12 de dezembro de 2016

DA FELICIDADE

Quarteto Feliz (1901), pintura de Henri Rousseau
Uma bela reflexão acerca da felicidade - e de lugares comuns com ela relacionados - desencadeada pela leitura de alguns poemas de Fernando Pessoa.

Em várias ocasiões ouço pessoas a aconselhar os mais novos a aproveitar a juventude, já que neste período da nossa vida não temos grandes preocupações e dispomos, de certa forma, de mais liberdade. Em suma, somos mais felizes. Mas poderemos assumir que uma posição tão universal está realmente correta, particularmente quando tem um carácter aparentemente tão subjectivo? Convido-vos a juntarem-se a mim para analisarmos melhor esta questão.

Apesar da maneira como fiz a pergunta, dando uma sensação de mistério, estou certo de que muitas pessoas não hesitariam em responder que sim, é a sua opinião superficial que interessa, sem tentarem sequer fazer uma análise mais profunda. Infelizmente, é assim o mundo em que vivemos. No entanto, reparemos que utilizei o advérbio “aparentemente”, em relação ao carácter subjectivo que referi, com uma boa razão, e não apenas para denunciar a falta de sentido crítico das pessoas. Acredito que podemos mostrar que talvez não seja tão óbvia a distinção da juventude como a etapa mais feliz que vivemos. Como? Comecemos então por definir “felicidade”, ou pelo menos fazer uma tentativa.

É fácil perceber que uma pessoa está feliz se estiver satisfeita, ou mesmo a divertir-se. Até aqui, a juventude continua bastante apelativa, mas julgo que não podemos limitar a felicidade a isto, pois tem uma complexidade muito superior. Posso afirmar com um grande nível de confiança que a nossa capacidade de nos sentirmos felizes está directamente relacionada com o nosso desenvolvimento cognitivo, ou, usando outro termo, com a nossa racionalidade. É aqui que podemos reverter a situação, dado que as crianças, de facto, mais facilmente se encontram divertidas e despreocupadas, mas, por outro lado, não lidam com emoções tão fortes como as pessoas completamente desenvolvidas, podendo ser uma delas a própria felicidade. 

Podemos verificar a nossa teoria levando-a a um extremo, com o exemplo dos insectos. São seres com um desenvolvimento cognitivo mínimo e, por conseguinte, não são emocionalmente afectados como nós, humanos. Pelo menos, tanto quanto sabemos, nunca nenhum dos saltos dos gafanhotos foi causado pelo facto de o sujeito se encontrar feliz. Mesmo no caso dos gatos, é difícil estarem satisfeitos com algo que o seu instinto não deseje.

Podemos então concluir que mesmo algo como a felicidade pessoal não é assim tão subjetiva. Aliás, a nossa pessoa pode mudar tanto que se torna difícil relacionar estes sentimentos ao longo do tempo. Talvez a inveja de Pessoa afinal não tenha um bom fundamento…
Alexandre Pinho, 12.º B

1 comentário:

Soledade disse...

Muito bem, Alexandre!