7 de junho de 2015

Passe de calcanhar

Homens e mulheres andavam felizes e contentes pelos prados e viviam em paz, até que um dia tiveram frio. Desde então, começaram com a mania da propriedade e mudaram-se para as cavernas, onde os homens deixavam as mulheres a cuidar das crias enquanto iam caçar. Como os homens são seres naturalmente singelos, confundiram tudo e ganharam a outra mania que viria a desencaminhar a humanidade, a mania de que as mulheres são objectos de parir e de servir.

O mundo foi girando e, no século XX, três Marias emancipadas pegaram em si e na sua emancipação e escreveram um livro epistolar sobre o amor, desta vez sob a perspectiva feminina. Sentiram-se “menos desamparadas”, confessaram. Talvez por se subtraírem ao amparo do Estado Novo e experimentarem a liberdade de quem pensa. E assim, as Novas Cartas Portuguesas foram um escândalo e uma heresia, nomes que os ditadores chamam ao inconformismo e, muitas vezes, à plenitude artística.

Na obra, a mulher difere mais da casa do que o que é costume, ela pensa, ela fala, ela sente. Ela não é uma parideira, ela quer prazer sexual. Ela não é uma escrava, ela quer serviço mútuo. Ela não é frágil, ela é humana… e revela a humanidade do homem.

Mas depois de desvendar a fragilidade e o marialvismo masculino, ela ama-o, ela quere-o, ela deseja-o. A mulher, forte, encontra no homem a sua fraqueza, no amor o seu “calcanhar de Aquiles”. Vejamos o Aquiles a virar Ronaldinho e a dar toques no jogo do amor, porque a mulher não é uma casa ou uma consola, é uma jogadora, e uma jogadora à altura.

Beatriz Lourenço, 12º E, Clássicos da Literatura

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