21 de fevereiro de 2017

A MIM

Fernando Pessoa continua a interpelar os jovens leitores da nossa escola, como nos mostra este poema do Rafael.

Paul Klee (1916)


Ai que rima faço eu mal
Por rimar sem rimar!
Se alguém que por natural rimasse
A mim me deixasse embalar…
E ainda há quem diga
que a rimar se pinta a vida.

Nem pincel nem cordel,
Nem coisa alguma que seja,
Senão sempre o mesmo Norte,
Mas sem força guerreira que aponte
Esse Norte para cima,
Só a força humana,
Só o caminho da vida,
E num piscar de olhos –
Sul!

Ai! Que coisa!
Vontade Humana?
Ai! Que coisa!
Que tempos vivo, feliz,
E ser hoje feliz
É ter sido ontem esmagado.
E o ontem sendo um hoje
Queria eu não tê-lo feito.
Estúpida vontade humana,
Pensar que sabe onde é o Norte.

Alberto Caeiro rimava sem rimar
E eu sem rimar rimo.
Sei lá que figura de estilo,
Eu uso o que costumo:

Nem métrica nem versismo,
Neologismos e o que esteja a pensar.
Meio Caeiro meio vinte e um, (sismo!)
Que de tremer, este século
Me está a desnortear.

Ah! Porque escrevo nem eu sei
O que escrevo só eu sei.
Poder ser poeta e fingir
E fazer alguém sentir que fingiu.
Mas sou um reles inventor.

Nem mitologias gregas,
Como dos outros de que ele se fingiu,
Nem rima com rima,
Nem rima sem rimar.

E depois,
Perdido na modernidade, olho.
O que mudou?

Lembra-te da cena de amanhã,
Imagina, (perspetiva), a cena de ontem.
(Que mundo?)
(Que Norte?)

A cada guinada sinto,
Sinto o vento que passa,
E vejo na rua o novo
(eis, mais).

Também que queríeis, oh?
Sempre o mesmo?

A andar ou a correr
Todos lá iremos ter.
Lá isso é verdade,
E não há quem negue o facto.

Tu que estás aí esparramado
Levanta-te, que não és farrapo,
Mexe-te, faz-te à vida.
Mas não mandes no Norte!
Nem tão pouco na Sorte,
Nem no Mundo,
Nem no natural,
Nem no abstrato,
Nem no mais pormenorizado retrato,
De ti.

Arte é não saber onde fica o Norte
E nunca estar desnorteado.

Não dê eu tudo por perdido,
Por poeta não ser,
Mas um coração ter
Que te acompanhe

Nessa tua vidinha…

Rafael Sousa, 12º B

1 comentário:

Soledade disse...

Gostei de ler, Rafael. E não há mais poemas no teu "baú" ? :-)