25 de fevereiro de 2017

A propósito das obras e autores que vamos estudando

Maria Helena Vieira da Silva, Biblioteca
Que temos grandes escritores - tantas vezes lidos a contragosto pelos nossos alunos - sabemos bem que sim. E quando, rompendo a barreira da hegemonia cultural anglo-saxónica, chegam ao estrangeiro, o deslumbramento que despertam deveria tornar-nos a todos, se outras razões não houvesse, mais disponíveis a lê-los, a ser-lhes gratos e a não permitir que caíssem no esquecimento. 

Ora vejamos estes excertos de uma entrevista de Eugénio Lisboa, um dos nossos melhores ensaístas, acerca disto mesmo:

«[No mundo lusófono ainda] não temos força económica para nos tornarmos apetecíveis. Mesmo assim é impressionante as vias que temos aberto. Nomes como o Fernando Pessoa... embora a meu ver seja conhecido não da maneira adequada, mas é conhecido. 

O Eça de Queirós... Quando estive em Londres fiz uma reedição d’Os Maias e a crítica inglesa postou-se de cócoras perante a grandeza do livro. Simplesmente, são grandes clássicos que impressionam o mercado durante um determinado período e depois eles esquecem-se deles. Tem de se voltar a acordá-los daí a 20 ou 30 anos. A primeira vez que Os Maias abriram brechas no imaginário anglo-saxónico foi, salvo erro, em 1965, quando foram traduzidos pela primeira vez, e o livro esteve na lista de bestsellers da Time Magazine durante semanas e semanas. Os fulanos diziam que para se encontrar universos comparáveis é preciso recorrer a Stendhal e Tolstói. Mas passados dois, três anos esquecem-se.

(...) Quando "A Ilustre Casa de Ramires" [romance de Eça] foi reeditado, o crítico literário Jonathan Keats, no Observer, salvo erro, perdeu literalmente a cabeça com o livro. Ele dizia que se o Flaubert precisasse de matar a mãe para escrever um livro como aquele, o faria.»
Eugénio Lisboa em entrevista a Diogo Vaz Pinto, publicada no Jornal I em 25/02/2017

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