ira cheios,
não tendo tão somente por contrários
a vida, o sol ardente e águas frias,
os ares grossos, férvidos e feios,
mas os meus pensamentos, que são meios
para enganar a própria natureza,
também vi contra mi
trazendo-me à memória
algüa já passada e breve glória,
que eu já no mundo vi, quando vivi,
por me dobrar dos males a aspereza,
por me mostrar que havia
no mundo muitas horas de alegria.

Aqui estiv'eu co estes pensamentos
gastando o tempo e a vida; os quais tão alto
me subiam nas asas, que cala
(e vede se seria leve o salto!)
de sonhados e vãos contentamentos
em desesperação de ver um dia.
Aqui o imaginar se convertia
num súbito chorar, e nuns suspiros
que rompiam os ares.
Aqui, a alma cativa,
chagada toda, estava em carne viva,
de dores rodeada e de pesares,
desamparada e descoberta aos tiros
da soberba Fortuna;
soberba, inexorável e importuna.

Não tinha parte donde se deitasse,
nem esperança algüa onde a cabeça
um pouco reclinasse, por descanso.
Todo lhe he dor e causa que padeça,
mas que pereça não, porque passasse
o que quis o Destino nunca manso.
Oh! que este irado mar, gritando, amanso!
Estes ventos da voz importunados,
parece que se enfreiam!
Somente o Céu severo,
as Estrelas e o Fado sempre fero,
com meu perpétuo dano se recreiam,
mostrando-se potentes e indignados
contra um corpo terreno,
bicho da terra vil e tão pequeno.

Se de tantos trabalhos só tirasse
saber inda por certo que algu'hora
lembrava a uns claros olhos que já vi;
e se esta triste voz, rompendo fora,
as orelhas angélicas tocasse
daquela em cujo riso já vivi;
a qual, tornada um pouco sobre si,
revolvendo na mente pressurosa
os tempos já passados
de meus doces errores,
de meus suaves males e furores,
por ela padecidos e buscados,
tornada (inda que tarde) piadosa,
um pouco lhe pesasse
e consigo por dura se julgasse;

isto só que soubesse, me seria
descanso para a vida que me fica;
co isto afagaria o sofrimento.
Ah! Senhora, Senhora, que tão rica
estais, que cá tão longe, de alegria,
me sustentais cum doce fingimento!
Em vos afigurando o pensamento,
foge todo o trabalho e toda a pena.
Só com vossas lembranças
me acho seguro e forte
contra o rosto feroz da fera Morte,
e logo se me ajuntam esperanças
com que a fronte, tornada mais serena,
torna os tormentos graves
em saudades brandas e suaves.

Aqui co elas fico, perguntando
aos ventos amorosos, que respiram
da parte donde estais, por vós, Senhora;
às aves que ali voam, se vos viram,
que fazíeis, que estáveis praticando,
onde, como, com quem, que dia e que hora.
Ali a vida cansada, que melhora,
toma novos espritos , com que vença
a Fortuna e Trabalho,
só por tornar a vervos ,
só por ir a servir-vos e querer-vos.
Diz-me o Tempo, que a tudo dará talho;
mas o Desejo ardente, que detença
nunca sofreu, sem tento
m'abre as chagas de novo ao sofrimento.

Assi vivo; e se alguém te perguntasse,
Canção, como não mouro,
podes-lhe responder que porque mouro.


10 de junho de 2013

Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades




 

Verdes são os campos
de cor de limão: 
assim são os olhos 
do meu coração.

Campo, que te estendes 
com verdura bela; 
ovelhas, que nela 
vosso pasto tendes, 
de ervas vos mantendes 
que traz o Verão, 
e eu das lembranças 
do meu coração.

Gados que pasceis 
com contentamento, 
vosso mantimento 
não no entendereis; 
isso que comeis 
não são ervas, não: 
são graças dos olhos 
do meu coração.

 Luís de Camões